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o que eh fix o drop? porque eh importante na relojoaria moderna?

Iniciado por awatchmaker, 09 Março 2011 às 03:41:19

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awatchmaker

gostaria de discutir mais exactamente ;Qual o impacto que epilane traz na função dos  componentes quando aplicado? e porque eh tao importante na relojoaria moderna? se tiver alguém que gostaria de participar dar uma explicação para os mais leigos seria muito bom a gente poder saber mais sobre este produto tao caro e tao importante na revisão do nossos relógios. experts, be my guest!!!

flávio

O texto do BHI citado em tópico anterior explica a utilização, no tópico 3, inclusive como aplicar:

http://watchmaking.weebly.com/uploads/1/1/7/9/1179986/the_practical_lubrication_of_clocks_and_watches.pdf


Essa preocupação surgiu com os movimentos modernos hi beat, pois, antigamente, com o padrão da indústria a 18000bph (meu Cricket por exemplo), o normal era a lubrificação da âncora com lubrificantes leves, como o atual 9010 (hoje a lubrificação é feita com graxa, por exemplo, a 941).

Mais antigamente ainda, o problema da dispersão de lubrificantes não era tanto um problema, pois a lubrificação usada era vegetal (azeite, por exemplo). Compostos vegetais não tendem a migrar do local onde foram colocados, enquanto os minerais, justamente pela melhor superfície lubrificante criada, tendiam a migrar.

Duas técnicas, então, já há décadas, foram criadas: o epilame, tratando-se a superfície metálica com um éster (componentes orgânicos entres os quais as gorduras fazem parte), normalmente com tolueno; ou através da alteração do próprio lubrificantes, misturando-se, antigamente, componentes orgânicos e não orgânicos no óleo.

O fixodrop é utilizado no primeiro método e é o produto padrão da Moebius, fabricado pela marca conhecida. Na verdade, epilame não era o método, mas o nome de um produto que diminuía a migração dos lubrificantes, criado pela Compagnie Française de Raffinage, que até os anos 60 fabricavam os famosos lubrificantes Chronax. O produto tinha o padrão de ésters e solventes.

Hoje, a Moebius (e também a 3 M, que faz produtos para epilame, chama-se Fluorad), usam na composição os seguintes componentes (página oficial):

http://www.3m.com/product/information/Fluorad-Acid.html


São os mesmos do Fixodrop. E...Bem, minha química orgânica está fraca, sinceramente não sei traduzir tais componentes para o português, colei em todas as minhas provas do 3 ano do segundo grau!  ::)




Flávio

flávio

Ah, que fique claro para o povo: a Chronax começou o desenvolvimento do produto Epilame nos anos 30, sinceramente não sei o ano do lançamento, mas ficou no mercado até o fechamento da fábrica (aliás, de vez em quando se acham NOS deles por aí, como no tópico à seguir   http://ihc185.infopop.cc/eve/forums/a/tpc/f/2291010082/m/9311002203  ).

O produto e técnica, porém, já estavam bem difundidos na década de 60.

O fixodrop, que segue a técnica do epilame, que virou sinônimo de técnica, mas era o produto da Chronax, surgiu mais tarde, nos anos 70, assim como o da 3 M.

Atualmente, procuram um retorno à técnica de o próprio lubrificante ter as propriedades em si, sem a necessidade de tratamento da superfície, como pode ser lido no estudo científico publicado ano passado, através da mistura de uma molécula no lubrificante:

http://www.freepatentsonline.com/y2010/0098926.html


Flávio

flávio

Achei também para venda (quem tiver um link para o texto gratuito disponibilizado na net, agradeço) do "multi tool" da relojoaria, Paul Ditishiheim, quando propôs o método: é de 1925. Aqui:

http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B8GYR-4PNDTDJ-25&_user=10&_coverDate=12%2F31%2F1999&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=gateway&_origin=gateway&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1671696263&_rerunOrigin=google&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=749665831b6a34ed76eee46078a4abb7&searchtype=a


Quem embarcou na produção foi mesmo a CFR, com produto chamado Epilame mesmo, nos anos 30.

O Donald De Carle também aborda o tema no seu livro, a partir da folha 13, quem tiver interesse, achei-o completo na net:

http://pt.scribd.com/doc/48033178/Practical-Watch-Adjusting-by-Donald-de-Carle


Se lerem as partes correspondentes, verão que o De Carle não achava necessário o tratamento com Epilame se utilizados óleos sintéticos; nos Chronax, opcionais (eram minerais), nos demais, necessidade. Lembrem-se, porém, que o livros do De Carle estão atualizado até meados dos anos 50, início dos 60, quando as frequências não eram tão altas.

Mas eu continuo com um questionamento feito há muito: com as graxas "modernas" para escapamento, o epilame seria mesmo uma necessidade?


Flávio

Adriano

Flávio, mesmo com o uso da graxa 9415, que substituiu o óleo 941, a recomendação do uso do Fixodrop permanece. A 9415 se comporta muito bem mesmo sem o Fixodrop, mas o Fixodrop dá uma segurança maior.

O óleo 941 caiu em desuso. Ninguém mais usa depois do lançamento do 9415, que tecnicamente, é uma graxa, mas se liquefaz sob impacto.

Abraço!

Adriano

flávio

Citação de: Adriano online 09 Março 2011 às 19:45:49
Flávio, mesmo com o uso da graxa 9415, que substituiu o óleo 941, a recomendação do uso do Fixodrop permanece. A 9415 se comporta muito bem mesmo sem o Fixodrop, mas o Fixodrop dá uma segurança maior.

O óleo 941 caiu em desuso. Ninguém mais usa depois do lançamento do 9415, que tecnicamente, é uma graxa, mas se liquefaz sob impacto.

Abraço!

Adriano


Sim, sei disso, não lembrava a designação. O 941 é indicado pela Moebius atualmente em movimentos low beat. O 9415 nos high beat.


Flávio

flávio

Excelente texto que também aborda o tema, já discutido aqui há algum tempo (mais de ano, se não me falha a memória):

http://home.watchprosite.com/show-nblog.post/ti-432276/

awatchmaker

Caro forista  foi realmente esplendorosa sua pesquisa, parabens , completa quem criou , o que motivou, fiquei muito feliz em ler toda esta materia,mas nao respondeu a pergunta, vou tentar me explicar melhor, qual eh o impacto ? o efeito? depois de aplicado nos componentes? por exemplo nos rubis da ancora ..... ai sim nos vamos descobrir a resposta, juntos, para esta sua pergunta: Mas eu continuo com um questionamento feito há muito: com as graxas "modernas" para escapamento, o epilame seria mesmo uma necessidade? tenha um bom dia a todos e boa sorte.
um abraco.



flávio

Caro Awatchmaker

No fórum, já há vários anos, temos a seguinte tradição. Há um desafio lançado aos colegas? É o que chamamos "desafio"...Há vários tópicos desse modo, acho que pararam no desafio n. 18, por acaso quem lançou fui eu, e ainda prometi um prêmio ao vencedor (dei o livo The Watch para não sei quem. Era uma pergunta sobre um tipo raro de escapamento). Depois de uma semana de discussões, pesquisas, etc, saíram com a resposta. Muito bom, pois vários discutiram e eu, que já sabia a resposta, declarei o vencedor.

Coisa completamente diferente é a discussão lançada quando você já possui uma opinião formada, ou apenas novidades, para "engrenar" o fórum. Isso é trabalho dos moderadores, mas não só, qualquer um pode fazê-lo.

Ontem, por exemplo, lancei uma foto do Jean Claude Biver segurando um Hublot e um Blancpain, marcas que ele já foi CEO. Eu tenho minha opinião: não gosto da Hublot, mas gosto da Blancpain. Lancei a foto como estímulo à discussão, para que ambas as marcas, e a posição atual do Biver fossem abordadas. Foi o que ocorreu. Mas como disse, era simples discussão.

Tomemos, porém, a presente discussão. Foi lançado um questionamento sobre o fixodrop. O questionamento levou a algumas considerações da minha parte que, diga-se, não sou relojoeiro, mas estudioso do assunto e, para dizer a verdade, mais da parte histórica. Lançada toda base teórica, esperava a discussão prática da coisa, mas isso não ocorreu. Surgiu nova pergunta, diria de cunho "socrático", a respeito de uma pergunta que fiz. Ora, ninguém responde perguntas com outras perguntas!

Eu, como disse, não tenho experiência prática de longo prazo no assunto. No fórum, práticos só existem uns 4 ou 5 (digo práticos profissionais, pois há os que desmontam relógios por hobby, isso até eu já fiz). Ou seja, que venha a resposta!

Eu, no caso em particular, já dei minha opinião que - em discussão - foi inclusive contestada pelo Adriano. Minha opinião difere da dele, teoricamente falando. O epilame só tem alguma função nas rodas reversoras porque as atuais não possuem lubrificação pontual como as antigas. Aliás, usei um Omega Speedmaster Automatic durante anos sem lubrificação alguma nas rodas reversoras justamente para teste! O que o Mauro, da assistência técnica de São Paulo notou, foi que elas estava intactas. A corda e a mola não.

Método científico é isso. Através de experiências, chegamos à conclusões. Eu, por exemplo, acredito que os lubrificantes atuais, como o 9415 na levee, mesmo sem epilame, dão conta do recado, e bem. Mas isso não é método científico. Isso é chute meu, opinião baseada em leituras, experiências de outros.

Volto então ao questionamento feito por mim: claro que se tiver, melhor, mas se não tiver, fará tanta diferença? Alguém já pegou movimentos idênticos e os colocou lado a lado, um lubrificado de um modo outro de outra maneira, e testou os resultados?

Senão, ficaremos no campo teórico.

O que quero dizer com a resposta, que pode parecer "inflamatória", mas não é, pois é meu papel como moderador e também administrador do fórum, é que o conhecimento se difunde. Sim, o método socrático, o "por que" seguido de outros "por quês" é excelente. Faz parte do exercício, inclusive, da minha profissão (sou bacharel em Direito). Porém, quando se lança uma pergunta sabendo a resposta, ela não é discussão, mas desafio, pode ser lançado no fórum de outro modo, como citei acima; se é discussão, que essa ocorra, pois o conhecimento é uma soma de partes. No fórum, para citar exemplos, há diversas discussões sobre a marca Omega. Dou meus pitacos. Mas é claro que existem pessoas que lá pelas tantas adicionam conhecimentos aos outros que lhes eram completamente impossíveis de adquirir (se alguém pensou no Gravina, pensou certo). O conhecimento, então, foi passado. Há outros, como você, Mauro, etc, que tem experiência de bancada. Esse tipo de conhecimento não virá de mim, por exemplo, que sou teórico. Mas mesmo o Mauro, por exemplo - e cito isso com a maior tranquilidade - só passou a adquirir o conhecimento do que estava por trás há algum tempo. E pasme, por pessoas que talvez nunca tenham colocado a mão na massa, mas sabem trigonometria, engenharia, etc, para burro (sim, também direcionado, se pensaram nos Engenheiros que frequentam o fórum, pensaram corretamente). Outros, como o Igor, eu, etc, tem um bom embasamento de história de relojoaria e suas implicações sociais, algo que os práticos normalmente não possuem. Damos nossas opiniões. Lá pelas tantas, temos pessoas que sabem mais e mais interessadas em discutir o assunto.

Para isso criei o fórum, para fugir do lance "mercadológico" da coisa e discutir a teoria, técnica, etc. Há pessoas que aqui frequentam há anos que não sabiam nada sobre relojoaria. Há outros que, de tão empolgados, transformaram-na como profissão.

Mas o conhecimento é via de mão dupla. E mais: opiniões são isso, simplesmente opiniões. Cada um tem a sua. Conclusões, cada um toma a sua também. Mas as opiniões devem existir. Eu, por exemplo, em tópico anterior lançado sobre mecanismos de data, citei que, na minha opinião, bastava saber num sistema há um came, no outro não há. Para mim isso basta. Para outros talvez não. Dei também uma opinião sobre o custo benefício de particular livro. Mera opinião. Lá pelas tantas, estava eu procurando na net diagramas como os que existem no livro citado, que poderiam já ter sido juntados pelos práticos, mas não o foram! Era um desafio? Discussão de temas também tem um problema: as pessoas entram se se interessam. Há assuntos que não são interessantes para algumas pessoas. Eu, por exemplo, acho que de tanto martelar, acabei "obrigando" todos aqui a lerem sobre John Harrison. Mas será mesmo que isso era interessante a todos?

No final das contas, a discussão de temas é uma via de mão dupla. Se alguém fez uma pergunta, quer uma resposta. Mas eu pressuponho que se alguém fez a pergunta, é porque não sabe a resposta e ela deve surgir, se qualquer ressentimento, no meio da discussão.

Resposta sobre a pergunta que eu mesmo fiz? Não tenho, e deixei claro quando a fiz. Mas tenho uma opinião.



Flávio

Adriano

#9
O 9415 se comporta muito, muito bem, mesmo sem antidispersante. Eu já lubrifiquei relógios meus com 9415 apenas e a dispersão foi bem pequena nas primeiras horas de funcionamento, e não progrediu. O resultado do 9415 sozinho já é anos-luz melhor do que qualquer óleo, seja o 941, ou pior ainda, o 9010.

O 9010, aliás, em qualquer coisa acima de 21.600 alternâncias, sem antidispersante, não dura poucas horas. Vai tudo embora e resta apenas um filme de óleo, ineficaz para o nível de impacto e atrito no escapamento.

Porém, ao contrário de muitos, inclusive profissionais, que se atrevem a colocar em cheque normas suíças, eu pessoalmente sempre mantenho a crença de que os suíços não são bobos, e entendem uma coisa ou outra sobre relógios. Então, se falam para manter o Fixodrop mesmo com 9415, é porque o resultado é melhor. Não há porque duvidar disso.

Vale lembrar ainda que o Fixodrop não é usado apenas nas levées, mas em outros pontos, dependendo da recomendação do fabricante. As contra-pedras do balanço normalmente são lavadas com Fixodrop. Alguns manuais recomendam também seu uso nos tambores de corda e árvore (mas não na corda em si).

Por fim, de fato, "epilame" virou sinônimo genérico de "coating", ou tratamento de superfície. Pode ser um epilame antidispersante, como o Fixodrop, ou um epilame lubrificante, como o Lubeta (também chamado de Etalube) que se usa nas rodas inversoras e rolamentos. Ou ainda, o epilame "caseiro" (recomendado pelos fabricantes caso o Lubeta não seja disponível), que é a mistura em certa proporção de solvente (benzina) e lubrificante (9010, normalmente), normalmente a 3% (30/1000 ou 30ml de 9010 para um litro de benzina).

O resultado do uso do Fixodrop é a manutenção da amplitude, e logo, da marcha, por mais tempo entre revisões, uma vez que ele mantém a lubrificação mais tempo em seu devido lugar e evita a degradação de desempenho causada pelo deslocamento ou dispersão natural dos lubrificantes.

Abraços!

Adriano

awatchmaker

Caro Senhores quando coloquei a questão esta sobre o fix o drop foi justamente para difundir esta questão tao polemica e "$cara$" enfim nos aprendemos muito mais que isso com o Sr Flavio , o Adriano foi no ponto!!!! na pratica o relojoeiro se profissionaliza e o cliente nao acaba sendo prejudicado, envolvendo também o custo e beneficio do reparo $$$$ agora vai explicar para o cliente porque tenho que cobrar$$$

Epilene, tipo de película que  impede o óleo de dispersar , altera a tenção da superfície, quando aplicado em uma superfície ou parte dela impede que o óleo se transfira, ou a propagação de distância.
Os lubrificantes sintéticos têm diferentes características, em seguida, estes lubrificantes exigem diferentes forcas  necessárias para mantê-los no lugar, fixodrop permite aplicar o óleo ainda mais no lugar, permite aplicar o óleo  mais correctamente, permite se aplicar um pouco mais de óleo,  retém o óleo por períodos mais longos, permite períodos mais longos entre as revisões e mais consistência na amplitude.

espero ter contribuído de certa forma para a gente na hora de decidir se Vale a pena... escolher o serviço certo para nossos relógios. um forte abraço a todos.
Fabio.

Luis O

Prezados

após muito ler e meditar sobre todas as questões brilhantemente abordadas pelo Prof. Adriano e pelo Flávio, algumas questões vieram à tona...

Dirijo tais questões aos amigos Adriano e Flávio...

1) considerando todos os produtos envolvidos, e as técnicas necessárias para a utilização desses, qual seria o valor JUSTO para uma revisão de um relógio? consideremos como parâmetro um Rolex 1570...
2) qual seria o ganho efetivo, em termos de tempo (período entre revisões), que se ganha com a colocação desses produtos todos?

Pergunto isso pois a conta é simples. Consideremos o preço justo (pergunta acima) como sendo de R$600,00. Consideremos que um bom relojoeiro aqui de SP cobra R$250,00 por uma revisão de um Rolex 1570. Consederando que alguns neuróticos indicam revisar o relógio a cada 2 anos, quanto ganharíamos de extensão de prazo de revisão se for usada toda essa parafernálha tecnológica elencada no tópico?

Fazendo a revisão a cada dois anos, gastaria R$500,00 em 4 anos. Logo, a utilização desses produtos só se justificaria se o tempo entre as revisões fosse superios a 6 anos, pois caso contrário, a revisão a cada 2 anos se mostra comercial e tecnicamente mais interessante. Logo, o gasto com tantos produtos não seria justificável.

3) Outra questão que coloco na mesa: a recomendação de se utilizar todos esses produtos e tecnologia não seria uma forma de cobrar mais caro do cliente? Justificar a bela sala na av. Paulista, ou no luxuoso shopping? A Rolex cobra bastante cara a revisão de um relógio 1570......

Pelo que vejo, na minha humilde trajetória pelo mundo da relojoaria, é que muitas coisas que se pregam  não passam de modismos e baboseiras .Ouvindo todas essas indicações, sinto-me como o proprietário de um carro que para no posto de gasolina e o frentista indica a colocação de aditivo Bardah, lque convenhamos, não serve para nada, nem para aumentar a vida útil do motor do carro.

Será que não estamos transformando a relojoaria num comércio desenfreado? Será que essa complicação toda em revisões, produtos etc não é uma forma de comércio injustificado, onde quem sofre são os proprietários e colecionadores? tenho para mim que sim...

De qq forma, gostaria de ouvir a opinião de vcs, se possível de forma objetiva...principalmente nas respostas às minhas singelas perguntas.

Desde já fica o meu agradecimento e o meu abraço a todos.

Luis

flávio

Luis


A questão do preço "justo" de um trabalho já foi discutida aqui, sabe minha opinião. Eu sinceramente não sei definir o que é valor justo de um trabalho. A única coisa que nunca gostei em relojoarias foi a diferença de preço em virtude da marca do relógio e, pior, às vezes entre relógios que são idênticos entre si, mas mais caros. Exemplo: já me deparei com a absurda situação de cobrarem mais caro na revisão de um Rolex Datejust de aço e um de ouro, sendo que o trabalho envolvido para revisar ambos é o mesmo!

Aí vieram com a desculpa de que se o produto que está sendo revisado é mais caro, ocorrendo algum "problema" durante a revisão, o prejuízo da relojoaria também será consideravelmente maior.

Ora, como já disse alhures, isso se resolve com cálculos estilo atuariais usados por seguradoras: englobado no preço da hora de trabalho deverá estar calculado tais riscos. Assim, se o cidadão levar um Patek de 100 mil para revisar e o relojoeiro arranhar alguma peça que necessite troca, por exemplo, no valor de 20 mil reais, esse prejuízo já estará diluído dentro do preço que foi definido como de hora de trabalho.

Assim, tanto faz o cara chegar na loja com um Seiko ou um Rolex: o valor da revisão será o mesmo, independentemente de um custar 500 reais, o outro custar 5 mil.

Dirão: mas isso poderá inviabilizar o trabalho do relojoeiro. Bem...Contratação de serviços faz quem quer não é mesmo? Eu conheço relojoeiros em BH, por exemplo, que não pegam mais relógios antigos para revisar, simplesmente porque o preço que cobram na revisão é fixo e, lá pelas tantas, você se depara com tantos problemas no relógio antigo, que enquanto revisaria o novo em duas horas ganhando x, acaba tendo que revisar o velho em dois dias, ganhando o mesmo x.

Profissional com preços diversos haverá em qualquer lugar. A questão se vale ou não à pena pagar 500 paus em uma revisão de um relógio que custa 500 paus é efetiva. Eu, por exemplo, não pagaria, e procuraria outro profissional.

De vez em quando, porém, nos deparamos com verdadeiras maldições, mas mesmo assim nos arriscamos. Como disse, a contratação quem faz é você. Eu tenho um Longines Avigation que parece amaldiçoado e só foi revisado em autorizadas (umas 3 vezes, mas só paguei duas revisões, uma foi feita de cortesia). Na época, tal relógio me custou 1200 reais, tudo bem que hoje ele custa na loja uns 6 mil, mas no mercado de usados não passa de 3. Eu já paguei em revisões nesse relógio (duas) o valor superior ao que ele custou! Vá entender...

Mas voltando ao tema, não sei como definir o que é valor justo. Nós, por exemplo, acompanhamos aqui de perto o Mauro, que gira as autorizadas Swatch Group no Brasil. É claro que o Mauro não vai dizer, nem o Adriano, mas imagino que montar uma loja com todo ferramental necessário não seja barato. Pagar os funcionários, idem.

Então, como em todo negócio, não é apenas uma simples equação de se olhar também quanto custou sua revisão, quantas horas o cara gastou nela, e multiplicar para saber quanto o relojoeiro ganha. Se eu fizesse simples cálculo, chegaria à conclusão de que um relojoeiro com formação técnica ganharia por hora mais do que eu, Promotor de Justiça de carreira! (não estou fazendo aqui uma hierarquia de profissões, mas apresentando um fato: Promotores e Juízes possuem os maiores salários da administração pública em sentido amplo. Quanto "vale" minha hora de trabalho? Não sei...).

Por outro lado, sigamos agora ao padrão do relojoeiro independente. Luis, ao contrário do que possa ter parecido, nenhuma dessas coisas discutidas aqui - se leu meus textos com atenção - é novidade. Os lubrificantes sintéticos estão no mercado com força total desde os anos 60, técnicas de epilame desde os anos 30, enfim, só não usa quem quer. Os produtos são caros? Sim, são caros. Nos EUA, um vidro de Moebius 9010 por exemplo, custa 25 dólares. 150 ml da solução de fixodrop custa 100 dólares. No entanto, pergunte para o povo de bancada quando tempo um vidro de 2 ml de 9010 dura? Uma eternidade, dá para revisar centenas de relógios.

Então, no final das contas, eu ouso dizer que, em ferramentas - e tudo top - se você gastar 1000 dólares, terá o excelente para fazer revisões em 90% dos relógios que se encontram por aí. Não estou colocando nessa conta um Timer, que você tem que ter, e custam caro. Mas no final das contas, dá para começar um negócio individual com não tanta grana assim.

Mas voltamos à questão: trabalho não é apenas o que se gasta, é o que está envolvido no seu aprendizado.

Imagine se eu fosse um cara com certificação do WOSTEP? Ora, só o curso custa uns 30 mil euros, fora hospedagem. Não é de se estranhar que não exista ninguém que eu conheça no Brasil com um curso desses, pois no final das contas, sairia mais caro do que um mestrado, doutorado, etc, no exterior. E, querendo ou não, a relojoaria foi uma profissão que quase esteve à beira da extinção há alguns anos, e não só aqui, onde a considero extinta, em virtude do pequeno número de profissionais, mas no resto do mundo.

Sobre os relojoeiros, há um grande problema, que já discuti com o Adriano em conversas privadas. Não existe prática sem teoria. Eu nunca poderia fazer uma sessão de julgamento de Tribunal do Júri, onde atuo há 8 anos, sem saber nada de teoria do Direito. O problema é que no Brasil as escolas deixaram de existir há muito e má técnicas foram passadas na "prática" para relojoeiros, ou então técnicas que já estavam ultrapassadas há décadas!

Falando particularmente sobre a lubrificação, nada do que existe nos textos é novidade no mundo "civilizado", eu diria. Sim, a utilização de soluções antidispersantes não é tão difundida no Brasil justamente porque, até os calibres passarem a ter altíssima frequência, a técnica não era necessária! O problema é que desde que a técnica se tornou necessária, as escolas no Brasil já haviam fechado há muito. E quem vai ter saco e interesse (e em regra relojoeiros não entraram na profissão tendo saído de um curso superior, aprenderam mesmo na prática) para ler textos em inglês para aprender a teoria por trás da coisa. Aliás, quantos relojoeiros sabem inglês? Eu os admiro, mas relojoeiros especialistas e teóricos são uma novidade no Brasil. Vou além: são novidade até mesmo no exterior, no livro que tenho sobre a AHCI, os membros criticam o ensino Suíço de relojoaria justamente por causa do interesse que eles próprios tem de criar material humano para as indústrias. E, ao contrário do que parece, nas indústrias ainda vige o sistema de etablissage citado no meu texto, onde cada um é especialista em uma coisa, só sabe fazer aquilo e, pior, nem sabe por que faz. O tal "master watchmaker", aquele cara que constrói um relógio do zero se precisar, é raridade até no mundo civilizado. Aqui, desconheço que exista.

Particularmente sobre o tópico, e encerrando. Não tenho experiência de bancada, mas sigo as ponderações do cara cujo último texto indiquei: não é possível afirmar sem fazer testes que, com lubrificantes atuais, como, por exemplo, o 9415, que foi criado para não se dispersar, seja necessário o uso de alguma outra técnica não dispersante. Cito dois livros onde isso é falado: o do De Carle, Practical Watch Adjustment, inclusive scaneado acima, da década de 60, e o Mechanical and Quartz Watch Repair, do Mick Waters, livro novo (embora muito ruizinho), sendo que ambos não são idiotas, mas "master watchmakers" com M maiúsculo e, inclusive, FBHI.

Quanto aos demais lubrificantes, é o básico do básico. Um relojoeiro que não usa o 9010, o 9020, o D5, o 941 ou 9415 e uma graxa que preste não está lubrificando adequadamente o relógio. Não estamos nem falando aí de Bardhal, mas de usar a simples gasolina mesmo.

Quanto ao tempo das revisões aumentar ou diminuir, em virtude dos lubrificantes, isso, como ressaltei, em opinião compartilhada pelo cidadão que citei acima, do último texto, só testando para ver. Há muitos fatores envolvidos que podem levar à degradação do lubrificante. Uma coisa, porém, é certa, e isso foi dito pelo Adriano e contado a mim pelo Mauro, a respeito do meu Speedmaster, cuja roda de escape foi lubrificada com 9010: não estamos falando aí de anos, mas de meses, dias. Meu speedmaster havia sido revisado (mal revisado, mas já sabia disso, como ventilei em vários posts para vocês) há pouco mais de um ano, e na roda de escape todo o 9010 já havia se espalhado para as laterais.

Ou seja, boa técnica é boa técnica. Há sim alguns exageros, não posso negar. Quanto vale o serviço? Não sei...Aí é uma pergunta estilo Sílvio Santos: quanto vale o show? Pode valer tanto para você, nada para mim.


Flávio

Adriano

Eu não responderia, mas como a pergunta é direcionada a mim, tentarei responder.

1) Não posso responder objetivamente porque não há resposta objetiva, pois depende das condições de uso e da qualidade e periodicidade das manutenções anteriores. Tem Omega 30T2 com 70 anos que chega na oficina brilhando, parece que saiu da loja. Tem Planet Ocean que dentro do período de garantia parece que já viajou pelo Iraque, Afeganistão, Faixa de Gaza e ainda deu uma passadinha na Líbia nos últimos dias. Então não dá para responder. Responder seria o mesmo que dar um orçamento, e orçamento, só com o relógio em mãos. Jamais me compremeteria a dar uma resposta diferente dessa.

2) Também não é possível dizer pois também depende do uso. Mas estimo que dobre o intervalo de revisão. Considero que R$ 250,00 numa revisão de Rolex não pode ser uma boa revisão. O relojoeiro pode ser bom, mas a revisão não. Por esse preço, estimo que as levées sejam lubrificadas com 9010 ou outro óleo, sem tratamento nenhum. E desse modo, a revisão não dura 5 anos, nem 2 anos. Dura dois dias. Depois disso não tem mais óleo no escapamento e é a mesma coisa que se não tivesse feito revisão. Essa é a única certeza que tenho. Uma boa revisão, com os produtos adequados, da maneira que recomenda o fabricante, sendo o relógio submetido à um uso decente, sem abusos, dura perfeitamente 5 a 7 anos, para só daí começar a se sentir uma queda de desempenho.

3) Não acredito. Para mim isso é "teoria da conspiração". Ou eu sou inocente demais. Não descarto a última hipótese. Além disso, não são esses produtos que encarecem a revisão, mas o preço das peças, da mão-de-obra especializada, treinada no exterior, e dos tributos sobre as peças.

Imagino eu que o usuário que realmente prima pelo objeto que tem, gostaria de tê-lo mantido como recomenda o fabricante. Afinal, gastou um bom dinheiro com algo totalmente supérfluo. Não combina querer economizar na hora da revisão. O mesmo vale para automóveis, que é um exemplo mais palpável para todos. O camarada que tem um Mercedes, penso eu, estima o automóvel que tem e faz as manutenções em oficinas especializadas. Não combina colocar óleo mineral monoviscoso num carro desses, para economizar uns trocos. Ou ainda não adianta comprar uma caixa de charutos Cohiba Behike, para dar uma de bacana, e além de não fumar por dó, guardar a caixa em cima do aparelho de som... Se não pode bancar uma boa caixa umidora, porque "é cara", então está no hobby errado.

Esses são apenas meus "two cents"

Abraços!

Adriano

Luis O

Nossa.....sua assertiva foi típica dos Promotores de Justiça, de carreira....kkkkkkkk

rodamos, rodamos e nada dissemos....kkkkk

As perguntas são objetivas, e carecem de respostas objetivas...por isso as fiz dessa forma.

A provocação da discussão, e tudo que vc escreveu, só me faz entender que nada existe de concreto em termos de estatística....ninguém sabe em quantas horas aumenta o intervalo entre as revisões caso usemos os milhares de produtos elencados pelo "prof." Adriano.......

A pergunta sobre o valor de uma revisão é direta.....e merece uma resposta direta...se me perguntam: quanto é a sua hora de advogado senior? eu respondo: R$600,00! simples assim....

Quanto é o justo para uma revisão de um Rolex 1570, considerando-se a utilização de todos os materiais indicados pelo Mestre?

Flávio, quanto mais se escreve, menos se transmite.....vc deve saber isso pelas petições que certamente lê todos os dias.....(a nossa profissão é por natureza 'enrolatória".....kkkk)

Assim, reitero os meus questionamentos, e mais uma vez rogo que respondam de forma objetiva, a fim de que eu possa sair das trevas da ignorância, e vislumbrar o lindo mundo da horologia, pregado por vc e pelo Adriano.

Mais uma vez, grande abraço e meus mais sinceros respeitos.

Luis O

Citação de: Adriano online 11 Março 2011 às 18:31:34
2) Também não é possível dizer pois também depende do uso. Mas estimo que dobre o intervalo de revisão. Considero que R$ 250,00 numa revisão de Rolex não pode ser uma boa revisão. O relojoeiro pode ser bom, mas a revisão não. Por esse preço, estimo que as levées sejam lubrificadas com 9010 ou outro óleo, sem tratamento nenhum. E desse modo, a revisão não dura 5 anos, nem 2 anos. Dura dois dias. Depois disso não tem mais óleo no escapamento e é a mesma coisa que se não tivesse feito revisão. Essa é a única certeza que tenho. Uma boa revisão, com os produtos adequados, da maneira que recomenda o fabricante, sendo o relógio submetido à um uso decente, sem abusos, dura perfeitamente 5 a 7 anos, para só daí começar a se sentir uma queda de desempenho.

kkkkkkkk......amigo Adriano, acho que vc vai apanhar de cinto......ou de palmatória..........(vc entendeu)......

Mas ok........vc tb rodou e não disse quanto custa, em média, uma REVISÃO.....deve ser um segredo secretíssimo, e variável conforme o caso....o que não deveria (concordo plenamente com o que o Flávio falou acima....relógios iguais, preços diferentes.....


Enfim, chegamos a lugar nenhum.....e para quem não tem conhecimento técnico suficiente, ccontinuarão a pagar preços exosrbitantes pelas simples revisões de um 30T2, ou mesmo de um Rolex 1570....kkkkkkfazer o quê?

De qq forma, muito obrigado pela resposta.....vc deveria trabalhar num escritório de advocacia....kkkkkkk

grande abraço.

flávio

#16
Sem bagagem teórica, parafraseando o texto, não há como o assunto se esgotar. Respostas prontas não funcionam, não é natureza embromatória, conhece meus textos, sabe que tento condensar o máximo de assunto no mínimo de espaço. Mas sim, às vezes o assunto é tão grande (vide o texto La Chaux de Fonds) que nem querendo dá para escrever menos.

- O uso dos lubrificantes adequados não diz respeito ao aumento dos anos entre revisões, mas do funcionamento do relógio naquele exato momento. Você quer que um relógio, seja usando ele um ano (como na época em que os lubrificantes eram minerais), seja usando 3, 4 etc, funcione igual ao primeiro dia da revisão, no último.

- Tempo entre revisões depende do dono, como disse o Adriano. Cito carros. Mandei fazer revisão do meu agora, um Stilo, 60 mil km. As pastilhas de freio - pasme - foram trocadas pela primeira vez! Meu irmão tem o mesmo carro, com 30 mil, já trocou duas vezes. Mas só uso o meu na estrada, talvez isso expliquei as diferenças.

- Hora de trabalho de advogado? Bem, o Kaká advogado da turma do PT não cobra 600 paus por hora, mas uns 600 mil! Ou seja, há advogados e advogados. Assim como há relojoeiros e relojoeiros. O que é justo? Sei lá, outro dia pensei que, ao invés de ganhar meus 25 paus mensais (e falo isso com tranquilidade, pois profissão pública, salário público, é só digitar na net para saber quanto ganhamos), fazendo 4 júris por mês, com a bagagem que tenho poderia abandonar a carreira e passar a cobrar 25 mil por júri! E cobrando barato, pois vejo os advogados "ôreia" seca de Brasília cobrando muito mais por isso. No entanto, não sou Promotor de Justiça por salário, até mesmo porque na Bahia ganhava um quinto disso, mas porque queria sê-lo. Hoje nem sei se quero mais...Mas enfim.

- Quanto é justo para um Rolex 1570? Não sei. Se não precisar trocar peças, eu - e aí é opinião, e como opinião, cada um tem a sua - não pagaria mais do que 500 paus na revisão de um relógio desses. Por que? Porque é o preço que o relojoeiro de Brasília, que é ex autorizado da marca, cobra. E ele usa tudo o que foi citado pelo Adriano, alás, ele sabe de quem estou falando.

- Quanto ao fixodrop com o uso de 9415, um lubrificante já não dispersante por natureza, aí é a questão não resolvida. Os fabricantes indicam. Tenho dois autores FBHI aqui que, nos seus livros, dizem ser exagero. Quem está certo? Sei lá...Para essa específica resposta, não tenho solução. E lembre-se: sou um teórico, não prático. Minha praia é outra, minha profissão resume-se a "mortes"  ;D Esse lance de relojoaria é apenas hobby.


Flávio