1996
« Online: 27 Novembro 2013 às 15:26:31 »
Houve época em que pensei que boa parte dessa cultura fosse pelo fato de sermos um país jovem (500 anos, convenhamos, não é nada e matéria de humanidade). Ouvi bons argumentos sobre isso, sobretudo de que é preciso que séculos se passem para que uma identidade nacional se forme.
(As unificações da Itália e da Alemanha, por exemplo, não se encaixam neste formato, pois como reinos separados e a liga-los a mesma língua, era natural que se juntassem. Mesmo os EUA seguiram padrão diferente.)
Prosseguindo...
Até que concluí que não era por sermos um país jovem, mas por causa do patrimonialismo que nos corrói. O público é privado - de uns poucos, mas é.
Há empresários, aqui em Brasília, que têm coleções de arte sacra em casa. Como conseguiram isso? Roubo, é claro. Mercado negro. Incluo nesse rol um conhecido deputado federal, cujo apartamento é repleto de estátuas das mais variadas fases do Barroco brasileiro. Ninguém me contou, eu vi.
(Com o pai que tem, que fez de um museu na capital do seu estado um verdadeiro mausoléu pessoal, não seria de se estranhar. Quem ligou os pontos já sabe de quem se trata pai e filho.)
No Brasil, quem pode se serve do estado e suga-o de todas as maneiras. E uma dessas formas é decretar a obsolescência antes do tempo. Os barões ganham duas vezes: primeiro, porque fazer algo novo é sempre caro; e segundo porque de alguma forma vão faturar com o antigo - seja botando abaixo para abrir espaço para uma nova construção, seja na sua revitalização.
Não admira que os organismos de preservação atuem precariamente. São feitos para não funcionar e para encabidar apadrinhados políticos. Os poucos que conhecem do riscado e que trabalham, são esparedados pela falta de recursos.
"Ah, mas a iniciativa privada podia dar uma contribuição maior".
Menos, menos. Leis de incentivo viciaram que deseja investir na recuperação da memória. E o vício, claro, levou à distorção. Hoje, o cara entra com um pedido de renúncia fiscal pela Lei Rouanet no Ministério da Cultura, levanta 100 e investe 30. E faz uma prestação de contas tabajara, que vai e volta, e se perde na burocracia.
Mas, antes disso terminar e com outra razão jurídica, já espetou ou projeto no MinC. Que, naturalmente, será aprovado.