O autor do texto trabalha para um fabricante de autopeças, provavelmente na subsidiária aqui do Brasil, e este é um setor que está sofrendo uma concorrência feroz dos chineses. Essa situação, na minha opinião, não permitiu ao autor realizar uma análise objetiva e neutra. Cito alguns exemplos abaixo:
(...) Uma das fábricas está de mudança para o interior, pois os salários da região onde está instalada estão altos demais: 100 dólares. (...)
Se a fábrica está de mudança para outra região é porque já houve aumento de salários em parte da China, o que é normal. Só que mais adiante no texto o que dá a entender é que os salários ficarão baixos para sempre e é por isso levará ao fim da manufatura em outros lugares do mundo. Oras, se os salários já subiram na parte menos pobre do país o que os impede de subir quando as regiões mais pobres ficarem menos pobres do que hoje?
(...) Então, num futuro próximo veremos os produtos chineses aumentando os seus preços, produzindo um "choque da manufatura", como aconteceu com o choque petrolífero nos anos setenta. Aí já será tarde demais. (...)
Comparar produtos industrializados com petróleo é, no mínimo, um absurdo. Caso ele não saiba, o petróleo é um bem escasso que não se encontra em qualquer lugar, e é exatamente isso que dá o poder de monopólio aos produtores, o que não ocorre com os produtos industrializados, já é possível erguer uma fábrica onde se bem entender.
(...) Então o mundo perceberá que reerguer as suas fábricas terá um custo proibitivo e irá render-se ao poderio chinês. (...)
Por que este custo seria proibitivo?
(...) Sendo ela e apenas ela quem possuirá as fábricas, inventários e empregos (...)
Se não existirão empregos nos outros países quem comprará os produtos chineses? Os ETs?
Poderia levantar outros do texto, mas acho que estes já são suficientes.
E existem outros dois pontos fundamentais que não foram abordados no texto:
1) Uma parcela nada desprezível da competitividade chinesa está no fato de que sua moeda é artificialmente desvalorizada. Se a China realmente fosse TÃO competitiva assim por que o governo se preocupa em manipular o câmbio? Tudo bem, no curto-prazo eles conseguem segurar o câmbio, mas essa estratégia de acumulação de reservas não é sustentável para sempre. Uma das consequências dessa política é o aumento da inflação, que já está perto dos níveis de 2008, quando as commodities subiram muito.
2) Não se pode esquecer de países como o Vietnã, que vem aumentando sua participação nas manufaturas e fatalmente assumirão o lugar da China se esta elevar muito os seus preços.
A discussão é obviamente muito mais longa, mas acho que já falei demais
. Então, para resumir, acho que o Sr. Luciano foi por um caminho muito "emocional" e sem fundamentação alguma para a sua argumentação, típico papo de botequim. Se ele tivesse escrito este texto em algum fórum como o nosso eu não teria problema algum com o seu texto, mas já que deve ter sido publicado em algum lugar mais "formal" acredito que o mínimo seria alguma base para os seus argumentos. E por isso acho que perdeu a oportunidade de ter ficado calado.
Abs!