Michael Faraday e Rolex Milgauss

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Offline flávio

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Michael Faraday e Rolex Milgauss
« Online: 20 Maio 2022 às 08:24:13 »
Post que coloquei hoje no Instagram

Em 1843, o cientista britânico Michael Faraday colocou um balde metálico de gelo vazio sobre um banquinho de madeira e o conectou a um eletroscópio para detecção de cargas elétricas. Então, utilizando um fio de seda, suspendeu uma pequena bola de latão e a carregou eletricamente. Finalmente, desceu a bola até o interior do balde sem encostá-la na sua parte interna. Mesmo assim, cargas foram detectadas no balde através do eletroscópico. Faraday concluiu que antes de a bola ser inserida no balde, as linhas de fluxo se espalhavam por toda a sala; quando dentro do balde, terminavam nas suas paredes. O experimento comprovava outro, realizado em 1836, no qual Faraday havia coberto todo um aposento com placas metálicas e lançado uma descarga elétrica de alta voltagem sobre suas paredes, sem que qualquer carga fosse detectada no interior. O experimento, conhecido por “Gaiola de Faraday”, comprovou a possibilidade da proteção de componentes sensíveis das influências de ondas eletromagnéticas.
Com a proliferação dos aparelhos elétricos, a influência do campo magnético sobre os relógios passou a ser sentida, o que comprometia a correta marcação do tempo.
Em 1954, com o intuito de realizar pesquisas a respeito do núcleo do átomo, foi fundada a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN). Reza a lenda que engenheiros do CERN, preocupados com os efeitos das suas experiências sobre os relógios que usavam, contataram a Rolex para solucionar a questão. Em 1956, então, a empresa apresentou ao mercado um relógio no qual o mecanismo encontrava-se envolto por uma cápsula em ferro, uma verdeira Gaiola de Faraday, tornando-o resistente a campos magnéticos de até 1000 gauss. O relógio, chamado Milgauss, foi fabricado até 1988 e relançado em 2007.
Em 2010, estava em Biel com o amigo Igor, quando comentei: não sei se consigo enquadrar a Rolex na “alta relojoaria”. Ele disse: você concorda que na alta relojoaria estão aquelas marcas que possuem o domínio das melhores técnicas, com produtos de excelente reputação e muita história por trás? E ao olhar para a fábrica da Rolex, pensei: tem razão, não só é alta relojoaria como sua melhor representante! No mesmo dia comprei este Milgauss.
« Última modificação: 20 Maio 2022 às 08:26:57 por flávio »

Re:Michael Faraday e Rolex Milgauss
« Resposta #1 Online: 20 Maio 2022 às 18:54:42 »
Interessante.
Eu achava que o relógio ficava dentro de uma caixa de outro tipo de metal. Não sabia que a gaiola de Faraday era de ferro.
Há alguma outra marca que usa o mesmo princípio, ou utilizam modos diferentes de impedir que o magnetismo afete o movimento?

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Offline flávio

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Re:Michael Faraday e Rolex Milgauss
« Resposta #2 Online: 23 Maio 2022 às 10:35:00 »
Quanto mais "magnético" o material, melhor funciona a gaiola, porque o princípio é de realocação de elétrons na sua superfície. É por isso, pois, que tem que existir uma caixa (ferro) dentro de outra (aço), porque o ferro puro (na verdade a Rolex usa uma liga com muito ferro) não tem nem de longe a mesma resistência mecânica e a corrosão do que ligas como o aço. Eu não sei quanto isso aumenta de peso no relógio, mas o problema sequer é a gaiola, mas o aumento do tamanho da caixa para acomodar o sistema. Hoje isso não é um problema, porque todos os Rolex tem caixas grandes. Mas quando o Milgauss foi lançado, um Datejust tinha 36 mm e ele 40, uma diferença significativa. Falando especificamente do Milgauss, é um relógio bem pesadão.

Sobre sistemas. Sim, existem vários que usam um sistema de Gaiola de Faraday, se não completo, como o da Rolex, que fecha tudo inclusive por cima, mas pelo menos um "guarda pó" metálico na tampa traseira. O Speedmaster usa (os sem safira atrás, claro).

Com medo de chutar errado, mas acho que os primeiros relógios a usar isso foram os IWC Mark 10...

O sistema da Rolex é composto por um sistema: gaiola de faraday com levees, espiral e eixo do balanço em ligas não magnéticas. Eu sou capaz de apostar que isso confere ao modelo uma resistência superior a 1000 gauss, mas como o nome do relógio é MILGAUSS, a propaganda vincula nome à resistência.

Hoje esse tipo de sistema, com gaiola de faraday, tornou-se obsoleto com a utilização de espirais totalmente não magnetizáveis em silício. Os Omega Master Chronometer, por exemplo, resistem a 15 mil gauss.


Flávio
« Última modificação: 23 Maio 2022 às 10:36:47 por flávio »

Re:Michael Faraday e Rolex Milgauss
« Resposta #3 Online: 24 Maio 2022 às 20:44:59 »
Interessante,  Flávio.
Acho o milgauss muito bonito, um dos mais da Rolex.
Sim, imaginei que estivesse obsoleto,  principalmente depois da utilização de polímeros, silício e metais não magnetizáveis nos relógios.
Obrigado