É uma questão complexa, e certamente impossível de analisar sem o "filtro" de nossos valores, contexto, etc...
A foto tem seu valor por nos mostrar a realidade, nos tirar da comodidade daquele exemplo da física quântica no qual, só sabemos se o gato está vivo ou morto se abrirmos a caixa.
A África é uma caixa que o Ocidente teima em não abrir, não quer saber se o gato está morto ou vivo.
O que acontece lá ocupa alguns segundos no noticiário entre a previsão do tempo e as notícias da moda...
O mérito de Carter foi ter aberto a caixa, e nos mostrado seu conteúdo.
O outro lado da questão, tem a ver com o contexto no qual a foto foi produzida...
Ao estágio de banalidade no qual a morte chega nestas zonas de conflito. Tentar salvar uma criança, entre milhares que provavelmente deveriam estar perecendo em diversos recantos naquele mesmo momento...o testemunho diário pode mudar uma decisão que para nós, aqui e agora, parece simples e inquestionável.
Carter, contou que aguardou algum tempo, esperou a ave ir embora. Como não saiu dali, ele a enxotou, mas decidiu sair dali o mais depressa possível, ao invés de resgatar a criança.
Optou por não presenciar o desfecho da história.
Junto com seus colegas, o chamado Quarteto Bang Bang, ele faz parte de uma geração que presenciou a violência do apartheid na África do Sul. A foto feita no Sudão, provavelmente foi uma das muitas imagens de fome e morte que o fotógrafo e seus colegas viram.
Um deles, Greg Marinovich, disse:
“Tragédias e violência certamente geram imagens poderosas. É para isso que somos pagos. Mas cada uma dessas fotos tem um preço: parte da emoção, da vulnerabilidade, da empatia que nos torna humanos se perde cada vez que o obturador é disparado".
Imagino que entre correspondentes internacionais deve ser uma conduta padrão a busca pela não-interferência. Tal como o personagem do universo Marvel, o Vigia, cuja função é somente observar, nunca interferir, estas pessoas devem criar, para a manutenção de sua sanidade, um mecanismo de defesa. Imaginar que não estão ali, que estão vendo aquele mundo através da lente da câmera, apenas isso. Imagino.
Novamente, uma questão de contexto. Olhando daqui, difícil concordar.Para quem está lá...
Mestre Gravina, espero não ter fugido muito do tópico.
Abraços,
Jefferson