A escolha de 8 dias para alguns relógios não é aleatória. Na verdade, a maioria dos relógios de mesa possui corda para oito dias (eu tenho um para 16, mas sinceramente não é padrão), assim como os reguladores de pedestal. Por quê? Porque o usuário acostuma-se a dar corda uma vez POR SEMANA, havendo, então, um dia de "lambuja" no sistema.
Sobre as questões de torque de corda, mais alguns conceitos rápidos já discutidos aqui, mas que não custa repetir. Já perceberam que os relógios top costumam vir com inscrições do tipo "ajustado em 5 posições, temperatura E ISOCRONISMO?
Pois é... Isocronismo é a capacidade do balanço girar no mesmo "tempo", seja em arcos curtos ou longos. E isso é consequência direta do torque da corda.
Numa corda completamente cheia, mais "força" é enviada ao sistema, portanto, o balanço percorre arcos longos e, teoricamente, gasta mais tempo para liberar todo conjunto de engrenagens (através do escapamento). O relógio, pois, tende a atrasar. Quando a corda está baixa, o balanço fica faquinho, fraquinho, e percorre uma menor distância, o relógio tende a adiantar.
Essas questões já vinham sendo estudadas desde o tempo de Galileu, com pêndulos, pois ele observou que, independentemente do arco que este percorresse, o tempo gasto era o mesmo. Eh... Mais ou menos. A explicação era que nos arcos curtos, a distância era menor, mas na distância maior, arcos longos (tentem imaginar o pêndulo...), a gravidade impulsionaria este de forma mais rápida e, então, tudo se compensaria. Ou seja, em que pese o arco mais curto, o pêndulo vibraria mais lentamente do que num arco longo e, no final das contas, tanto faria se este fosse lançado de "longe" ou "perto", o tempo gasto seria o mesmo.
Bem, fato é que a gravidade não atua de forma linear assim...
Nos relógios de pulso, o isocronismo TEÓRICO foi alcançado com a mola do balanço (espiral). Pensem num balanço girando. Se nos arcos curtos a distância percorrida é menor, também é verdade que, nos arcos longos, a mola do balanço (espiral), se comprime com mais "força" e, portanto, lança o balanço de volta no seu arco com mais velocidade, o que compensaria a maior distância percorrida.
Mas sabemos que isso não é tão certo assim... Portanto, nos extremos da corda - ou muito cheia ou muito vazia- , o isocronismo perfeito é impossível de se obter.
Nos relógios automáticos, isso não é um grande problema, porque teoricamente o relógio irá funcionar quase sempre cheio e é ajustado para manter precisão nesse estado.
Nos relógios de corda manual, sobretudo com corda longa, porém, as diferenças de construção da mola (questão de metalurgia) começam a aparecer. Portanto, as fábricas costumam "desprezar" a porção final da corda, para aproveitar apenas a sua porção com torque ótimo.
Acho que deu para pegarem o conceito.
Flávio