Sim, os seus argumentos são elementares e são absolutamente compreensíveis. E é verdade sim, é algo comum de se usar ao avaliar automóveis e etc. Porém é muito mais simples: num automóvel, como você faz para avaliar, por exemplo, o desempenho? Ninguém coloca o carro no dinamômetro. Pegam o dado de fábrica, e aí, um tem 136cv e outro tem 142cv. Pronto, está definido qual é mais potente.
Frenagem? Coloca-se os dois exemplares na mesma pista, na mesma hora (mesma temperatura, pressão e umidade), com a calibragem de pneus recomendada pelo fabricante. Bota-se a velocidade "X" e mete-se o pé no freio com tudo. Um pára em 32 metros. Outro para em 28. Pronto, está definido qual freia melhor (seja porque o freio é melhor, seja porque é mais leve). Qual o mais seguro? Baseia-se no crash test que é um troço de laboratório controladíssimo e tudo é medido com sensores.
Agora, raramente vejo alguma avaliação falar do acabamento avaliando o espaço das frestas entre painéis e o alinhamento delas. Porque? Porque começa a entrar no subjetivo. O que é uma fresta boa para um Celta, é um troço inaceitável para um Bentley.
Avaliação de smartphones: mete-se um programinha de benchmark e pronto. Resultados matemáticos e (quase) indiscutíveis. Duração da bateria? Idem.
E como fazer isso com um relógio? Com carros, é fácil de entender que não dá para comparar Celta com Bentley. Com relógios, é ledo engano dizer que as pessoas sabem diferenciar Tissot de IWC. Prova? Nosso fórum. Basta lê-lo para ver que as pessoas não sabem a diferença e não conseguem avaliar relógios tão diferentes como categorias diferentes.
Outra coisa: quem vai avaliar isso? De novo vemos o fórum. "Tal relógio é super bem acabado". E é um relógio se US$ 120,00. Vai ver se o autor da opinião já pegou um Audemars Piguet, um Patek ou um VC na mão. Nunca. E dá para avaliar acabamento se você nunca pegou na mão e olhou bem para o melhor que existe e o pior que existe? Sinceramente, não.
Conforto: mesmo pessoas com mesmo diâmetro de pulso, não têm a mesma impressão sobre o conforto do relógio por causa da posição dos ossos no punho. Já tirei essa prova com um amigo cujo pulso tem rigorosamente o mesmo diâmetro que o meu. Mas no pulso dele, o relógio fica bom, e no meu, com o mesmo ajuste, ele gira para frente.
Outra coisa, de novo: a avaliação do Ciclano vale mais que a do Beltrano. Vemos toda hora nesse meio alguém dizer "mas o Fulano (grande colecionador da marca X, Y ou Z) disse que esse relógio está legal", e de repente, a pessoa disse apenas aquilo, ou nem disse, e de repente aquele exemplar dobra de preço porque passou pelo crivo do Fulano e espertalhões de plantão se aproveitam disso.
E não sei se já leu alguma, nenhuma, ou talvez todas as avaliações que já escrevi para a Pulso, mas eu creio que elas são capazes de dar uma excelente noção do modelo avaliado, mesmo não tendo notas no final. Duvido que você não consiga, lendo a matéria, montar em sua cabeça a tabela de notas. Sua tabela pode até ser diferente da de outro leitor, mas que você provavelmente consegue montar ela na sua cabeça, consegue.
Essas notas são usadas para tudo, como você mesmo falou, porque algumas coisas pode-se avaliar objetivamente, e outra simplesmente porque é o tipo de coisa que vende revistas. O povo gosta, o caboclo vê uma avaliação de 12 páginas e desiste de ler na segunda. E pula para a última página.
Melhor maneira de avaliar um relógio: leia o máximo de reviews possíveis, tire suas dúvidas em fóruns, e o principal: pegue na mão, coloque no pulso.
Agora, eu poderia resumir tudo o que escrevi numa coisa só: você não consegue avaliar direito relógios como faz com carros, smartphones, TV's e liquidificadores porque você não compra relógios pela razão, como faz com esses produtos. Se você gamar num relógio, todo o mundo pode dizer que é um lixo, e você vai continuar querendo ele. E o oposto é ainda mais verdade: todo o mundo pode dizer que é o máximo, mas se você não topar com a cara dele, não vai, e você não vai querer um nem de graça.
E no mundo dos automóveis existe uma prova disso: veja quantas avaliações e comparativos existem de carros populares (que você compra com a razão, ou pelo menos deveria...) e quantos existem de super ou hipercarros.
Abraços!
Adriano