É uma preocupação legítima.
Um relógio construído inteiramente em metais "comuns" como latão, aço e ouro, pode ser reparado e restaurado indefinidamente, a qualquer tempo, por alguém habilidoso com tornos, ferramentas comuns, etc.
Já um relógio construído com materiais high tech, como cerâmica, silício, carbono, plásticos, etc., se quebrar, quebrou, e se não houver estoque sobressalente, acabou, fim da linha.
A curto prazo, não há nada que se preocupar, especialmente no caso do cal. 8500, já que a Omega é uma puta corporação, que não vai quebrar tão cedo, e as peças feitas de silício não são partes que se desgastam com o uso normal do relógio (como uma corda, por exemplo), porém, a longo prazo, é preocupante sim.
A Omega, por enquanto, só tem usado silício na mola do balanço, já outras marcas, como a PP e a UN, além do cabelo, também já testaram rodas de escape e âncoras no material. Aí é um pouco mais preocupante, pois são partes com maior nível de desgaste a longo prazo (água mole em pedra dura...).
Outra preocupação é as peças feitas com materiais tradicionais, porém com métodos de usinagem de última geração, como o LIGA. Se uma roda de escape dos novos movimentos co-axial estragar e não existir mais estoque, não há santo na Terra que fará uma peça dessas num torno. O relógio vai pro lixo.
Então, a adoção de novas tecnologias num instrumento que tem o dever de durar muitos e muitos anos (décadas, séculos) é uma faca de dois gumes. Por um lado possibilita que a performance do movimento vá além dos seus pares com materiais e métodos tradicionais, por outro lado, de certa forma pode impossibilitar a duração a longo prazo do movimento, e ao mesmo tempo obriga-o a fazer a manutenção nas oficinas autorizadas da marca, que podem cobrar o que quiser.
Falando em relógios de preço baixo e médio, como um Omega, etc., o problema não é tão grande, pois se o seu PO não puder ser reparado daqui a 50 anos, o prejuízo já se diluiu em todo esse tempo, porém, quando tratamos de relógios do nível em que a APRP põe a mão (um RM de 800k euros, por exemplo), aí o papo é outro. Eu também não teria coragem de gastar toda essa grana num relógio que poderia me deixar na mão já na próxima geração da minha família; iria querer um relógio que durasse séculos, assim como um Breguet de 1700 e bolinha está funcionando exemplarmente até hoje.