Qualquer coisa que dissermos sobre o porque Rolex ou IWC não se interessaram pelo co-axial será chute.
Eu penso que o co-axial tem mais efeito de marketing do que prático, pois realmente ele, sozinho, não é obrigatoriamente melhor que um bom escapamento de âncora suíço tradicional. Pelo contrário, ele é mais complexo, mais delicado de se dar manutenção e é impossível, pelo menos hoje, aplicá-lo em movimentos baratos. Quero dizer, é uma tecnologia que só tem aplicação se for para ser produzida com máxima precisão. Se você tentar fazer ele com tolerância de 7S26, simplesmente não funciona.
O parâmetro que tenho são os calibres 2500 e 3313, que são calibres "adaptados" para o co-axial. O calibre 2500, o quanto ele é mais preciso que um 1120? Um pouco, na maioria dos casos, e em alguns casos, tem o mesmo desempenho. E o 3313? É um 3303 com co-axial. Denovo, o quanto o desempenho dele é melhor que o 3303? Um pouco, também, na média. Agora, todos eles juntos, são sempre mais precisos que um bom escapamento de âncora como dos Rolex? Não posso comprovar isso.
Agora, os calibres de manufatura 8500 e outros têm um puta desempenho. O quanto isso se deve ao escapamento co-axial isoladamente? Creio que pouco. O quanto isso se deve ao fato de ser todo projetado em volta do escapamento? Um bocado. O quanto isso se deve ao fato de usar duplo tambor de corda, balanço cheio de trique-triques, espiral especial, quando de metal (primeiros 8500A) ou de silício? Muito.
Agora, que fique claro que, o co-axial nunca foi "vendido" com a promessa de melhor precisão imediata; mas sim, uma melhor estabilidade, ou manutenção da precisão ao longo do tempo, entre uma manutenção e outra. Por que? Porque o desempenho do escapamento é muito pouco dependente da lubrificação (que nem deveria existir) do que num escapamento de âncora suíço.
De quebra, por seu ângulo de levantamento inferior, de normalmente 38º ao invés de 50º em média, ou em outras palavras, pela âncora passar menos tempo em contato com o platô do balanço a cada oscilação (coisa que perturba a frequência de oscilação natural do balanço e consome energia), ou em outras palavras ainda, por ele ser mais destacado que o escapamento de âncora suíço, ele tem uma grande possibilidade de ter um desempenho melhor de imediato também. Mas esse não é o foco. O foco, e idéia do Daniels, era ter um escapamento que, como no escapamento de detenção, tivesse desempenho independente de lubrificação, mas que fosse de pequeno porte e com segurança para ser usado em um relógio portátil.
Então, se comparar mesmo, de imediato, um 1120 com um 2500, um 3303 com um 3313, ou qualquer um deles com um Rolex, não vai se espantar. O foco não é esse. Mas dali 5 anos, para você continuar tendo desempenho, é mais fácil conseguir tendo um escapamento como o co-axial do que um de âncora suíço. O Rolex costuma ter um puta isocronismo, por isso, mesmo com amplitude lá em baixo, costuma ter bom desempenho. Mas isso é difícil de se obter e depende demais de sorte. Com um escapamento co-axial, você tem mais chance de um bom desempenho por um tempo mais longo. Demora mais para começar a sofrer com amplitude. Ou, pelo menos, deveria.
O co-axial não faz milagre. Não é obrigatoriamente um escapamento melhor, mas sim, uma alternativa que se trabalhada com um conjunto de outras tecnologias, fazem do calibre 8500 um mostro de precisão, muito mais do que um calibre 2500.
Uma coisa é óbvia na filosofia da Rolex: em time que ganha, não se mexe. Vide seus desenhos. Faz o mesmo com suas tecnologias. A Rolex deve ter mais aplicações de patentes do que a ETA junto com suas empresas do Swatch Group responsáveis por esses desenvolvimentos. A Rolex tem patentes de coisas totalmente malucas, balanços especiais, escapamentos especiais. Mas entre pesquisar isso e botar isso no mercado com a certeza absoluta de que funciona de maneira infalível, tem um longo espaço de tempo e um risco que só aumenta quanto menor for esse tempo. Não é segredo que a Omega bateu cabeça com o co-axial. É muito esforço para fazer isso dar certo em larga escala, muita grana gasta, e um mundo de incógnitas.
Abraços!
Adriano