Continuando com alguns exemplo, eis o Revue Thommen Cricket cuja história já é conhecida. Comprei-o em Kuala Lumpur (veio de lá), acho que no ano 2000 (foi fabricado em 1997), sendo que um ano depois o troquei por um Zenith, sob a condição que o compraria de volta quando ganhasse algum dinheiro. O comprador não manteve a promessa, esse troço rodou nas mãos de várias pessoas, e lá pelas tantas, retornou para mim, que o recomprei mais caro do que havia pago. E me deu um trabalho...Consegui diretamente com a RT, na "lábia" e de forma rápida (uma semana), peças que precisavam ser trocadas no movimento: mola do alarme, tirete e trava do alarme. Os ponteiros estavam oxidados, mandei refolhear a ródio, não achei que ficou bom. Há uns dois meses mandei para revisão novamente, para colocar o troço como era quando novo, revisão completa, colocação da mola do alarme (o antigo relojoeiro havia fabricado uma, pois depois que fechou o relógio é que recebi a peça, vieram em duas correspondências) e restauração dos ponteiros. Este relógio, antes de ser enviado para a revisão, fazia um barulho junto com o "tic tac", nhec, nhec, que já ouvira em relógios mais usados, acho que quem já ouviu vai se lembrar.
Enfim, em e mail enviado para a RT na época eles juraram de pé junto que esses calibres eram novos, mas eu nunca acreditei, sobretudo porque possuem o escrito MSR neles (a holding Vulcain, Revue e Thommen, até os anos 70). Ademais, poucos Crickets foram fabricados pela RT, e todos no ano de 1997. Para mim, são movimentos NOS colocados em uma caixa. São relógios que, em um Ebay da vida, podem ser comprados por preço razoável, muito menos do que a Vulcain cobra atualmente pelo seus modelos. Sim, a caixa e bracelente não possuem frescuras. Mas gosto do relógio, para mim tem valor sentimental e, só quem já ouviu um Cricket tocar sabe que TODOS os outros relógios com despertador são, como diria meu irmão, "coisa de bichinha". Eu tenho medo deste relógio, medo de ele despertar e eu morrer de infarto. Chega a ser exagerado o volume do troço. Mas enfim, desta vez ele voltou da revisão sem o barulho nhec nhec, visualmente perfeito (possui uma pequena marquinha de oxidação, pouco visível mesmo, é que sou detalhista, no mostrador), acho que dou um 8.5 para ele fácil.
Porém, mesmo revisado, o boletim de marcha se mostrou um tanto quanto bizarro e, mais uma vez, peço a ajuda dos profissas para intepretá-lo.
Inicialmente, observa-se que a amplitude nas posições horizontais está altíssima, o que poderia, pelo menos em tese, levar o relógio a bater pino. Como assim? O arco de giro está completo. Se lembrarem do desenho de um escapamento, o rubi de impulso poderia girar tudo e bater na parte de fora da forquilha da levee. Isso não só pode quebrar o rubi de impulso como causar um adiantamento absurdo no relógio.
O que estaria causando isso? Não sei...Esse movimento é uma verdadeira peça de museu, projetado nos idos dos anos 30, produção iniciada nos anos 40, uma velharia, bate a 18000 bph. Será que estaria ele com uma corda trocada, desde a fábrica, mais "forte" do que na época que foi lançado? Não sei. Há um outro dado também. Por projeto, sei que esses movimentos possuem diminuto atrito nas posições horizontais, porque as suas contra-pedras possuem um sistema, chamado exactomatic, onde o pivô se apoia sobre um rubi piramidal, com superfície de contato reduzida. O projeto visa melhor performance nas posições, justamente por reduzir o atrito que discuti acima.
Será que os pivôs estariam girando com tão pouco atrito que a amplitude estaria alta? Também não sei...
Será que esse boletim de marcha foi tirado logo após a revisão, sem que o lubrificante se assentasse no local? Não sei...
Fato é que, apesar de tudo isso e de uma aplitude exagerada, ele está até bem razoável, apresentando +5 em uma posição, 0 na outra, o ideal seria estarem iguais, mas até 5 segundos, em um relógio de boa qualidade, está razoável (e esse relógio, volto a repetir, usa um movimento de museu...).
A segunda posição mais importante, coroa para baixo, está bem semelhante a mostrador para cima, o que é bom, muito embora já possamos chutar que o relógio adiantaria alguma coisa no uso normal. A amplitude caiu o que deveria cair, mas é o que deveria se encontrar em uma horizontal, não vertical!
Nas demais posições, há uma diferença entre máxima e mínima que chega quase a 11 segundos. Razoável, bem razoável, mas isso já impediria o relógio de alcançar parâmetros do COSC. A abertura do escapamento (a diferença de tempo que existe entre um "tic e um toc"), na posição coroa para cima, está a 0.5 milisegundos, o que é considerado o máximo em um relógio de excelente qualidade. Comparada com as demais, não está tão discrepante, acho que é uma questão de qualidade do movimento (e projeto!).
No final, o relógio não está um "Ebel Type E" na performance, mas funcionando bem legal.
O que não entendi foram as altas amplitudes que, diga-se, terão tendência, a partir de agora, a diminuir, em virtude da deterioração do lubrificante. Acho que se eu colocasse o relógio hoje no timer, ele apresentaria uma performance melhor.
Eis o boletim:
Flávio