Eu não sei qual é a importância que o mercado dá a opiniões minhas e de alguns outros foristas que lançam muitas discussões aqui. Aliás, nem sei se o mercado acompanha um fórum de relojoaria baseado no Brasil com participantes claramente "puristas" e em número "reduzido". Afinal, como já discutimos aqui, quem comanda mercado em país emergente não é "purista", mas "rei do camarote", se é que me fiz entender.
Mas costumo ser meio precavido em minhas opiniões que, pelo menos no fórum, costumam ser levadas a sério. O tema Hublot é recorrente.
Na verdade, MDM era o nome da empresa que o Carlo Crocco criou nos anos 80 para fazer os relógios Hublot. Se olharmos a ferro e fogo, a marca poderia ser entendida como MDM, e não o contrário. Na época em que a Hublot ainda usava o MDM no mostrador, era como se estivesse escrito "Hublot by MDM". Hublot tinha muito mais a ver com o modelo - inspirado numa escotilha, assim como o Royal Oak - do que com nome da marca mesmo, se me fiz entender.
Não vou dizer que o relógio foi revolucionário na época por usar borracha - algo supostamente "de pobre" - misturado com ouro, etc. Não custavam tão caro, acreditem.
O turning point veio na gestão do Jean Claude Biver que, ame ou odeie, é um cara sagaz. Ele, por exemplo, já havia retirado a Blancpain das cinzas e a transformado em algo que nunca fora, fábrica de relógios de luxo. Sim, porque a Blancpain até os anos 70 era tabajara de dar dó, fazia tool watches como o Fifty Fathoms, usava movimentos de terceiros (muitos da AS) e pronto. Relógios honestos para profissionais.
Hoje a Blancpain é a marca topo de gama do Swatch Group, junto com a Breguet. Mas a Breguet tinha (e tem) DNA de luxo, o da Blancpain foi criado. Eu compraria um produto da Blancpain, apesar de saber que a história dela é meio "fake"? Sim, compraria, eu os acho honestos demais, sério! Digo honestidade na qualidade, desde que voltaram ao mercado pelas mãos do Biver, quiseram se superar como marca.
A Hublot, por outro lado, sempre foi uma marca meio tabajara, mas que com o Big Bang cerâmica ouro rosé (e um título de melhor relógio do ano), caiu nas graças dos playboys.
Meu problema com a Hublot nunca foi design ou acabamento da caixa, algo que sempre achei fantástico. E convenhamos: o Big Bang original É BONITO mesmo. Meu problema também não era com o uso de Valjouxs. Meu problema estava em usar Valjoux e cobrar mundos e fundos por isso.
Depois, a Hublot encontrou o seu nicho "camaro amarelo" e começou com essas presepadas de homenagem a isso, homenagem a aquilo. Eu sei lá... Mesmo com o lançamento do calibre UNICO, não gosto do caminho que a marca vem tomando.
No entanto, temos que compreendê-lo. A marca faz parte do LVMH, que tem tanto coisas tradicionais, voltadas para o público tradicional, como Hublots. E creiam: é capaz de o povo "camaro amarelo" movimentar muito mais grana para as empresas do que nós, puristas.
Mas no final das contas, a Hublot é o que é, um nicho dentro de um grupo de luxo enorme que quer alcaçar todos os públicos. Bem, eles não vão me alcançar, mas com certeza pegarão vários outros.
Mas como disseram acima, essa vinculação de nomes pouco comuns com relógios não é privilégio de marcas ainda buscando seu lugar na história da relojoaria, como a Hublot, mas de outras centenárias, como a AP. Gosto da AP? Óbvio! Tem lugar na história? Óbvio! Compraria algum relógio deles? Não um, mas vários! Mas confesso que se ganhasse um RO Offshore - qualquer um deles - vendia... No meu inconsciente, é mais um camaro amarelo.
Flávio