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As armas das grifes relojoeiras de maior prestígio mundial e de outras gigantes

Iniciado por automatic, 06 Fevereiro 2009 às 11:47:20

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REPORTAGEM REVISTA DINHEIRO DA SEMANA:

http://www.terra.com.br/istoedinheiro/edicoes/591/artigo124405-1.htm


Estilo 
 
Chegou a hora do ajuste
As armas das grifes relojoeiras de maior prestígio mundial e de outras gigantes do luxo para enfrentar a crise econômica

DANIELLE SANCHES, de Genebra




O VENTO FRIO QUE INVADIA as ruas de Genebra, na Suíça, na semana passada, não causou apenas uma sensação térmica abaixo de zero. Ele, de certa forma, esfriou os ânimos dos executivos de algumas das principais grifes de luxo do mundo. Ali, cercados dos mais belos relógios que a tradição de manufaturas suíças pode criar, eles se encontraram no Salão de Alta Relojoaria, promovido pelo grupo Richemont, conglomerado que reúne 18 grifes, como, por exemplo, Montblanc, Cartier, Baume & Mercier e Vacheron Constantin. Todos, sem exceção, tentavam planejar as estratégias para 2009. Uma tarefa ingrata. Depois da crise econômica que varreu as bolsas mundiais e abalou a confiança dos consumidores, os negócios se tornaram incertos. Aos cochichos, a preocupação se espalhava entre os grupos visitantes. Acomodada em um dos sofás espalhados pelo lugar, uma francesa vestida em um terninho cinza impecável e munida de sua bolsa Chanel dizia à companheira: "As pessoas estão com medo de comprar." No canto oposto, um representante japonês comentava com sua conterrânea, uma elegante mulher do alto de seus sapatos Christian Louboutin, que "o salão de 2009 estava vazio em comparação com o de 2008." Oficialmente, as rádios suíças divulgaram que o movimento caiu 7%; a queda, porém, pode ter chegado a 20%.

Nem as mesas ricamente decoradas com arranjos de flores amarilis brancas nem o tradicional champanhe francês Pommery, servido durante todo o evento, foram suficientes para acalentar uma expectativa animadora. Motivo: "a demanda pelos produtos de luxo caiu dramaticamente e o Richemont está enfrentando as mais dura condições de mercado desde a sua formação, há 20 anos", aponta o reporte financeiro publicado no dia 19 de janeiro. Pela primeira vez em muitos anos, as vendas do grupo caíram 7% - de 1,67 bilhão de euros, no último trimestre de 2007, para 1,55 bilhão de euros no mesmo período de 2008.

"Acredito que 2009 será um ano desafiador, já que não sabemos quanto tempo essa crise econômica vai durar", disse à DINHEIRO Lutz Bethge, CEO da Montblanc, durante o salão (leia entrevista abaixo). Ainda é difícil mensurar o verdadeiro impacto no consumo de luxo, mas dá para ter uma boa ideia.

NAS RUAS DE GENEBRA: os consumidores pararam de gastar e as fabricantes de relógios suíços estão focando suas ações nos cortes de custos

De acordo com um estudo da consultoria britânica Bain & Co, o setor movimentará 170 bilhões de euros em 2009, 7% a menos do que em 2008. Os efeitos colaterais já podem ser sentidos em todas as partes.

O valor dos papéis do grupo Louis Vuitton Moët Hennessy (LVMH) caiu 40% em 2008. A Tiffany, tradicional joalheria americana, anunciou que poderá demitir nos Estados Unidos. O mercado americano tem puxado todos os índices para baixo. No fim do ano, a Sacks, cultuada loja de departamentos localiza na Quinta Avenida de Nova York, um dos endereços mais glamourosos do mundo, deixou seu séquito de fãs boquiaberto ao etiquetar produtos com até 70% de desconto. Já a Barney's enviou uma carta aos clientes avisando sobre descontos de até 50%. A preocupação das grifes é que atitudes como essas possam manchar suas reputações. "O que movimenta esse mercado é a exclusividade, por isso é importante mantê-la isso", afirma Adriana Tombolatto, diretora de marketing da Montblanc no Brasil.



O QUE OS CEOS DIZEM

Entre uma apresentação e outra durante o Salão de Alta Relojoaria de Genebra, principal evento da relojoaria mundial que aconteceu na semana passada, o presidente da Cartier, Bernard Fornas, e o CEO da Montblanc, Lutz Bethge, conversaram com a DINHEIRO. Acompanhe:


BERNARD FORNAS: presidente da Cartier diz que a grife reduzirá os investimentos nos EUA
DINHEIRO - Como a Cartier está se preparando para enfrentar a crise?
FORNAS - Nós estamos cortando custos onde e quando podem ser cortados, mas estamos mantendo a nossa estratégia para a marca.

DINHEIRO - E qual seria essa estratégia?
FORNAS - Em países onde os negócios estão ruins, como nos Estados Unidos, nós reduziremos as atividades. Onde os negócios ainda prosperam, como na China e no Oriente Médio, vamos continuar investindo. Como esses mercados têm um desempenho melhor, geram uma espécie de compensação no balanço final da empresa.

DINHEIRO - Mas os investimentos continuarão iguais aos de 2008?
FORNAS - Bem, os negócios vão continuar acontecendo. Talvez não como antes; talvez, sejamos mais moderados, mas certamente é melhor do que apresentar uma queda.

DINHEIRO - O que o Brasil representa para a marca?
FORNAS - É um país muito bom. O único problema é que os impostos são muito altos, o que encarece nosso produto. Isso faz com que muitos brasileiros comprem peças nossas durante suas viagens internacionais.

DINHEIRO - O sr. acha que o mercado de luxo corre risco com a crise?
FORNAS - Pelo contrário. Acredito que com a crise o verdadeiro luxo está de volta e muito forte.


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Enquanto as vendas caem no Ocidente, os países da Ásia surgem como uma aposta promissora. "Estamos reduzindo um pouco nossas operações nos Estados Unidos, mas nossos investimentos na China e no Oriente Médio vão continuar", disse o presidente da Cartier, Bernard Fornas, à DINHEIRO (leia entrevista abaixo). Mas a suposta salvação asiática também requer cautela. Apesar de estar enfrentando de forma mais tranquila as turbulências do mercado, a China já anunciou uma freada brusca em seu crescimento, que ficou em torno de 6,8% nos últimos meses de 2008 - quase a metade do que experimentou em 2007 no mesmo período. Já o Brasil desponta como um porto seguro, pois tem um enorme potencial consumidor e, mesmo com a crise, vai crescer. "Acredito que poderemos ver uma recuperação já no segundo semestre", afirma Silvio Passarelli, diretor do curso MBA Gestão do Luxo da Faap. É o que acredita também Vera Lopes, diretora da associação Luxury Marketing Council no Brasil. "Não vimos ainda nenhuma atitude drástica, então acreditamos que a crise não nos atingiu de forma severa."


LUTZ BETHGE: CEO da Montblanc investirá em produtos atemporais

DINHEIRO - As vendas de artigos de luxo estão caindo desde o fim do ano passado. Como a Montblanc está se preparando para enfrentar essa crise?
BETHGE - Fizemos o que se espera de qualquer empresa: revimos nossos investimentos e cortamos custos.

DINHEIRO - Haverá alguma mudança de estratégia?
BETHGE - Não. É importante manter a estratégia durante esse período de crise. A nossa coleção de relógios Villeret [feita de modo artesanal], por exemplo, será mantida. Por ser exclusiva, com edições limitadas, ela atrai colecionadores. No mercado de luxo, é preciso fazer produtos eternos, atemporais, para permanecer no imaginário das pessoas. E essa é a filosofia da Montblanc.

DINHEIRO - Como o sr. observa o ano de 2009? BETHGE -
Será um ano difícil e desafiador. A crise está aí e é algo que temos que aceitar. O mínimo a ser feito é cortar custos, mas a última coisa que qualquer marca deve fazer é economizar em qualidade e criatividade.

DINHEIRO - O que o Brasil representa para a marca?
BETHGE - É um país muito importante. Nos últimos dois anos, os negócios aumentaram, mas agora temos que ver como será durante a crise. Mas são consumidores muito interessados em nossos produtos. E talvez mais apaixonados (risos).

DINHEIRO - Muitos consumidores estão deixando de comprar porque se sentem constrangidos em adquirir produtos caros, enquanto milhares de pessoas estão perdendo os seus empregos. O sr. acredita que o mercado de luxo corre risco?
BETHGE - As pessoas estão mais cuidadosas com objetos de ostentação e estão em busca de uma elegância mais clássica. Nós já passamos por outras crises antes e acredito que a indústria do luxo vai sobreviver, já que produtos de luxo duram uma vida toda.






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