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Valor Economico abre aspas
"Sem o segredo bancário, o mercado financeiro suíço perde importância
Autor(es): Assis Moreira
Valor Econômico - 25/02/2009
A praça financeira suíça, uma das maiores do mundo, será reduzida pela metade se a Europa e os Estados Unidos conseguirem desmantelar o segredo bancário helvético. A afirmação é de Ivan Pictet, um dos principais banqueiros privados suíços, em meio à tensão generalizada na praça financeira do país depois que o UBS fez o segredo bancário cambalear ao entregar os nomes de 250 clientes americanos ao fisco dos EUA.
AP Photo/Anja Niedringhaus
Mirabaud, da Associação Suíça de Bancos, fala em "honra perdida do UBS"
O valor na bolsa dos bancos de gestão de fortuna suíça caíram de 10% a 15% desde a semana passada, após o Ministério da Justiça dos EUA ter publicado um relatório devastador detalhando os métodos do UBS para ajudar clientes americanos a fraudar o fisco.
A Suíça é provavelmente o único país no mundo que faz distinção entre evasão fiscal (que não considera crime) e fraude fiscal. Sem essa distinção, que significaria não acolher mais legalmente o dinheiro de evasão fiscal de todas as partes do mundo, o banqueiro Pictet diz que o setor financeiro suíço passaria para algo entre 6% e 7% do PIB, comparado a 12% hoje. Segundo ele, o prejuízo seria enorme, porque 140 bancos estrangeiros sediados em Genebra não teriam mais razão de continuar na cidade, já que oferecem sobretudo o segredo bancário suíço. A especialização suíça de gestão de fortuna seria insuficiente para compensar a perda da dita proteção, disse Pictet em entrevista ao jornal "Le Temps", de Genebra.
A irritação no setor bancário e entre políticos, inclusive de direita, cresce contra o UBS. O presidente da Associação Suíça de Bancos, Pierre Mirabaud, fala de "honra perdida do UBS". A ação do banco despencou ontem pela primeira vez abaixo dos 10 francos, numa nova barra psicológica dita "fatídica" por analistas. Seu valor de mercado agora é de apenas 28,6 bilhões de francos suíços (US$ 24,8 bilhões), 80% a menos do que há um ano. O rival Credit Suisse tem valor de mercado de 32 bilhões de francos suíços (US$ 27,8 bilhões).
As revelações não cessam sobre as astúcias praticadas pelo UBS para ajudar seus clientes americanos a fraudar o fisco, com a divulgação de relatório pelo fisco dos EUA na semana passada. O banco pagou uma multa de quase US$ 800 milhões e entregou nomes de 250 clientes, uma capitulação que jogou por terra o segredo bancário e questiona o modelo de negócios da praça financeira helvética, que até hoje faz a distinção entre evasão fiscal (que não é considerada crime na lei local) e fraude fiscal.
A queda do presidente do conselho de administração, Peter Kurer, e de seu presidente-executivo Marcel Rohner, parece programada. Ambos são suspeitos de terem conhecimento do sistema do banco para praticar atividades ilegais nos EUA, o que eles negam.
A Suíça tem um acordo com os EUA, assinado em 2001, pelo qual todo americano possuindo ativos (ações ou dinheiro depositado) num banco helvético deveria declarar os ganhos em juros e dividendos. Mas o fisco americano detalha métodos dignos de James Bond de funcionários do banco suíço para praticar atividades ilegais no território americano entre 2000 e 2007, sob o manto do segredo bancário. Para receber as orientações dos clientes, o UBS criou um código, pelo qual cada moeda correspondia a uma cor e cada montante aplicado correspondia a um símbolo. Assim, uma noz amarela significava aplicação de 250 mil euros.
Para garantir o máximo de anonimato a seus clientes americanos, o UBS criou centenas de empresas fantasmas, onde os nomes dos verdadeiros donos das contas não aparecem, segundo o documento do fisco americano. Para encontrar os clientes ou buscar novos, o UBS mandava funcionários três a quatro vezes por ano aos EUA. Ainda segundo o relatório, o banco proibia os funcionários de imprimir qualquer documento no solo americano, e eram orientados a mudar frequentemente de hotel.
Além disso, o banco montou uma "hotline'', uma linha telefônica 24 horas por dia para dar orientação a seus funcionários no caso de serem pegos nos EUA, como chegou a ocorrer nos últimos dois anos, depois que um ex-empregado americano, Brandley Birkenfeld, resolveu colaborar com o fisco americano."