Saiu a parte final, que analisa rodagem, remontoir, ponteiros e balanço. Confesso que achei difícil compreender o funcionamento dos componentes através das explicações, que não são "passo a passo". Mas vale pelas fotos.
As molas não foram feitas por métodos tradicionais, mas CNC. Lembrem-se que a metalurgia de molas no passado era uma das coisas mais complexas que existia, tanto que uma arte separada na relojoaria. Nunca saberemos se Harrison fez ele próprio as molas ou terceirizou o trampo. Fato é que a Frodsham as fez em CNC.
O correto torque do relógio depende do funcionamento conjunto de quatro molas: a principal, a espiral, a do remontoir e do mecanismo de corda constante. Qual o problema? Como tudo que Harrison fazia, um pouco complicado... Qualquer variação de tensão em uma das molas afetava todo mecanismo e a marcha do relógio. E não há método para ajustar separadamente uma das molas, os ajustes são feitos por tentativa e erro e... DESMONTANDO TODO O MECANISMO CADA VEZ! Se o povo da Frodsham achou isso um tormento, usando Vibrographs eletrônicos da Witschi, imaginem Harrison no passado. "Olha, há um errinho de marcha!" Desmontava todo mecanismo, remontava, confrontava o troço com um regulador padrão e... Esperava um dia para ver a marcha. Não é de se estranhar que, mesmo depois de construído, o AJUSTE do troço tenha demorado tanto...
O balanço, por sua vez, não tem regulador, apesar de existir um índex na platina. Os reguladores eram padrão nos relógio "verge" da época, mas Harrison não utilizou um: o disco presente na platina é não funcional, certamente foi deixado lá por Harrison porque alguma versão anterior do relógio possuía regulador, que foi abandonado com o tempo. O aparato, pois, é free sprung. Mas vocês acham que um free sprung com ajuste de momento de inércia no balanço, como os atuais Patek (Giromax) ou Rolex (Microstella)? Claro que não... Para variar, Harrison usou um método complexo. O balanço era feito um pouquinho mais espesso do que previsto e, então, SE RETIRAVA MATERIAL DELE, raspando-o, até se atingir a frequência desejada, que é de 18 mil batimentos, muito rápida para a época.
Os ajustes finos de marcha eram feito alterando-se o ponto de contato da mola espiral com o pitón.
O relógio, depois dos ajustes, foi trazido a uma marcha diária de +2 pela Frodsham e, testado por 9 dias, permaneceu nessa marcha. Detalhe: a Frodsham não o ajustou para temperatura o que, segundo Rupert Gould na obra the Marine Chronometer, foi algo que lhe deu nos nervos.
Derek Pratt e Frodsham ficaram marcados na platina ao lado do nome de Harrison, de forma bem sutil. Vejam:
http://quillandpad.com/2017/01/11/making-escapement-remontoir-timing-derek-pratts-reconstruction-john-harrisons-h4-worlds-first-precision-marine-chronometer-part-3-3/