Pelo conceito é livre, pelas propriedades do silício utilizado nas levees. Mas vejam, muito se falou neste artigo sobre a desnecessidade de lubrificação como a grande vantagem do conceito, e isso é de somenos. Digo isso porque qualquer escapamento, mesmo o de âncora tradicional, que utilizasse uma roda de escape em silício e uma levee também em silício não precisaria de lubrificação. Quem é mesmo que está usando um modelo assim, onde o escapamento é absolutamente tradicional no seu projeto, mas utilizando materiais modernos que não precisam lubrificação? Salvo engano Seiko ou Patek, confiram isso aí para mim, esqueci.
Mas enfim. A diferença deste escapamento é evitar a flutuação de torque no sistema e, portanto, buscando manter o absoluto isocronismo de tudo. E sem a utilização de "mandrakes" que sempre foram utilizados na indústria de relógios (sobretudo os reguladores astronômicos), os chamados "remontoires" (na indústria de relógios de pulso são raríssimos, só lembro da Lange utilizando isso).
Não entendi porra nenhuma, dirão. Voltemos ao conceito básico de escapamento. Uma mola armazena energia, que flui por um conjunto de engrenagens, até chegar na roda de escape. "Do outro lado" da roda de escape, desconectado de forma quase absoluta, existe o balanço, este sim o mecanismo que está "guardando" o tempo, funcionando como se pêndulo de relógio de parede fosse. No entanto, se pegarmos um pêndulo na mão e o deixarmos vibrar de um lado para o outro, em pouco tempo este irá parar, por atrito com ar, mão, etc. Mesma coisa o balanço do relógio. Se de tempos em tempos este não sofrer um impulso, ele para. O que dá impulso ao balanço? A roda de escape que, no escapamento de âncora, "raspa" as levees (igual usavamos a palheta para dar impulso ao jogador de botão na nossa infância), que por sua vez "petelecam" o balanço e o mantém vibrando.
Tá. E daí?
E daí que é fácil perceber que devido à variação de tensão da corda e outras coisas, como atrito entre pivôs, etc, nem sempre (nunca, para dizer a verdade), esses petelecos são dados com a mesma "força".
Tá. E daí?
E daí que no conceito desse sistema da UN, o peteleco é dado não para impulsionar o balanço, mas para "carregar" uma lâmina de silîcio que está incorporada no próprio suporte do balanço, e esta sim, ao "dobrar", irá dar o impulso. Imaginem uma carta de baralho dobrada na mão, naquele limite que quando você dá uma apertadinha nela, ela dobra para o outro lado? É mesma coisa.
Ou seja, a grande sacada TEÓRICA deste escapamento é fazer com que o impulso que a roda de escape dá nas levees não chegue diretamente ao balanço, mas apenas "carregue" um sistema intermediário (que age como um remonotire), que são as lãminas em silício.
O fato de a roda de escape e levees serem de silício é de somenos importância aí, e os caras do Monochrome, com o devido respeito, parecem nem ter se atentado para isso. A grande sacada é um "remontoire", por assim dizer, feito em lâminas de silício, incorporado à propria estrutura do balanço.
Não sei se me fiz entender.
Flávio