Uma discussão sobre movimentos de relógios e sua originalidade

[João de Deus]

Acabei de ler o texto - Uma discussão sobre movimentos de relógios e sua originalidade, por Phil Baker - traduzido pelo Flávio Maia. Gostei bastante do que o autor escreveu sobre movimentos de relógios. Mas fiquei com algumas dúvidas quanto ao acabamento (cosmético) realizado pelas principais marcas:

- Na PP, AP e VC estes acabamentos são realizados por máquinas ou manualmente? ou ambos?
- E na Rolex (3135, 4130), Omega (leia-se Frederic Piguet e Lemania 1863) e Breitling (B01), com são feitos?
- Até que ponto influenciam na performance e durabilidade do movimento?

João

[Adriano]

1 - depende do mecanismo e depende do acabamento, pois tem coisa que é impossível da fazer a mão, e tem coisa que é impossível de fazer com máquina. Alguns por máquinas, alguns a mão, alguns por ambos.

2 - tudo máquina.

3 - depende. A maior parte do acabamento é estético, é decoração. Outra parte é funcional, e aí sim tem impacto, especialmente no desempenho, pois o acabamento funcional normalmente melhora o coeficiente de atrito das superfícies e por consequencia, a transmissão de força. Vejamos por exemplo algumas exigências do selo de Genebra. O chaton polido é firula, é estética, mas a face de bloqueio dos dentes da roda de escape é pura técnica.

Abraços!

Adriano

[João de Deus]

Obrigado Adriano,

Fiquei surpreso!!!
Achava que pelo menos a Frederic Piguet tinha partes do acabamento realizados manualmente.
Quanto aos Breitling, Rolex, IWC e etc acertei suspeitando que fosse 100% máquina.

João

[Adriano]

Basta olhar para qualquer F. Piguet da Omega para ver que não tem nem sinal de que qualquer peça seja acabada a mão. Uma F. Piguet parece mecanismo russo perto de um acabado a mão. Não dá nem para comparar. Os F. Piguet até são bem acabados por serem bem industrializados, mas nem chegam aos pés de um acabado a mão.

Abraços!

Adriano

[flávio]

Por incrível que pareça, nos primórdios, o acabamento em listras de genebra e, principalmente, o "perolizado", tinha uma função técnica. É que os movimentos não eram absolutamente selados em uma caixa como hoje e diminutas partículas de pó entravam na caixa. Ao invés das particulas ficarem "dançando" dentro no movimento, elas ficavam presas nas superfícies rugosas de tais acabamentos.

Perguntar se o  acabamento estético foi feito à mão significa o quê? Digo isso porque tanto para realizar as listras quanto o perolizado necessitam de máquinas. Em algumas fábricas, como ressaltado pelo Adriano, máquinas fazem todo processo, programadas por computador. Em outras - as top - o operador faz o processo, de modo que o acabamento de um relógio nunca é igual ao outro.

Eu não consigo perceber, visualmente falando, a diferença entre uma listra de genebra feita por uma máquina programada ou operada por uma pessoa. Mas no "chanfrado" das platinas e rodagens é claramente visível quando foi feito por máquina, já que os cantos são muito arredondados (a máquina não consegue a precisão de ângulo nas transições).

No caso da Patek, o chanfrado das rodagens, aumentado dezenas de vezes em uma fotografia, chega a parecer "tosco", porque claramente feito à mão. Vejam: não disse que o tosco é ruim, é que na máquina fica certinho demais.

Sobre a Piguet. Eu achei que os chanfrados fossem feitos à mão, mas usando aquela mini politriz, como dos dentistas. É que os cantos não são tão pronunciados como quando feitos com liimas, a exemplo da Patek, mas não imaginei que fossem feitos tudo em máquina.

Na única fábrica que já visitei e vi todo processo, a Glashutte Original, o perolizado é feito à mão, as listras de genebra idem e alguns chanfros delicados em peças, mas mesmo assim com a tal mini politriz. O chanfrafo "basicão" das platinas é feito em máquina já programada.

Flávio

[igorschutz]

O jeito de diferenciar se as listas são feitas por computador ou humanos é olhando bem de perto e procurando por irregularidades. Se todas estiverem absolutamente iguais,é porque foram feitas por computador, pois nem o humano com a mão mais estável consegue fazê-las idênticas.

[João de Deus]

Qual seria a relação entre o acabamento manual (arte) e o acabamento por máquinas (sem alma)? ... além do preço é lógico (bem mais alto no acabamento manual).
Poderíamos dizer que um ou outro poderia influenciar na funcionalidade ou mesmo durabilidade do movimento?

João

[flávio]

Depende. Como já ressaltado, o acabamento pode ser meramente decorativo ou funcional. O acabamento funcional - seja feito por máquinas ou humanos - aumentará a precisão e durabilidade do movimento. Exemplo de visão puramente funcional no mercado? IWC. Os IWC baseados em ETA tem um acabamento estético no máximo, eu diria, espartano. São folheados e ponto final. Mas é sabido que cada movimento é desmontado e refeito por eles para pura funcionalidade.

Então, seja feito por máquina ou humanos, se é funcional, alterará a performance e durabilidade.


Flávio

[Paulo Sergio]

Quanto à decoração das platinas, creio que o trabalho feito manualmente dê um aspecto mais artesanal e bonito às peças que os recebem, mas não sei da proporção atual entre o feito por máquinas e o manual...
Já quanto ao trabalho feito em rodas, pergunto: qual é o limite para um acabamento/polimento? É a prática que faz o artesão saber até onde ir?
Abraço
Paulo Sergio

[zugo]

Acabei de ler o texto - Uma discussão sobre movimentos de relógios e sua originalidade, por Phil Baker - traduzido pelo Flávio Maia.

João

Prezado, poderia postar o link para esse artigo?

[Paulo Sergio]

zugo...
Veja em :

http://www.relogiosmecanicos.com.br/ebauche.html

Aliás, há vários artigos na página inicial do FRM... veja em:

http://www.relogiosmecanicos.com.br/

Abraço
Paulo Sergio