hummmm. automóveis estão fadados ao declínio.
o mercado esgota-se com 2 automóveis em média por residência. em sp, logo chegaremos perto desse índice. esse índice foi o que determinou a crise na indústria automobilística americana. é uma constante econômica.
a indústria tem vendido os carros como quem vende sonho. sonhos que não se realizam. acelerar, fora de autódromos, onde? aqui ferraris andam em primeira e segunda marcha....
com a consolidação dos ascendentes sociais, cai o consumo. estudos sociológios nos anos 90, nos e.u.a., demonstravam que a classe média negra, recém ascendida, gastava muito mais do que a classe média branca, consolidada, em bens de afirmação social: carros, roupas, e relógios vistosos (nada de relógios pouco conhecidos, tinha que ser rolex mesmo pq é marca conhecida...). é o padrão rapper: tênis caro e correntona de ouro.
há um segundo fator: criminalidade. estar dentro do carro aumenta de sobremaneira a possibilidade de sofrer algum crime. lembrando que temos sequestro relâmpagos, mas nenhum sequestro relâmpago registrado de ciclista. não é de se estranhar que antonio bertolucci, presidente do conselho de administração da lorenzetti, preferisse circular pela cidade de bicicleta (até o momento em que o ônibus o matou, na av. sumaré, em sp, esse ano), ehugo penteado, economista-chefe de gestão de recursos do santander, use diariamente uma das suas 3 bicicletas para ir ao banco, gerir cerca de 35 bilhões de reais de clientes.
entre jovens decresce o fascínio pelo automóvel que se via há poucas décadas. há uma percepção generalizada de que pode ser uma ostentação perigosa, um endividamento desnecessário, com sacrifício de outras formas de satisfação de prazeres. em suma, há quem tenha vendido o carro antes que desvalorizasse e tenha gastado em viagens, ou tenha evitado comprar parcelado para não diminuir outros padrões de consumo.
claro, isso não é uniforme e homogêneo. classe média ascendente mantém o fascínio por "máquinas possantes". uma única vez na vida quase fui atropelado por carros caros, realmente caros, uma ferrari e um camaro. estava de bicicleta, mas não na avenida cidade jardim, mas nos confis da avenida aricanduva, lá num dos extremos da zona leste.
quem tem acesso fácil a transporte público com um mínimo de qualidade tem usado menos o carro. aliás, restringir o acesso ao carro é até uma forma de discriminar quem é de fora. há festinhas fechadas na vila madalena onde não se admite que se chegue de carro. é até uma forma de discriminar quem é de fora do bairro, que não possa ir a pé ou de bicicleta.
o fenômeno é mundial. nesse sentido, há um sociólogo americano, benjamin sheppard, que tem feito estudos sobre o assunto.
cresce no mundo globalizado uma classe média mundializada, altero-mundista, que tem gerado mercado pra produtos orgânicos, formas alternativas de turismo (as 3 milhões de visitas mensais ao
www.mochileiros.com - o portal mais anti-cvc da internet em português, comprovam isso), eventos culturais, e formas de consumo alternativas ao padrão visto até agora. são o público dos documentários do michael moore, os participantes da marcha da maconha ou da marcha das putas. são um mercado imenso.
entre essas pessoas, que lotam auditórios para ouvir david byrne (ex-talking heads) falar mal de automóveis, preferem gastar 500 reais mensais em parcelas de passagens de avião e de copra de boas camas, a gastar numa compra de um carro.
essas pessoas, na faixa dos 20 a 30 anos, aumentam em quantidade, paulatinamente (à medida que a escolarização cresce e dissemina-se), e sinalizam uma mudança no padrão de consumo. como já estamos chegando ao limite do uso do automóvel nas cidades, a tendência é em 10 a 20 anos o mercado diminuir. talvez chegaremos a um padrão próximo ao que se vê em muitas cidades européias, onde as pessoas até têm carros, mas não a usam com tanta frequência.