Olá amigos!
Neste fim de ano, passei as festas no interior das Minas Gerais, lá na terra da minha patroa. Sabendo do meu gosto por relógios, meu sogro vive contando sobre um famoso relojoeiro ali da região, que inclusive chegou, por três vezes, a ser objeto de reportagem do Jornal Nacional (segundo ele, a primeira vez foi por sua habilidade em conversar com seu irmão falando italiano... ao contrário!, a segunda vez foi tocando acordeão e a terceira como relojoeiro).
Com um pouco mais de tempo livre, e contando com a boa vontade do meu sogro, tive a oportunidade de visitar o franzino e bem humorado
"Seu" Odílio, e pude constatar que nem toda essa fama lhe retirou a simplicidade, humildade e simpatia para nos receber em sua oficina.
Segurando um barômetro com mais de 100 anos, manutenido e banhado a ouro em sua própria oficina (detalhe: ele não possui uma máquina de banho, a produção é caseira, e perfeita!).Seu Odílio mora na cidade mineira de
Conquista, um município com menos de 8.000 habitantes, e não revela a idade (de acordo com o mesmo, já fez 50 anos... provavelmente de relojoaria!). Em sua relojoaria pouco equipada, ele não conta com Vibrograf, nem máquina de limpeza, nem volante para abrir fundos; certamente o trabalho não foi capaz de deixá-lo bem de vida. Mas Seu Odílio possui um torno, e muita habilidade. Com isto, é capaz de construir todas as peças para reformar e restaurar relógios de parede, coluna e mesa, sua especialidade.
Seu Odílio nos mostra um pinhão e engrenagens de um relógio de parede feitos pelo próprio.Muito humilde, Seu Odílio não é de ficar comentando e exibindo seus feitos, mas na nossa longa conversa, pudemos descobrir que ele nunca enfrentou um serviço que não pudesse concluir. Se preciso, faz qualquer tipo de peça para relógios grandes, até mesmo para relógios de igreja (os relógios das torres das igrejas das cidades de Conquista e Sacramento foram reformados por ele, e funcionaram por um longo período. Infelizmente hoje estão parados, pois Seu Odílio não tem mais segurança para subir as frágeis escadas de madeira das torres).
Seu Odílio contando seus causos.Além dos relógios, Seu Odílio também tem atração por qualquer objeto mecânico antigo, como fonógrafos, gramofones, vitrolas, máquinas de escrever, etc. Ele também os restaura.
Seu Odílio nos mostrando outra de suas paixões: vitrolas, gramofones e fonógrafos, que ele mesmo revisa e restaura.Um situação engraçada se deu quando Seu Odílio contou ter banhado a ouro o barômetro e a vitrola que aparecem nas fotos. Questionei quem naquela região interiorana faria esse tipo de serviço. Estranhando a pergunta, responde que "ele mesmo, uai". Pergunto se ele possui uma máquina de banho, e ele diz que não, explicando detalhadamente todo o complicado processo, que envolve dichavar o ouro em finas folhas, misturar diversos produtos químicos, polir as peças e aplicar a corrente elétrica, tudo feito ali mesmo, sem grandes tecnologias mas com muita engenhosidade e criatividade.
Seu Odílio é um caso raro de profissional completo, de uma época em que se fazia de tudo para concertar e "remendar" o que lhe caia nas mãos, já que o acesso à peças e componentes não era fácil. Um homem como ele, estivesse na Suíça, seria alçado à fama como porta-voz de alguma marca, tal qual a Montblanc fez com aquele senhora que entorna e vibra molas de balanço.
Espero ter outras oportunidades de encontrá-lo e ouvir mais de suas histórias. Seu Odílio merece ter sua memória preservada.
Um abraço a todos, e salve Seu Odílio!
Igor