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Crítica do livro All in Good Time, biografia de George Daniels

Iniciado por flávio, 01 Julho 2020 às 11:59:15

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flávio

Comprei o livro em 2013, logo após o falecimento de George Daniels, sendo que o esqueci na biblioteca até pega lo para ler há cerca de um mês.

O livro, escrito pelo próprio Daniels, conta sua história desde as suas primeiras lembranças, algo em torno de 4 anos de idade. Infância paupérrima em Londres, com pais completamente ausentes e abusivos. Mas percebemos aí que foi justamente esse tipo de criação (ou a falta dela...) que fez com que Daniels se tornasse uma pessoa individualista e disposta a conseguir o que queria de forma autodidata.

O livro também aborda a concepção de seus relógios e, sobretudo, o tormento que foi tentar convencer, durante quase 20 anos, alguma empresa a encampar o projeto e implementá-lo de forma industrial.

Finalmente, aborda também em profundidade o gosto de Daniels pelas corridas de automóveis antigos, sobretudo Bentleys, e a restauração de dezenas deles, algo que ele realizou pessoalmente e sozinho, como seus relógios.

A impressão que tive é que Daniels dedicou-se incansavelmente a atingir seu objetivo, ser reconhecido como um dos maiores relojoeiros de todos os tempos, trabalhando, dos 20 aos 85 anos de idade, entre 12 a 16 horas por dia, inclusive sábado, domingos e feriados (cada um dos relógios que construiu consumiu-lhe aproximadamente 4000 horas de trabalho ininterrupto. Somem a isso as dezenas de restaurações de automóveis e terão a dimensão da máquina de trabalho que era o homem).

Porém, e talvez justamente por isso, percebe-se que sua família tenha sido negligenciada, assim como ele próprio o foi na sua criação. Sabiam que ele foi casado? Pois é... Mas esse fato é contado em dois parágrafos no livro e, mesmo assim, com considerações a respeito do regime de bens deles (ela era riquíssima, ele não...). Sabiam que ele teve uma filha? Simplesmente isso não é sequer comentado no texto, apenas conclui-se em uma das fotografias...

A comparação com um dos meus ídolos, John Harrison, foi inevitável. Após o livro eu conclui que Daniels foi sim um gênio, um dos maiores relojoeiros de toda História, podendo ser colocado ao lado dos mais fodões no panteão, como Harrison, Mudge, Breguet, Arnold, etc. Mas para atingir o objetivo de ser um dos fodões, sua família parece ter sido jogada para escanteio. Sem contar que Daniels me pareceu ser uma pessoa ranheta e pão dura, apesar de conviver com as pessoas mais ricas da Inglaterra.

Enfim, curti muito o livro, vale muito a pena, a leitura é rápida e agradável, pelo menos até os 2/3 iniciais. A parte final, sobre os carros, é sim interessante, mas me parece "deslocada" na obra, não em conteúdo, mas em "local" na escrita.

Ps. Há um capítulo final adicionado post mortem pelo Roger Smith contando como se conheceram, etc, que também é um must.

Curti o livro, quem domina a língua e gostaria de conhecer o homem por trás dos relógios deve ler.


Flávio

João de Deus

João

igorschutz

Tenho uma primeira edição desse livro, autografada pelo homem. Já li duas vezes.

Sou fã do sujeito, pelo trabalho que realizou, mas, como pai, marido etc., realmente deve ter deixado a desejar. Aparentemente, casou-se porque todo homem descente, naquele tempo, precisava se casar e fazer família, e ele queria aparentar ser descente, a fim de subir na vida, então foi lá e casou com uma moça rica (cujo pai colecionava Breguets, ressalte-se).

Como profissional, a ética de trabalho dele era bastante rígida, e Daniels desdenhava de quem não fosse como ele. O problema é que nem 0,00000001% da população terrestre é como ele, então, basicamente, o homem fazia pouco de todos.

Na visão dele, os suíços foram demasiadamente orgulhosos, preguiçosos e teimosos por não adotarem seu escapamento co-axial, porém, esse é o lado dele da história. Com certeza não levou em conta que, para produzir dezenas ou centenas de milhares de escapamentos anualmente, você não pode contar com dezenas ou centenas de milhares de "georges-daniels" para fazer e ajustar individualmente cada um. Ele dizia mais ou menos assim: "Os engenheiros suiços, com seus jalecos brancos, ficavam lá fazendo um monte de cálculos, pra quê, se eu já dei a receita pronta?" Mas, pô, ele era um homem inteligente demais para saber a dificuldade de ser fazer as coisas em escala industrial, mas mesmo assim reclamava, e com qual objetivo? Queria ficar famoso a todo custo.

Era um gênio, mas tinha suas singularidades, como todos os seres humanos. É um livro que vale a pena.
Opinião é como bunda: todos têm a sua. Você dá se quiser.
Opinião é como bunda: você dá a sua e eu meto o pau.

NÃO ACREDITE NO QUE 'FALAM' AQUI, ESTUDE BEM E TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES

flávio

Como conseguiu autografado Igor?

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Jefferson

Igor e Flávio, muito legal seus comentários. Valeu!!!

igorschutz

Citação de: flávio online 01 Julho 2020 às 19:53:27
Como conseguiu autografado Igor?

Comprei em uma loja online, mas não comprei pela assinatura, comprei porque era o mais barato, na ocasião.
Então, não sei se a assinatura é verdadeira (presumo que sim), mas, pra mim tanto faz, pois não paguei por ela, kkkk.
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