Há alguns anos escolhi não mais participar ativamente de fóruns gringos de discussão e, para dizer a verdade, não mais escrever em inglês. Mas tenho consciência, sem falsa modéstia, que se escrevesse em inglês seria muito mais (aliás, seria "algo" reconhecido, coisa que não sou) reconhecido pela indústria. Sei sim que o fórum é acompanhado pelas fábricas, tanto é que alguns representantes aqui já se manifestaram e, inclusive, ressaltaram seu apreço pelo fórum.
Mas a língua universal é o inglês e, portanto, os sites que ditam as regras da internet são em inglês, atualmente o Hodinkee e o ABTW.
E creiam, conforme a carta aberta do John Mayer demonstrou, eles tem sim influência e as fábricas os acessam.
Dito isso, aquela minha eterna birra com a questão "reparo" dos relógios chegou em carta aberta ao Hodinkee (graças!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!).
Não vou repetir meus argumentos, que estão expostos num dos mais longos tópicos do site, o "qual o preço da revisão de um omega", que gerou milhares de acessos e dezenas de páginas.
Mas posso resumir minha "birra" no difícil acesso que os relojoeiros independentes tem a peças, o que praticamente causou sua extinção; a demora excessiva nos reparos e, principalmente, OS MALDITOS PREÇOS COBRADOS, sobretudo de acordo com a "cara" do relógio, e não serviço a ser feito.
Ora, é muito fácil atuar num mercado, como dei como exemplo na época da autorizada Rolex, que simplesmente não há qualquer concorrência. Algum de vocês já foi até uma concessionária de automóveis, pegou o orçamento, achou um roubo e, depois de pesquisar, conseguiu fazer O MESMO serviço por um terço do preço?
Pois é... E se a autorizada fosse única e a fábrica, em NÍTIDA prática de monopólio, proibida por inúmeras legislações do mundo, simplesmente só vendesse as peças para a tal autorizada?
Melhor empresa do mundo! Você poderia fixar os preços que quisesse, uma vez que sem concorrentes no mercado.
Isso é um absurdo e, na época das discussões no tópico acima indicado, alguns foristas ainda tiveram a CORAGEM de defender as marcas com o simplista argumento de que "se você entra nesse hobby, tem que estar preparado para os preços".
Não tem ora! Nós vivemos numa sociedade onde os monopólios, justamente por não permitirem a concorrência, são absolutamente vedados.
Ora, por que raios uma autorizada Omega cobra na revisão de um calibre "simples", como o 2500, cerca de uns 800 reais, e a Rolex cobra, num relógio de mesma dificuldade de trabalho e preço, o DOBRO? E... Por que a Omega cobra 800 se um relojoeiro independente que tivesse acesso às suas peças cobraria 300?
O que discuti no outro tópico não foi o valor absoluto dos reparos, mas a total falta de escolha do consumidor. Eu, por exemplo, se existisse algum relojoeiro no Brasil certificado pelo WOSTEP, certamente faria revisões com ele, mesmo que cobrasse MAIS CARO do que as autorizadas. Mas... Ele não poderia revisar meus relógios, porque não teria acesso às peças!
Eu simplesmente não conheço nenhum mercado no planeta cujo reparo dos seus produtos é exclusivamente feito pelos próprios caras que o vendem ou seus autorizados.
E nessa discussão, as pessoas acabam sempre ponderando se é razoável revisar aquele relógio que está parado na gaveta que custa uns 4 mil reais, uma absurda quantia, mas cuja revisão, que num independente que no passado existia no Brasil custaria uns 500 reais, acaba sendo orçada em 2000 numa autorizada.
Eu espero que essa discussão, agora que foi lançada no Hodinkee, leve a alguma solução. Nós precisamos de mais relojoeiros no mercado, certificações claras destes e, sobretudo, uma política de preços clara no pós venda.
De que adianta possuir um produto que teoricamente é "eterno" se, numa ponderação de preço de reparo após alguns anos, este simplesmente tem que ser jogado numa gaveta porque os custos não compensam?
Confesso que já pensei não uma, mas algumas vezes em vender esse punhado de relógios que tenho em casa, ligar o foda-se e ficar com apenas uns dois, não pelo custo que o hobby me acarreta NA COMPRA dos produtos, mas NA MANUTENÇÃO destes.
O artigo aqui no Hodinkee:
http://www.hodinkee.com/blog/letters-to-the-editor-a-scholars-thoughts-on-the-old-watch-repair-conundrumFlávio