EPISÓDIO I
Você sabe que algo é FODA (pedindo escusas pelo uso da expressão às raríssimas senhoras e senhoritas que frequentam o fórum) quando alguns dos maiores nomes da literatura mundial, em todos os tempos, fazem referência ao algo foda em seus livros. É o caso dos relógios Breguet.
Inicio a série de cinco "episódios" com um excerto do famoso Conde de Monte Cristo (1845), de Alexandre Dumas.
"O relógio de Danglars, uma obra-prima de Breguet à qual ele havia dado corda gentilmente antes de acertá-lo no dia anterior, tocou cinco e trinta da manhã."
É óbvia a referência a um repeater, produto digno, ainda hoje, das melhores casas da alta relojoaria. 8)
O repeater não funciona apenas se acionado manualmente? ???
Me parece mais o caso de um alarme. Ele "tocou cinco e trinta da manhã", o relógio sozinho, sem acionamento manual.
Como eu não conheço muito dos relógios do Breguet, não sei se ele fez, ou se já existiam alarmes. Boa hora pra aprender :D
e aí? viajei muito ou não?
Abraços.
Ele tocou após acionado, acionamento que estaria implícito.
Existem Fusees tipo Verge alarme bastante antigos...em 1770 já faziam. Já vi alguns. Se bobear existem até mais antigos.
Aqui temos um Breguet repetidor alarme:
http://www.ebay.com/itm/WOW-Mega-rare-antique-silver-Breguet-et-Fils-Verge-Fusee-ALARM-repeater-watch-/230841456401
Esse eu arrisco dizer que pode ser de meados de 1820.
Citação de: mmmcosta online 20 Novembro 2012 às 17:46:19
Ele tocou após acionado, acionamento que estaria implícito.
é, você esta correto. "O relógio tocou cinco e trinta" e não AS cinco e trinta..... ok, eu me corrijo =D
Mas olha, já apareceu um repeater e alarme ;D, deu certo, de uma certa forma kkk
Salve!
Muito bom, Marcelo! 8)
Eu espero que este papo vá longe.
E desde já eu aguardo mais "episódios" contributivos, seus e dos amigos. ;)
Valeu pelo tópico. Legal!
Abraços a todos,
Alberto
My pleasure, Alberto. ;D
Citação de: mmmcosta online 20 Novembro 2012 às 19:24:04
My pleasure, Alberto. ;D
Será que a Casa Breguet pagou Jabá? ;D ;D ;D
;D ;D ;D
Ou, com parece ser a moda...
Será que ele iria dar uma de "embaixador"? ::)
Bem,...
Eu não creio!
A coisa aqui é séria. ;)
8)
Abraços,
Alberto
O mundo sempre foi igual.
Mas a Breguet me fez seu fã... eles eram bastante avançados em conceito e design para a época.
Criaram bastante coisa.
Vejam que interessante:
Fiz no PuristS o questionamento, fazendo referência ao excerto, acerca se, de fato, tratar-se-ia de um repetidor.
O membro A (aaronm), informa o original em francês da passagem, que fala em obra-prima (negrito) e corresponde ao que se encontra traduzido para o inglês no catálogo da Breguet, "fonte" de minha pesquisa para a já aclamada 8) série:
"La montre de Danglars, chef-d'œuvre de Bréguet, qu'il avait remontée..."
Fonte: http://www.gutenberg.org/files/17992/17992-h/17992-h
Mas nesta tradução para o inglês o tradutor, aparentemente, usou de certa liberdade para denominá-lo, conforme nossas suspeitas, como um repetidor (negrito):
"Danglars' watch, one of Breguet's repeaters, which he had carefully wound up..."
Fonte: http://www.online-literature.com/dumas/cristo/115/
Gostei! ;D
Muito legal o assunto, e o post esta ótimo, com pesquisas de literatura interessantíssimoas.
Parabéns aos colegas,
Abs
Como já disse alhures, os relógios com repetição não eram incomuns na época, até mesmo porque as condições de luz eram parcas. Estou digitando de memória e teria que conferir meus alfarrábios, mas tenho certeza que já antes de 1780 Breguet fazia repetidores. Utilizou, também, no início da carreira, relógios com escapamento de "vareta" (ou verge) e caracol (fusee). Abandonou-os logo no início da carreira em prol dos aperfeiçoados de cilindro com rubis e, também, âncora, já que era muito amigo do Johh Arnold. Eventualmente usou até o final da carreira, MAS MUITO EVENTUALMENTE MESMO, ebauches ingleses com caracol e vareta. Como disse, Breguet tinha um padrão, mas todos os relógios não eram feitos por ele e não intercambiáveis entre si.
Posso afirmar sem ao menos consultar fontes que 99% (no sentido de maioria absoluta) dos relógios dele - acreditem se quiser - eram repetidores.
As assinaturas mudaram com o tempo e a Breguet e Fils está no início dos anos de 1800. Mas ele usou poucos, muito poucos mesmo, relógios com verge nessa época.
Seus ponteiros, porém, conquanto tenham mudado de estilo 3 vezes, seguiam o mesmo padrão, conhecido até hoje.
Dito isso, posso afirmar o seguinte: quando a esmola é demais, o santo desconfia. O relógio mostrado no Ebay não tem o estilo Breguet. A assinatura Breguet e Fils existiu, mas teria que comparar com um padrão para ver se é autêntica. No entanto, a assinatura no ebauche não é padrão de Breguet, ele não usava essas letras. O estilo do relógio, por sua vez, é bem pobre para ser um Breguet.
Mesmo sem consultar minhas fontes, escrevendo de memória, posso afirmar com quase certeza absoluta que o relógio é uma cópia. Gente, tenham em mente que em vida só saíram da manufatura de Breguet 4500 relógios, QUASE TODOS catalogados (só não eram catalogados os feitos sob licença. Sim, Breguet tinha isso...). E na época de Breguet ele já era bem conhecido, como os usuários e o próprio texto denota.
Vocês acham que ele era um cara que tinha seus relógios muito ou pouco falsificados? Pois é...
Flávio
A minha pergunta inicial foi porque não li o livro :-[ e apenas essa passagem não me dizia se ele estava acordado com o relógio ou este apenas tocou às cinco e meia.
Por isso fiz a pergunta.
Mas é so ver a situação um pouco mais ampla que percebe-se tratar sem dúvidas de um repeater.
Trecho retirado do link já postado!
Hallo, here is my watch! Let me see what time it is." Danglars' watch, one of Breguet's repeaters, which he had carefully wound up on the previous night, struck half past five. Without this, Danglars would have been quite ignorant of the time, for daylight did not reach his cell.
"deixe-me ver que horas são" e "sem isso Danglars não poderia ver as horas, porque a luz do dia não havia chegado à sua cela"
Traduções meia boca ;D
e se é uma falsificação, significa, pelo menos, que Breguet fez relógios com alarme, não?
Abraços,
Rafael.
Tá meia boca não, Rafael. ;)
Quanto ao contexto, eu também o desconhecia, até "trocar ideia" com o os Puristas. 8)
Como reconhecer um Breguet de bolso falso
http://www.breguet.com/How-to-recognize-a-Breguet
De certa forma a informação dos repetidores serem 99% gostaria de ver em alguma fonte.
The Art of Breguet, do Daniels, livro que tenho, já que ele analisou TODOS os Breguet que estavam disponíveis em coleção até 1974, ano da sua publicação. Ele próprio fotografou mais de mil modelos. Há várias passagens e, olhando as especificações de todos os modelos (há um capítulo só para isso, muito chato por sinal), a maioria é repetidor. Mas essa já define a questão: "a maioria dos relógios produzidos por Breguet eram repetidores". Pag 66, The Art Of Breguet, Sotheby´s Publications, first edition 1974, Third impression 1986, George Daniels.
Ah, o primeiro catalogado é de 1783, muito embora Daniels afirme que ele certamente fez modelos antes deste.
Flávio
O interessante dos Verges e que eles dificilmente eram feitos iguais.
São quase todos personalizados ou diferentes....era como uma obra de arte.
Para quem coleciona deve achar interessante, não há iguais.
EPISÓDIO II
Eugene Onegin, de Alexander Pushkin, um dos três maiores nomes, ao lado de Tolstói e Dostoiévski, da fantástica literatura russa:
"Um dândi nos bulevares (...), passeando tranquilamente até que seu Breguet, sempre vigilante, lembre a ele que é meio-dia."
EPISÓDIO III
Eugénie Grandet, de Balzac, o grande dramaturgo francês:
"Ele tirou (do bolso) o mais delicioso e delgado relógio que Breguet já havia feito."
Daí dá pra se ter uma base do quanto um relógio fino já era sinônimo de exclusividade à época (1833). Hoje tem gente que acha bonito andar de terno com relógios que nem cabem debaixo dos punhos das camisas.
Legal demais mmmcosta.
Salve!
Legal, não é mesmo?
E essa da "finura" (ser delgado) é mesmo ótima.
Outros tempos, sem dúvidas!
Aliás, falando da outra "finura" (ou seria "fineza"?), também houve tempo... ::)
...em que consultar um relógio em público era sinal de "grossura" (termo inexato, bem entendido, e dito aqui no sentido de falta de polidez).
Um cavalheiro não o faria.
"Ostentar" então... Nem pensar.
Mas, tempos que já foram...
Portanto sem saudosismos, apenas registros de um passado não tão distante assim.
;)
Abraços,
Alberto
PS:
Eu continuo curtindo muito o tópico, Marcelo!
Li ontem um texto sobre a Piaget e a classe que ainda tentam manter nos seus relógios, como se ainda estivessem nos anos 50/60, quando a busca pela pouca espessura dos relógios era batalha na indústria relojoeira. Com traje esportivo, qualquer relógio cai bem mas... Eu que uso terno todos os dias, afirmo e reafirmo: não fica legal relógio esportivo, grande, etc, com roupa social. Não dá! O texto termina com o exemplo da Zenith que, voltando às raízes clássicas, enterrou para sempre os Defy Extremes.
Flávio
Concordo Flávio.
Pode até não ficar feio, mas não fica elegante.
Abraço. ;)
Citação de: Alberto Ferreira online 23 Novembro 2012 às 12:09:26
Aliás, falando da outra "finura" (ou seria "fineza"?), também houve tempo... ::)
...em que consultar um relógio em público era sinal de "grossura" (termo inexato, bem entendido, e dito aqui no sentido de falta de polidez).
Um cavalheiro não o faria.
Muito interessante, Alberto! Queria compartilhar esta informação no PuristS e/ou Timezone. Tem a referência disso na internet? Pode ser em inglês ou português.
Citação de: mmmcosta online 23 Novembro 2012 às 13:07:16
Citação de: Alberto Ferreira online 23 Novembro 2012 às 12:09:26
Aliás, falando da outra "finura" (ou seria "fineza"?), também houve tempo... ::)
...em que consultar um relógio em público era sinal de "grossura" (termo inexato, bem entendido, e dito aqui no sentido de falta de polidez).
Um cavalheiro não o faria.
Muito interessante, Alberto! Queria compartilhar esta informação no PuristS e/ou Timezone. Tem a referência disso na internet? Pode ser em inglês ou português.
Legal, né?
Pois é...
Tem referência, sim,... Aqui pertinho, no nosso FRM. ;)
;D ;D ;D
E já falamos disso "um par de vezes", veja uma delas ---> http://forum.relogiosmecanicos.com.br/index.php?topic=1802.msg34777#msg34777 (http://forum.relogiosmecanicos.com.br/index.php?topic=1802.msg34777#msg34777)
;)
Mas, referências na NET, na famosa "teia", pode procurar por "
montre à tact", e vai achar...
Tem um mestre relojoeiro dinamarquês, co-fundador da AHCI, que faz relógios
modernos neste conceito (histórico), ele se chama
Svend Andersen. (http://people.timezone.com/library/wbore/wbore631880277237187500 (http://people.timezone.com/library/wbore/wbore631880277237187500) ou... http://www.andersen-geneve.ch/ (http://www.andersen-geneve.ch/)).
Eu o conheci pessoalmente, na decada de 1970, quando morei lá pela Suécia...
Mas,...
Uma ressalva.
Tem muita coisa boa
e verdadeira na "teia"...
Mas há algumas "moscas" também.
Fique atento. ;) 8)
Abraços!
Alberto
É Alberto... Eu bem sabia que as suas opiniões sempre interessantes, bem escritas e bem humoradas eram resultado de certa lapidação. 8)
EPISÓDIO V
A citação "Breguetiana" mais fascinante de todas, por Stendhal, autor do clássico O Vermelho e O Negro:
"Breguet fabrica um relógio que funciona à perfeição por vinte anos, enquanto a lamentável máquina que somos falha e produz dor ao menos uma vez por semana."
Roma, Nápoles e Florença. 1817
HAHAHA!!!
Salve!
Boa mesmo!
Só que tem uma coisa...
Os relógios Breguet funcionam (e "à perfeição") por algo bem além de vinte anos, disso nós sabemos, não é?
E já quanto ao resto...
O Stendhal tem certa razão. ::)
Abraços e grato pela "garimpagem" dos textos.
Alberto
8)
Na verdade não chega a ser uma garimpagem, visto que os textos encontram-se no catálogo da Breguet.
A coisa "pega" na tradução, razão pela qual busquei apoio para um dos textos no PuristS e até comprei um livro de Victor Hugo no Estante Virtual a fim de resolver a tradução do último "episódio", mas não resolveu, pois não encontrei o texto, que voltarei a procurar amanhã. 8)
Citação de: mmmcosta online 05 Dezembro 2012 às 22:26:15
...
A coisa "pega" na tradução, razão pela qual busquei apoio para um dos textos no PuristS e até comprei um livro de Victor Hugo no Estante Virtual a fim de resolver a tradução do último "episódio", mas não resolveu, pois não encontrei o texto, que voltarei a procurar amanhã. 8)
Mas essa é só uma parte da tal "garimpagem"! ;) 8)
Grato por compartilhar.
Vamos aguardar para ver o que o amigo consegue.
Como eu já disse, o tópico é muito interessante, e eu continuo curtindo.
Parabéns!
Alberto
Verdade, Alberto. Garimpei bastante na internet pra descobrir o nome do livro de Victor Hugo, que não é o mesmo que consta do catálogo da Breguet, e na Estante Virtual para encontrar o danado (editado nos anos 1960). ;)
Adorei esse tópico!
Parabéns!