Quer dizer, então, que função dos dois tambores é muito mais o torque constante, como se fosse um remotoire, do que o simples aumento da reserva de marcha? Flávio
Não está escrito explicitamente em lugar nenhum que é isso, mas tudo leva a crer que sim. Afinal consegue-se 60, 70 até 80 horas com um tambor só em um mecanismo de tamanho "normal".
Agora faço uma pergunta, para reflexão: existe um "oba-oba" sobre reserva de marcha. Todo mundo trata a reserva de marcha mais longa como um plus. Sim, conseguir longa reserva é um desafio mecânico dqualquer apaixonado por relojoaria aprecia isso.
Mas qual a vantagem práticade uma longa reserva e marcha em um automático? A desculpa de que dá para revezar de relógios sem que eles parem é furada, pois se você reveza de relógio num ritmo no qual repete o relógio após 5, 7, 10, 15 dias, não vai ser 70, 90 nem 100 horas que vão resolver seu problema.
No ritmo que a maioria aqui reveza relógios, quantos se beneficiariam se seus relógios tivessem 70 horas de reserva de marcha ao invés de 42? Para mim particularmente não faz a menor diferença. Até porque, se relógio sem corda me incomodasse, eu usaria quartz.
Será mesmo que é uma puta vantagem ter longas reservas de marcha? Eu acho que as marcas criaram uma mística sobre isso e o pessoal tem "comprado" a idéia.
E tem uma enorme jogada aí no meio: quando você aumenta a reserva, você aumenta a estabilidade nas primeiras 30 horas. A amplitude nem flutua nesse período, mesmo que seja mais difícil controlá-la depois de 40 hora. Qual a vantagem? Para você nenhuma, mas no resultado dos COSC da vida...
Teoria da conspiração minha? De que fazem isso para certificar relógios com mais facilidade? Ou apenas para comodidade do usuário? Se é, repito, uma grande comodidade ter 80 horas ao invés de 40?
Ora, vide os Tissot Powermatic 80 com COSC: mesmo com escapamento sintético, sem espiral da mais alta qualidade, sem balanço de Glucydur, com frequência mais baixa que o mecanismo original, conseguem o certificado. Como? Graças unicamente à estabilidade de marcha entre os testes de 0h e 24h, permitida pelas 80 horas de reserva. De repente, um mecanismo de baixo custo consegue certificação. Nada de escapamento especial (pelo contrário), nada de alta frequência, nada de silício, nada de lubrificação especial, nada de espiral especial...
É algo bem parecido com o que os quartz fizeram com as competições de cronometria. A norma do COSC é moldada em uma época na qual os relógios tinham de 35 a 45 horas de reserva e uma variação considerável de marcha após 24 horas. Se você conseguir manter a amplitude após 24 horas, tá resolvido mais da metade do problema.
E aí? Qual a validade de se testar nesses moldes relógios com mais de 60 horas de reserva? A validade é que o certificado ainda "vende" que é uma beleza.
Anotem aí: talvez leve 5, 10 ou 30 anos. Mas os certificadores vão começar a fazer testes de mais de 24 horas de corda para serem levados a sério.
Abraços!
Adriano