Há coisas sutis nesse vídeo que devem ser ressaltadas, pois demonstra muito bem com é uma fábrica semi automatizada atualmente. Entenda-se: como funcionam Rolex, Omega, Breitling, Mido, etc, etc, etc.
Nem nos primórdios da relojoaria, como já ressaltei aqui uma dezena de vezes, a construção de relógios por apenas um relojoeiro era a tônica. Isso, se é que existiu algum dia, ocorreu nos séculos XV, XVI e XVII e olhe lá. E, em menor grau, talvez entre os grandes especialistas, no século XVIII. Esse lance "proficiência total" a lá George Daniels é coisa, acreditem se quiser, da relojoaria como arte, não da relojoaria como feita para construir algo útil.
Dito isso, vou lembrar de novo que o sistema suíço de construção de relógios perdurou até o início do século XX como de "etablissage": o "etablisseur", ou seja, o 'investidor comerciante", contratava dezenas de relojoeiros, CADA UM DELES TRABALHANDO EM SUAS CASAS, para fabricar peças específicas de relógios, nas quais eram especialistas. Depois, sob a gerência daquele, o montador "acabador" (de da acabamento), outra especialidade, juntava tudo e repassava ao comerciante.
Havia, pois, extrema divisão de tarefas no meio e esta continuou, mesmo quando Longines, Zenith, Omega, etc, juntaram todos os trabalhadores que faziam o serviço em casa numa "fábrica".
O que mudou hoje? Nada. Tirando a automação parcial da linha, nada. Percebam que os movimentos parcialmente montados seguem por uma esteira de montagem e param, sendo que um relojoeiro especialista naquela função repetitiva, realiza o procedimento. O movimento, então, segue em direção a outra estação, na qual outro procedimento é feito. Linha de montagem clássica... Se cada relojoeiro montasse individualmente cada relógio, como ocorre, por exemplo, em fábricas menores como Lange e Glashutte Original, seria impossível produzir 800 mil relógios por ano como, por exemplo, faz a Rolex.
E vejam, não estou sequer enaltecendo ou criticando os processos: ambos envolvem sim muito trabalho manual, mas numa fábrica que se dispõe a jogar toda a responsabilidade para um relojoeiro, o cara tem que ser mais especializado ainda e sequer podemos dizer que trabalhará melhor. São apenas filosofias de trabalho (e marketing, claro), diferentes.
Flávio