Paulistano, não estou aqui para criar polêmica e, ao contrário do que vários possam achar, NÃO SOU RELOJOEIRO, nem hobbista. Sim, tenho uma bagagem teórica ENORME sobre relojoaria, sobretudo histórico/econômica (a veia técnica não é meu forte, embora também saiba muita coisa), mas minha incursão sobre movimentos de relógios ocorreu há mais de 10 anos, num ano em que eu quis ver "in loco" o que lia nos livros. Como disse, desmontei e lubrifiquei, sem me preocupar com ajustes, cerca de 20 relógios.
Dito isso e sem querer criar polêmica, mas apenas lançando minha opinião, discordo de TUDO que falou.
Já dizia minha avó que "quem não tem competência não se estabeleça".
Já que foram dados exemplos, vou citar um, que diz respeito à minha profissão. Sou promotor de justiça criminal há 11 anos. E... Bem, fui aprovado em 3 concursos e assumi a carreira 2 vezes, em duas unidades da federação. Sei Direito Penal (mais ou menos mas sei) e sei como colocar "pessoas na cadeia". Mas não sei, mesmo dentro da minha área, dar pitacos certeiros em Direito Tributário, Econômicos, até mesmo Cível, pois estou afastado dessas áreas há séculos. Portanto, quando alguém me pergunta alguma coisa sobre tais matérias, educadamente respondo: "não sei, mas conheço quem saiba e que pode te dar uma resposta abalizada".
O Donald De Carle, que dispensa apresentações, termina sua obra seminal sobre reparos de relógios com um capítulo chamado "O padrão do trabalho (exercido)". Ele indica 14 máximas que não podem ser esquecidas nunca pelo profissional de relojoaria, entre as quais pincei duas.
n. 2 "Todo relógios deve ser reparado de forma que sua aparência seja de novo. Se você precisa colocar uma nova peça e não existe alguma intercambiável, FABRIQUE a peça de modo a que ela se adeque ao relógio de uma maneira que até mesmo o fabricante teria dificuldades em dizer que é original"
Não precisa ser um relojoeiro que preste ou saber a história do que aconteceu para saber que o que foi feito nesse Omega não deveria ter ocorrido. Ora, se você possuísse uma Ferraria Dyno 1960 precisando de restauração, sabendo que a porta estava danificada, você adaptaria uma porta de Fusca no carro, tentaria procurar a original ou, na pior das hipóteses, fabricaria uma igual? Pois então...Não precisa responder.
Ainda que fosse plausível a justificativa de que o relógio precisava ser "colocado para funcionar", no exemplo citado do Rolex, lançaria outro exemplo. Se você algum dia fosse a um cirugião plástico e pedisse para que ele tranformasse sua cara na de um Lagarto (citei o exemplo porque já vi esquisitos do tipo), você, como bom profissional, aceitaria o trabalho? O "Zé das Couves" da esquina com certeza aceitaria, o Ivo Pitangui, duvido.
O que quero dizer é que só há dois modos de se fazer as coisas na vida: o errado e o certo. O meio termo faz o porco.
Para finalizar, não me esquecendo do De Carle, o último mandamento dele é "não zoar o trabalho dos outros". Seja educado, diz ele, ao receber um relógio que passou pelas mãos de outro profissional, aponte os erros e diga o que pode fazer para melhorar. Não critique de forma incisiva o trabalho do outro.
Também concordo... Já disse Shakespeare que "com a mesma severidade com que julgas, um dia serás condenado".
Poderia isso servir para o post incialmente lançado? Acredito que não, até mesmo porque não foi citado nome de ninguém. Na minha opinião, foi apenas um alerta " existe o meio certo e o meio errado de se fazer as coisas" . E olha que, como já notoriamente divulgado aqui, sou ABSOLUTAMENTE CONTRA ESSE monopólio que se formou entre as assistências técnicas no mundo. Na verdade, a questão tem sido amplamente debatida no resto do mundo que, diga-se, possui certificações para o curso de relojoaria, algumas em nível superior. O problema, no Brasil, diz respeito à força dos relojoeiros, que certificação alguma possuem e, portanto, não podem fazer frente ao monopólio imposto pelas fabricas.
Falo isso porque se aqui houvesse certificação entre os relojoeiros e as fábricas se negassem a fornecer-lhes peças, eu seria o primeiro a colocar o MP INTEIRO para analisar a questão e acabar com isso.
Flávio