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Três Breguet do Museu Islâmico de Jerusalém serão leiloados

Iniciado por flávio, 25 Setembro 2020 às 11:25:32

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flávio

Deu no Hodinkee

https://www.hodinkee.com/articles/three-breguet-watches-from-the-legendary-david-salomons-collection-sothebys


Não precisa compreender a língua inglesa para perceber o quão a frente do seu tempo estava Breguet, basta prestar atenção às fotos: os designs parecem que não envelheceram e muitos elementos contidos neles são replicados por diversas empresas até hoje. Chamo a atenção para o modelo a ressonância, clara inspiração de Journe nos seus atuais modelos (o acabamento usado, aliás, é inacreditavelmente semelhante, assim como disposição de componentes).

Mas enfim... Eu não apenas replicaria um post do Hodinkee, minha intenção aqui é outra. Uma história...

O David Salomons foi um dos maiores, senão o maior, colecionador de Breguets (e relógios) de todos os tempos. Quando ele faleceu, cogitaram, o que depois realmente fizeram, transferir toda sua coleção para o tal Museu de Arte Islâmica, criado pela sua filha como uma "ponte" entre culturas e sinal de coexistência (pelo menos essa é a história...) entre povos.

Parte da sociedade britânica da época, inclusive George Daniels, foi contra a transferência. Daniels, aliás, sugere em sua biografia que a transferência foi um absurdo, eis que relógios Breguet, produtos europeus, não tinham nada a ver com "arte islâmica".

Ele conta que, logo após a transferência, sendo uma autoridade em Breguets, foi contatado pelo museu para catalogar todos os relógios. Embora não concordando com o local onde estavam, quis aproveitar a proposta para conhecer de perto os relógios e usá-los na própria obra que estava escrevendo, "The Art of Breguet". Então, despencou a Jerusalém para fazer o serviço...

Lá chegando, foi recebido por um relojoeiro armênio chamado Ohannes Makarian, que cuidava da coleção e, nas suas próprias palavras, não confiava na sua pessoa. O tal armênio, então, ficava na "cola" de Daniels enquanto ele analisava os relógios (um trabalho que no total demorou sete anos, incluída a efetiva catalogação e análise escrita de cada relógio, por aí imaginem o tamanho da coleção...), o que Daniels achava deveras irritante. Daniels, então, fingia pedir conselhos a ele e conquistar sua confiança, com o intuito de terminar o serviço o mais rápido possível (Daniels era um ranzinza, como já contei aqui... Isso tem que ser somado à equação).

Alguns meses depois que terminou o serviço... A coleção, inclusive o Maria Antonieta, como já sabem, foi roubada do tal Museu Islâmico. Daniels não perdeu a oportunidade de praguejar: "eu avisei, esses relógios não deveriam ter saído da Inglaterra!"

E algum tempo depois os curadores do museu entraram em contato com ele e pedira-lhe que, sendo quem era e tendo o acesso que tinha, se visse algum relógio da coleção sendo vendido no mercado, imediatamente o avisassem.

Daniels, sendo Daniels, disse o seguinte:

Inicialmente devo dizer que vocês nunca deveriam ter deixado os relógios irem para Israel... Sobre avisá-los, vocês possuem toda catalogação dos relógios, podem fazer isso por conta própria se algum relógio aparecer no mercado... E vou além... Se algum dos relógios aparecer no mercado, o que de fato é possível, irei preferir comprá-lo para minha própria coleção a comunicá-los".

E ponto final. Daniels nunca mais recebeu qualquer comunicação da curadoria do museu ou inventariante dos bens de Salomons.


Flávio



mestreaudi

Muito boa essa história.
Presente no livro sobre sua vida?
Rafael.

flávio


Desotti

Realmente difícil avaliar o que é pior: a transferência dessa coleção tão relevante para um museu que parece não ter relação alguma com a preservação da história da horologia, ou o leilão do que restou dessa coleção após o roubo (o que confirma a primeira afirmação).  ::)

KBM

Ótima história. O Daniels me lembra o Old Scrooge, do Um Conto de Natal. Hahaha

AlexandreMed

Massa a história Flávio!!!! E que ranzinza era o Daniels viu!!! Coitado do Roger Smith, deve ter penado um bocado


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