pow....
não tem um tópico sobre cães?
nao sou chegada a gato.
sorry.
Sim!
Abra um tópico sobre os caninos. Eu tive e já fui criador da raça Weimaraner, veja o texto abaixo:
Weimaraner
Já fui criador dessa raça de cães. São animais superiores e especiais sobre os quais tenho algumas histórias para contar.
Meu pai, um eterno otimista, gostava de animais e, mais ainda, de aparecer. Sendo vaidoso, estava sempre na vanguarda de seu tempo. Ainda pequeno, na época da construção de Brasília, o engenheiro José Solano por lá trabalhou e, como bom aventureiro, achou na estrada um filhote de avestruz. Colocando a ave no carro e a levou para conhecer a cidade maravilhosa. Na ladeira do Leme, havia uma bela casa com um pátio grande onde a ave seria cuidada pela minha mãe (sobrava sempre para ela). Ele, por sua vez, tomaria seus whiskies contando estórias sobre o Planalto Central e acompanhado por amigos incrédulos. Esse era o plano! E falhou... O bicho sobreviveu uma semana e foi de encontro ao Pai Eterno: morreu de fome, coitadinho. Não, por favor, meu querido pai não era má pessoa, não! Ele não deixou de dar milho, farinha com leite, migalhas de pão e outros alimentos para a penosa. A moça simplesmente não comia. O velho entrou em contato com biólogos e estudantes do assunto, só que não se podia contar com celulares nem com papai Google para ajudar. Assim, quando a solução chegou, o óbito já tinha ocorrido. Explico: a mamãe avestruz bota seus ovos e, antes de chocá-los, bica um e deixa lá apodrecendo. Os filhotes nos outros ovos, ao saírem, vão comer as moscas do irmão morto. Dessa forma, a espécie sobrevive nos primeiros dias. Esse meu pai...
Voltemos aos cães. Com mesmo espírito de vanguarda e exibição pessoal, o Coroa passou na casa do Moogen, um biólogo famoso da época. Após a conversa fantástica e sábia que tiveram, papai fez amizade com o cientista. Esse homem tinha cães Weimaraner. O cão dessa raça é diferente e raro, lindo: pelos prateados, olhos claros, belo porte e habilidades de grande caçador. Papai voltou para casa trazendo uma cadela no carro, tal qual fizera com o filhote de avestruz no passado. Com uns 4 meses de vida, eu vi Iaba, uma paixão logo de cara e um projeto de renda extra.
Jovem, já morando em Ipanema e com casa no Alto da Boa Vista, resolvi criar esses cães. Munido das informações básicas e desfilando com aquela belezura, fiz uma pesquisa de campo e descobri um negócio bem rendoso: investimento ZERO, custo de manutenção (comida) ZERO, venda FÁCIL e preço ÓTIMO. Assim, nasceu meu canil de Weimaraners, que foi um sucesso total! Vendi alguns e, quando estava prosperando, me mudei para a Barra da Tijuca. A casa estava localizada na avenida “F“ (hoje, av. Adilson Seroa da Motta), na quadra da praia. Então, me desfiz da criação. Contudo, levei comigo a cadela Tula, filha de Iaba. Tulinha era um amor, conquistava todos com seu suspiro ao sentar e no cruzar elegante das pernas. Corria comigo na praia da Barra, atrás dos pombos. Era lindo vê-la tentar pegá-los, mesmo sem sucesso, com aquele porte de caçadora, “congelando” ao ver a presa se aproximar – era a clássica pose de três patas no chão e uma suspensa ao ar, dobrada, prenunciando o ataque fatal! Bons tempos de praia vazia: Barra da Tijuca limpa, “mar caribenho” todos os dias... Saudades...
Taciana tinha medo de todos os cachorros nessa vida, menos de Tulinha. Tulinha sabia das unhas treinadas da patroa e, ao vê-la, corria com seu focinho frio para o meio das pernas dela e suspirava, esperando a divina carícia na cabeça. Bem, nem tudo é maravilha e a danada tinha problemas digestivos com uma fabricação espetacular de gases tóxicos, coisa de louco! Porém, até certo ponto, tudo tem um ponto positivo. Nas reuniões familiares, quando algum conviva soltava um “traque”, a coitada levava a culpa “Foi Tulinha”. E a cadela era enxotada para fora aos gritos de mamãe. Tulinha saía de cabeça baixa para o jardim e o “mão pálida” se safava do vexame.
Eles são animais especiais e com uma boa dose de sorte você pode ter um Buck na sua vida. Meu amigo de colégio, infância e bar, foi convidado a levar para casa um belo macho por mim escolhido, como prova da minha forte amizade. E lá se foi Luiz, com aquele cachorrinho de 3 meses, já vacinado e de rabo cortado (eu mesmo aprendi a cortá-los nas ninhadas, era fera nisso!), a cabeça de formato quadrado, uma pequena mancha no peito, cor adequada e patas grandes – um belo exemplar de Weimaraner. O problema é que esse amigo morava no Flamengo, num apartamento pequeno, cuja área era inadequada para receber o novo habitante. O plano “B”, em caso de recusa da mãe (dona Lúcia) dele, era levar o quatro patas de volta para minha casa e vendê-lo. Entretanto, o bicho era charmoso e bonito demais! Aqueles olhos azuis conquistaram a família Castro e, não deu outra, virou um ente querido da casa. Ele cresceu com o carinho habitual e a disciplina do meu querido Luiz, transformando-se no animal mais humano que já conheci: educado, comportado e obediente! Aprendeu a andar sem coleiras e atravessar a rua. Seu playground era o Aterro do Flamengo – uma festa! Ele corria feliz da vida pela grama, pegando as bolas que Luiz jogava. Até um fatídico dia, em que a namorada do Antonio, tio do cão, levou o bichinho para andar de bicicleta com ela na pista escaldante do aterro! Que sofrimento! O animal foi até o MAM com aquelas almofadinhas que os animais da espécie têm nas patas, um amortecedor natural – e voltou sem. Vocês já viram um hambúrguer na chapa com o pão por cima, quando se dá aquela levantadinha no pão para ver o ponto da carne? Uns 30º de inclinação já são o bastante para ver o cozimento, né? Assim estava o Buck – com 4 “hambúrgers” nas patas, olhos vermelhos e lacrimejantes. Enquanto isso, a Tereza reclamava de Luiz, “Você disse que esse cachorro corria, que decepção...”. O bichinho mancava e olhava para o pai num suplício final, “Me afaste dessa mulher “. E lá foi o Luiz colocar as patas do bicho on the rocks.
Nossa casa em Arraial era um paraíso. BUCK sabia que o mar era gelado, tanto que, ao ver Tereza, corria desesperado para água. Esse comportamento era estranho e eu nunca o entendi. Cachorro tem cada coisa esquisita... Outro drama era CHOPP, um boxer grande e pesado, que morava na Praia grande. O tal cão odiava o Buck e latia desvairadamente ao vê-lo, num ódio mortal: um, feio e preso; o outro, lindo, solto e de férias! Sacanagem! Então, deu-se o embate: a “tal bebida alemã” se soltou das ferragens que o prendia e num átimo correu na direção de Buck, indefeso adolescente. Uma luta de um atleta de vale tudo com o cantor Fiuk . Um cheiro de morte emergiu da areia branca – nós tínhamos que salvar o Buck! Tudo foi feito com coragem e valentia: cadeira de praia quebrando, barraca no quengo do cachorro e o pau comeu, quando num lance de habilidade, entre uma dentada e outra, nossa vítima foi resgatada com vida.
Hoje, sinto falta de um cão, amigo e parceiro. E se um dia, você leitor, quiser viver essa alegria animal, tenha um Weimaraner. Com muita sorte e benção divina, um outro Buck pode reaparecer na face da Terra – mas longe, bem longe do Aterro do Flamengo.
Roberto Solano