A história do cronógrafo

[flávio]

Mais um bom artigo em português no Instituto Português de Relojoaria


https://www.institutoportuguesderelojoaria.pt/post/cron%C3%B3grafo-levrette-monopulsante-prata-1900

[Devenalme Sousa]

Massa esse artigo sobre cronógrafos.

Acho que essa é a complicação que mais atrai os entusiastas da horologia. Também é uma das mais falsificadas: o que mais vejo por aí são relógios que imitam cronógrafo, mas cujos ponteiros são fixos. Uma presepada!

Sempre tive uma dúvida em relação aos cronógrafos, mas me esqueço sempre de perguntar: qual a precisão de um cronógrafo mecânico? Como se mede isso?

[flávio]

Um dado. Em regra, um relógio perde amplitude ao ter seu cronógrafo acionado. E perdendo amplitude, teoricamente o balanço percorre arcos mais curtos e o relógio adianta. Porém... Se um relógio costuma manter marcha diária média de, tomando por exemplo os ultra precisos novos Rolex, de cerca de 2 segundos ao dia (eu disse dia), imagine de quanto será a "precisão" (o termo é incorreto) ao se usar o troço por curtos espaços de tempo. Teoricamente muito melhor... Ou seja, um cronógrafo é tão "preciso" quanto preciso é o sistema de contagem de tempo que este possui. Porém, existe uma limitação aí, que é a "visual": a maioria dos cronógrafos do mercado só tem 1/8 marcados no mostrador e alguns, como o El Primo, 1/10. Mas você não consegue enxergar além disso... A não ser, também citando a Zenith, que se crie um contador específico para os décimos... E aí essa limitação visual acaba. Sei lá se era isso que queria saber.

[Devenalme Sousa]

Sim, Flávio. Era exatamente isso. Fiquei matutando aqui sobre a "precisão" do cronógrafo justamente levando em consideração a regularidade de marcha (seria esse o termo correto?) do movimento. Supus exatamente o que vc explicou: que a "precisão" seria proporcional à do movimento como um todo. Mas não tinha certeza.
E também não sabia nem imaginava que a amplitude diminuía ao se acionar o cronógrafo. Por que isso acontece? Seria porque o movimento fica mais "pesado"?
Obrigado

[flávio]

Sim, em termos leigos é isso mas... Mas não ocorre em todo crono. Nos sistemas tradicionais, quando você aciona o botão, uma alavanca é deslocada e "encaixa" uma engrenagem (a engrenagem do cronógrafo) à rodagem do sistema de contagem de tempo e... Então dois sistemas passam a funcionar. Ou seja, você introduz no sistema um novo conjunto de engrenagens que passará a ser impulsionada, e isso "rouba" energia (torque) do relógio, fazendo a amplitude cair. Mas isso só é verdade nos sistemas tradicionais, de embreagem lateral (no qual lateralmente a engrenagem de um sistema se encaixa na outra).

Nos sistemas de embreagem vertical, isso não ocorre, pois os dois sistemas, crono e carga, já está conectados entre si por um eixo vertical, por atrito entre duas engrenagens. Quando acionado o crono, o que acontece é que a roda de um sistema "cai" sobre a outra e é mantida por fricção girando junto. Não há perda considerável de amplitude. Curiosidade: os primeiros Seiko 6139 já usavam isso. Os suíços só muito tempo depois passaram a usar em maior escala o troço, salvo engano nos Piguet 1185, dos anos 90.

[Devenalme Sousa]

Interessante,  Flávio. Agora entendi o que é embreagem vertical.
Antes dos cronógrafos automáticos,  nos cronógrafos manuais já havia a embreagem vertical? Ou foi a Seiko que criou mesmo?

[igorschutz]

Foi a Pierce quem desenvolveu a embreagem vertical.

[flávio]

Como disse o Igor, sim, já existia. A Seiko a usou no primeiro crono automático e desde então. Os suíços, em sua maioria, mantiveram-se fiéis ao mais tradicional, a lateral. Desde o renascimento dos relógios mecânicos nos anos 80, a embreagem vertical ainda tem sido algo de "nicho", muito embora a Rolex, a título de exemplo, a use nos Daytona. Na maioria dos exemplos do mercado, porém, o que existe são embreagens laterais ou pinhões oscilantes (que é mais ou menos o mesmo princípio da engrenagem se deslocando lateralmente, mas aqui o que se mexe é um pinhão, e não exatamente na lateral, mas num plano em ângulo)


Flávio