Comprei o referido Ebel E Type usado, mas ainda na garantia. A Ebel sempre forneceu a maior garantia do mercado (5 anos) e, como o meu havia sido fabricado em 2001 e adquirido em 2003, ainda tinha alguns anos pela frente. Comprei com caixa, certificado, etc, de um cara muito confiável e conhecido no mercado. Na época tais Ebels eram novidade e não custavam barato: paguei 4200 nele semi-novo, o queria de qualquer modo, sobretudo pelo calibre 137, peça chave no retorno da relojoaria mecânica. Novos esses relógios custavam, na época, quase 10 mil reais na revendedora autorizada, a Vivara (que, depois, quando perdeu a representação, "queimou" 1911s por cerca de 4 mil reais. Deveria ter comprado um! Não faz tanto tempo, talvez uns 5 anos).
Fato é que gostei do relógio desde o início, apesar da PÉSSIMA legibilidade, pois fundo prateado com contraste de ponteiros prateados e não enxergar nada. A linha não fez sucesso e foi abandonada pouco tempo após o lançamento pela Ebel, o que não me surpreendeu, já que a marca sempre foi conhecida por lançar relógios muito focados em designs de determinada época. Aliás, se autointitulam os "arquitetos do tempo".
De qualquer forma, mesmo hoje não acho o design "datado" e, pelo contrário, é cheio de detalhes, como a coroa trabalhada, as transposições entre polido/não polido, bracelete com os "es" da marca, etc...
Fato é que, alguns meses depois de adquiri-lo, o troço apresentou defeito: uma trava da roda do automático soltou-se no interior do movimento e travou tudo. Como ainda existia representante no Brasil, mandei na garantia para a Vivara. O relógio ficou um mês no conserto, voltou...Bem, voltou com a trava no lugar e funcionando, mas detonaram o rotor, com marcas de pinças, algo inaceitável em qualquer relógio, pior ainda em um decorado e com tampa traseira em safira. Arrumei uma confusão, trocaram o rotor, arranharam a platina de suporte do automático. De novo para revisão. Esse relógio - junto com o Longines Avigation - me deu muita, mas muita raiva.
No entanto, lá pelas tantas recebi o relógio, aparentemente zero e, pior, com um boletim de marcha (pedi, em 5 posições), zerando em 3 posições, adiantando no máximo 2 nas outras duas, amplitude perfeita. Dei-me por satisfeito. Isso deveria ser em 2004 ou 2005.
Sempre usei o relógio eventualmente, por ter vários. Há um ano mais ou menos, porém, o relógio começou a carregar mal. Era aparente que carregava mal, pois eu via pela tampa traseira que o rotor não girava livremente.
Um relojoeiro amigo, independente, analisou rapidamente o relógio e preferiu não revisá-lo, apenas lubrificou o garfo do automático (ele usa um magic lever igual ao da Seiko) e voltou a funcionar bem. Por pouco tempo...Dois meses depois, lá estava eu em outro relojoeiro, que o lubrificou novamente, só a parte do automático.
Não tive mais problemas com o relógio e, ao colocá-lo no vibrograph, ainda no ano passado, percebi que ele estava atrasando, com amplitude baixa mas, PASMEM, ainda passaria no COSC. Parece-me que a base desse relógio é muito boa.
Porém, os arranhões, riscos, etc, haviam detonado o charme do relógio, justamente as variações no seu design.
Dessa vez preferi não arriscar e mandei para o Mauro, que já havia mexido em uma...Êpa, digo um virgem meu, o Zenith Elite, cuja revisão foi postada aqui. Virgem é uma coisa, troço rodado outro...
Disse a ele que, pelo menos visualmente, já que minhas lentes haviam ficado em BH, não havia notado nada no movimento, a não ser a carga, que estava "um pouco" ruim. Preocupava-me mais o polimento.
Pois é...Mauro entra em contato comigo e as fotos falam por si. Havia sujeira (os retentores dos acionadores do crono já tinham ido para o espaço) dentro do relógio suficiente para parar uns 50 Pateks, parafraseando uma clássica do Walt Odets. Pior: o pivô da roda do sistema de carga estava completamente oxidado, assim como parafusos etc. A ponte do balanço havia sido marcada com caneta...
Olha, sempre fui muito cuidadoso com meus relógios, nunca imaginei que isso poderia acontecer com um deles.
No final das contas, fiquei a pensar quem havia mexido anteriormente nesse relógio, pois, como comentei com o Mauro, é impossível acreditar que o balanço tenha sido marcado à caneta na fábrica. Ora, a Ebel, fábrica que inclusive vi em La Chaux de Fonds, não fabrica tantos relógios assim, e é totalmente verticalizada e bem "manual" nas suas operações.
Só poderia ter sido o imbecil que trabalhava para a Vivara na época mas que, mesmo assim, conseguiu extrair desse relógio um desempenho que nem John Harrison pensaria.
No final das contas, o relógio foi completamente restaurado, com exceção de uma "gambiarra" que o Mauro disse que ele possui que, sinceramente, nem sei onde é. Disse o Mauro que havia uma pequena lima de metal, como se fosse um pedaço de corda, inserido entre uma das pontes, provavelmente para dar "altura". Diz ele que deixou como estava, muito embora eu não saiba para que serve tal peça (nem ele).
Visualmente, o relógio ficou perfeito. O movimento também parece perfeito e funcionando bem (estou testando há uma semana).
No final das contas, vejam as fotos, elas falam por si. Desculpem-me a qualidade das tiradas do relógio, pois o fiz agora, de noite, e fotos macro sem flash à noite, já viram, não presta. Mas dá para ter uma noção de como o relógio ficou. As fotos dos boletins de marcha correspondem a quando ele chegou em São Paulo e quando saiu de lá. Observem que, como disse, a base desse relógio parece ser muito boa (afinal, é um cronômetro), pois está tudo muito bom. Aliás, mesmo quando chegou lá, como disse, apesar de estar atrasando, passaria pelo menos nos critérios de precisão do COSC.
Deixemos a embromação de lado, as fotos:
Resumo da história: acontece nas melhores famílias. Não deixem que seu "rolex" pare para tratá-lo com carinho.
Flávio