Flavio excelente trabalho, muito legal e achei o artigo interessantissimo ate mesmo para quem nao e ligado a horologia como nos por exemplo.
So fiquei com uma duvida sera que o tracado moderno das ruas em paralelo foi o que influenciou o resto das cidades no mundo? pelo que entendi comecou tudo em La Chaux-de-Fonds e Le Locle estou certo?
abracos e parabens
Paulo
Na verdade não. Há uma crítica que, inclusive preferi não abordar, que o traçado seria "americanizado". Com a declaração de independência dos EUA (algum tempo depois) editaram normas para construção de cidades, e a maior parte delas deveria seguir um esquema gradeado (o maior exemplo é NY). Porém, várias cidades na Europa, mesmo antes dos EUA, tinham cidades com quarteirões definidos, avenidas e ruas, tal qual La Chaux de Fonds. A singularidade de La Chaux de Fonds é que, de um projeto pequeno para evitar incêndios, o aumento popolulacional e a influência da maior parte da população fez com que o sistema gradeado fosse adotado, mas não apenas para evitar fogo, como no resto do mundo, mas para permitir o melhor tráfego de bens entre uma fábrica e outra (ainda no sistema de etablissage, não coloquei isso no texto), fachadas voltadas para o Sol (melhor iluminação) etc. O projeto em si não difere, por exemplo, do de NY. O problema é que lá pelas tantas, todos os prédios de LCdF se tornaram iguais, com as mesmas fachadas com janelões, formato retângulo. Existe, então, uma simbiose entre os prédios e o gradeado da cidade, tudo voltado para relojoaria. Na LCdF atual, todos os prédios, mesmo que não estejam sendo usados por fábricas, já foram algum dia. Então é muito curioso, pois todas as fachadas são iguais! Existem sempre janelões nas partes baixas, onde os relojoeiros trabalhavam, e janelinhas no último andar, onde moravam. Tudo igual...Por isso o tombamento.
Curiosamente, na cidade há fábricas bem modernas, que fogem totalmente do padrão, como a Cartier. O prédio mais bonito das fábricas que vi, mas que hoje não é usado mais pela manufatura, é o da Eberhard. Ele possui fachada bem trabalhada. E há também as casas que eram dos magnatas das fábricas, algumas delas projetadas por Corbusier, que são bonitas (curiosamente, eu e Igor não visitamos nada disso. Dava para ver a Villa Marguerite da GP do fim da rua, mas não fomos até lá).
Indiscutivelmente, a casa mais bonita que vi por lá - cuja foto está no texto - é a da família Dubois (que depois passou para a família Ducommun, da Doxa, e depois para a viúva do Nardin, da UN), onde está o museu de relojoaria de Le Locle, o Chateau des Monts. Puta mansão! Lá dentro é enorme! Você vê que é coisa de quem realmente tinha muita bala na agulha. Mas essas casas, em Le Locle, não ficam no perímetro "tabuleiro de xadrez" da cidade, mas num alto de um morro, onde estavam as fazendas (inclusive a casa de Jean Richard, preservada, está lá). Aliás, eu não sei como o Igor fez essa viagem antes - mas sem ir a Le Locle - no inverno. Eu sinceramente não sei como alguém pode visitar locais tão isolados e no alto de morros (haja perna! Tudo bem, tinha ônibus de hora em hora, mas subimos à pé mesmo) no inverno. Aí você imagina porque os caras trabalhavam nisso. Se hoje já acho difícil, imagine quando não havia trem, carros, nada disso.
Flávio