Sim, e com conivência do governo suíço! Estamos falando de um período até meados do século XIX. A partir do meio do século XIX, os suíços alcançaram a hegemonia do mercado, sobretudo porque o sistema de produção deles altamente fragmentado (etablisage), permitia um menor "engessamento" da indústria e maior inovação. Os ingleses continuaram naquela de fabricar o relógio do início ao final em pequenos workshops. Não bastasse produzirem pouco, seus relógios passaram a ser "demodé", pois seguindo a tradição, os faziam em platinas duplas apoiadas em pilares, o que tornava os relógios altos. E a moda ditada na época passou a ser os relógios estilo "Lepine" (Lepine é o cabra que criou o sistema de pontes individuais para cada componente, o que facilitava montagem e, de quebra, ainda reduzia a espessura). Então, a indústria inglesa foi literalmente engolida pela suíça, e continuou apenas com a produção de cronômetros marítimos (salvo algumas exceções, com a Smiths).
Mas a expressão "para inglês ver" surgiu nessa época, acreditem se quiser! Os suíços eram os reis do contrabando, e fabricavam aos montes, nessa época, relógios com nomes dos grandes ingleses, como Arnold e Son. E como era algo fácil de contrabandear, inundavam o mercado inglês com tais relógios (entenda-se, movimentos, pois as caixas eram inglesas). O governo inglês, então, interpelava o suíço para editar leis que impedissem isso, e os suíços até editavam, mas não fiscalizavam porra nenhuma, por pura conivência.
Ou seja, os suíços reclamam hoje, e com razão, das falsificações, mas eles foram os primeiros a realizá-la de forma institucionalizada.
Flávio