Cara, como objeto icônico... Eu não sou muito fã da palavra, mas eu tenho uma opinião sobre o APRO certamente não compartilhada com muitos por aí... Corrija-me se estiver errado, mas vou lançar aqui alguns números aproximados, paciência. Enfim, quando o RO foi lançado, em meados dos anos 70, a produção foi de cerca de 1000 relógios, e estes demoraram uma eternidade para vender. Afinal, não só estávamos em plena crise do quartzo como um RO custava o preço de uns 20 Rolex Submariner, e feito em aço!
Os anos se passaram e, reza a lenda, repito mais uma vez, complementem essa informação, pois estou escrevendo sem pesquisa, a AP fez mais uns 3000 relógios até os anos 90, o que não era uma quantidade pequena para uma "fabriqueta" como ela. E não vendeu tanto assim...
E aí, numa daquelas grandes tiradas de marketing, a AP começou a martelar o troço como "icônico", um design revolucionário na época, uma coisa fantástica, esse blá blá blá todo. Eu sinceramente não sei o que veio primeiro, se o marketing que levou os "Jet setters" a usarem os AP, ou a AP ter percebido que o relógio estava virando cool entre os jet setters e depois passou a marqueteá-lo mais fortemente, o que levou ao desenvolvimento do Off Shore e novos patamares de venda da marca. Eu não sei... Mas eu posso afirmar sem medo de errar que esse lance de "icônico" do RO é muito mais uma imagem "criada" pela marca do que efetiva realidade. Sério, vocês acreditam mesmo que um relógio feito em aço para uma clientela ultra rica, que vendeu poucos relógios no seu lançamento e, até meados dos anos 90, era um patinho feio no mundo dos relógios, pode ser considerado algo verdadeiramente, eu disse verdadeiramente icônico? Eu tenho minhas dúvidas...
Neste ponto, eu considero que o Chronomat tem um lugar na história da relojoaria muito maior do que o RO, porque a marca estava defunta e o Schneider teve coragem de dar a cara a tapa e lançar esse troço, em plena crise econômica das indústrias, num design bastante singular e vender pra caralho, a ponto de alavancar a Breitling, nos anos 90, como uma das "majors" do mercado (a marca faz uns 50 a 80 mil relógios atualmente).
Os relógios eram meio vagabundos nos anos 90, o que brilhava como ouro não era ouro, mas folheado, o movimento era um ETA 7750 sem qualquer tipo de acabamento, etc. Mas a marca reabriu as portas, assim como a Ebel o fez com seu modelo Sport Classic equipado com El Primeros, de 1982. Aliás, se eu fosse escolher um modelo "icônico" dos anos 80, o mais icônico de todos, seria esse Ebel, e alguém se lembra dele? Não, graças ao terrível modo como a Ebel foi gerida pela família Blum durante a década de 90, simplesmente jogando por terra o que fez nos anos 80 e, depois, pelo LVMH, ao não lhe dar o suporte devido.
Em síntese, o que eu quis dizer é que há produtos icônicos e produtos icônicos. E há ícones que se fizeram por contra própria, outros criados...
Flávio
Ps Um artigo sobre o Ebel citado no texto
https://monochrome-watches.com/old-school-ebel-sport-classic-chronograph/