Parei ontem para ouvir essa entrevista (em inglês), e descobri algumas coisas sobre o dito cujo que normalmente não são abordadas em entrevistas.
- O Roger Smith explicou que tem sim atuado em conjunto com a Universidade de Birmingham para desenvolver algum tipo de revestimento anti atrito e desgaste que possa ser usado em relógios e outras aplicações e elimine a necessidade de lubrificação. Ele não disse qual é a sua participação, o que eles tem em mente e qual o andamento da pesquisa, mas asseverou que está em curso. Eu andei pensando com meus botões o motivo de o Teflon (aliás, assisti a um filme sobre Teflon há alguns dias, chamado Dark Waters, que me deixou até com medo, quase joguei minhas panelas no lixo...) não ser usado em maior escala em peças de relógios. Aliás, que eu saiba, apenas a Rolex usa o revestimento, e mesmo assim apenas nas suas rodas reversoras. E, para dizer a verdade, eu nem sei se aquilo ali é Teflon mesmo, pois a Rolex é pouquíssimo transparente em seus dados técnicos...
- Há dado empírico a respeito da eficiência do escapamento coaxial e, sobretudo, dos novos escapamentos coaxiais de roda única que o Smith tem usado, sobretudo por serem mais leves (a roda de escape tem menos massa e momento de inércia): os relógios equipados com o novo modelo de escapamento usam cordas 4 vezes mais finas do que os anteriores, para manter a mesma reserva de marcha. Ou seja, é como se o modelo novo de escapamento fosse um "motor" de carro mais eficiente.
- Por falar em eficiência, Roger Smith é absolutamente contrário aos modelos de alta frequência. Segundo ele, é possível alcançar altíssima precisão com baixa frequência (ele usa 18 mil BPH. Por falar nisso, só tenho um relógio com essa frequência, o Cricket). E com baixa frequência você precisa de cordas com menos torque, que introduzem menor desgaste em todos os pivôs, rodas, e componentes do relógio. Ele assegurou que, do modo que estão projetados hoje e com os lubrificantes atuais (seu escapamento não usa lubrificação, ressalte-se), seus relógios funcionam tranquilamente sem perda de precisão significativa entre 10 a 15 anos. Ele disse que relógios de alta frequência "consomem" os lubrificantes dos pivôs de forma rápida, o que explica a necessidade de revisões nos relógios atuais, mesmo com óleos modernos, de 5 em 5 anos. Ele disse que seu objetivo é atingir a desnecessidade de revisões por 20 anos.
- A produção de relógios da manufatura continua estável entre 10 a 12 relógios por anos, com 3.5 anos de lista de espera. Ele disse, aliás, que só no ano passado começou a entregar o modelo 2 de sua linha! Ele não é contrário ao uso de novas tecnologias na fabricação, tanto é que adquiriu um torno CNC, mas isso não deve ser usado para incrementar per se a produção, mas sim torná-la mais racional e precisa.
- Há algo bizarro nos números de série dele, a exemplo da Breguet: eles não seguem uma numeração progressiva. Para cada série de relógio há uma série de números começando do 1. Por exemplo, há os números 1,2,3 etc do "Series 1", e números 1,2,3 etc do "Séries 2". Cada modelo de relógio, portanto, tem sua série própria. Mas não só... Se houver um "C" adicionado ao número, quer dizer que este foi "comissioned" (custom made), tendo alguma característica singular pedida pelo cliente. Mas não para por aí... Há números aleatórios na série, que foram pedidos por clientes, e ele aceitou fazer... Em resumo, o que achei bem estranho: não só os números de série são aletatórios como podem ser alterados a pedido do cliente, o que me soou bizarro: se o cliente quer e está pagando, whatever...
- Smith, a exemplo do seu mestre Daniels, também está desenvolvendo um gosto por carros antigos, ao ponto de desmontá-los. Ele disse que tem um Mini 1967, mas como já desmontou e remontou sem motor, etc, tendo adquirido conhecimento, está na hora de vendê-lo.
https://www.listennotes.com/podcasts/minutia-repeater/mr007-a-chat-with-roger-smith-dawZ0XLW7Mz/