Ontem, mencionei no tópico "Que relógio você está usando hoje?" que o Breitling Aeropace era um relógio com algumas deficiências, mas que ainda assim era charmoso, e por isso muito me agradava.
Passei anos correndo atrás desse relógio, pois é muito difícil encontrar um exemplar em bom estado de conservação e com preço justo, até que um dia apareceu e não deixei passar.
E tinha que ser desta exata referência, ou seja, E75362, que possui caixa de 40 mm de diâmetro, 9,8 m de altura, peso pena: 34,3 g, e, o principal, máquina Superquartz (movimento termocompensado).
Sempre quis tê-lo porque achava-o bonito e porque seria um bom relógio para o dia-a-dia: robusto, preciso e confortável, só que eu jamais havia manipulado por muito tempo um exemplar, então fiquei surpreso com algumas coisas.
Pra começar, surpresas positivas: achei o relógio incrivelmente bem feito para a época em que foi produzido (entre 2001 e 2004), desde a caixa em titânio, até o bracelete inteiramente sólido, também em titânio, mostrador, ponteiros, coroa e, em especial, o aro giratório:
O aro é todo rococó; enquanto num relógio comum o aro normalmente são duas peças (o aro em si e um decalque), nesse Aerospace ele é constituído por um monte de pecinhas.
Ele é muito bem gravado, com marcas a cada minuto, e aqueles parafusinhos por todo o perímetro não são só de enfeite, eles facilitam a manipulação pelo tato.
A cada 5 minutos há um parafusinho, e a cada 15 minutos um "brequetinho", além do pip luminoso. No escuro você poderia marcar um tempo só sentindo com as mãos. Difícil de explicar com palavras, mas é bem interessante.
O revestimento anti-reflexo também é excelente, e o aro alto protege-o muito bem contra riscos. Na maioria das vezes parece que o relógio não tem vidro:
Difícil ver essa qualidade de construção e acabamento em relógios concorrentes da época.
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Agora as tais deficiências que mencionei no outro tópico: como se pode observar, o relógio não possui botões, e todas suas funções são manipuladas pela coroa. Você gira a coroa para cima ou para baixo para alternar entre as funções, e a puxa ou empurra para definir e acionar a função escolhida.
Em tese parece ser uma solução elegante, mas na prática é uma porcaria, especialmente se você utilizar o relógio no braço direito, como eu. Tente aí, no relógio que você estiver usando, girar e puxar a coroa com ele no pulso...
Ou seja, para o relógio funcionar, você tem que tirá-lo do pulso quase toda hora! Você vai marcar uma contagem regressiva para cozinhar o macarrão, tem que tirar o relógio do pulso para poder girar a coroa até a função timer, puxar a coroa para ajustar o tempo, girar a coroa para definir os minutos e depois empurrar a coroa para começar a contagem regressiva. Haja paciência!
Mas o pior não é isso, o ruim mesmo é a [falta de] sensibilidade da coroa... Digamos que você queira ajustar um alarme: primeiro você gira a coroa até a função alarme, depois puxa a coroa. Agora, pra ajustar o horário você faz o seguinte: se girar a coroa um pouco e lentamente, você aumenta ou diminui os minutos; se girar muito e rapidamente, você aumenta ou diminui as horas.
Muito simples, correto? Mas na prática você mais erra do que acerta! Fico igual uma besta tentando acrescentar horas, mas a droga do relógio só acrescenta minutos kkkk... um ajuste simples que deveria demorar alguns segundos, eu levo longos minutos, girando a coroa pra lá e pra cá, até conseguir pegar a manha.
Operar esse relógio é tão desengonçado que a Breitling não teve dúvida em acrescentar dois botões no seu ana-digi realmente profissional, o B-1.
Outra deficiência deste relógio, e aí é uma coisa que acho incrivelmente idiota, é que o calendário é... anual!
Sim, todo ano, após 28/02, você vai ter que ajustar o calendário do relógio. Num relógio quartzo.
Eu não tenho palavras para descrever quão estúpida foi a decisão dos engenheiros da ETA que projetaram essa máquina ao optar por um calendário anual, quando até mesmo um G-Shock com 20 anos a mais nas costas já tinha calendário perpétuo até 2100. Simplesmente não dá para acreditar!
E, por fim, a última deficiência (chega, né!) é que os mostradores digitais não possuem luminoso, o que foi corrigido nos Aerospace que vieram em seguida, mas isso não me incomoda tanto.
Pelo menos os luminosos do mostrador e dos ponteiros funcionam bem.
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Apesar destas deficiências, gosto muito desse relógio, e reputo como uma das melhores aquisições que já fiz, superando de longe relógios muito mais caros e afamados.
É um relógio relativamente barato, é bonito, muito leve, confortável no pulso, vai bem com traje esportivo e não faz feio com roupa de escritório, é relativamente discreto, é multifunção, não perde o horário se ficar uns dias na gaveta, é super preciso e ainda aguenta tomar um banhinho (100 m), enfim, um belo relógio para o dia-a-dia!
Quando o comprei, prometi a mim mesmo que o mandaria para uma revisão da Breitling, mas estou curtindo tanto que ainda não tive coragem de me separar dele.
Desculpem o longo relato. Isso se chama entusiasmo, kkkk!
Abraços a todos,
Igor