Concordo em parte com o que disse. Na verdade, é sim muito difícil construir determinadas peças e, mesmo no passado, reparo com reconstrução de peças era feito conforme um critério de custo benefício.
O problema atual, como ressaltei, é que não há mais acesso às peças pelos independentes. No Brasil as fábricas ainda podem argumentar que não há certificação alguma para os relojoeiros e, assim, não seria razoável enviar peças para quem não sabe o que iria fazer com elas. No resto do mundo, porém, o curso de relojoaria tem certificação e os relojoerios tem encontrado vários empecilhos por parte das fábricas, que não lhes enviam peças de reposição para reparos, mesmo o cara tendo se formado no WOSTEP (que, diga-se, ninguém no Brasil possui, pelo menu conhecimento).
Na Austrália, a título de exemplo, a questão está sendo analisada pelo poder Judiciário de lá. Aqui, se a questão chegasse ao Judiciário, nos moldes de lá, as empresas perderiam. Digo isso porque ninguém - a exemplo dos automóveis - está obrigado a sempre levar seu carro para revisões em autorizadas; por outro lado, os não autorizados devem ter acesso às peças de reposição, sob pena de ser criado um monopólio indesejado e, também, impedir-se o exercício correto de uma profissão.
Portanto, mesmo no passado era raro algum relojoeiro fabricar peças, sobretudo as complexas, até mesmo porque era muito mais fácil obtê-la do fabricante. Não vale a pena, numa equação custo benefício, perder dias de trabalho para copiar uma roda, sobretudo num relógio feito em massa como os que vemos atualmente.
O que quis ressaltar é que em qualquer profissão existe um padrão correto de exercício. Existem maus promotores de justiça, lambões? Existem. Existem juízes lambões? Claro. Essa não é a questão. A questão é que o serviço porco é porco sob qualquer ângulo que se olhe.
No caso mostrado, qualquer pessoa percebe que o que foi feito não está correto. Se o movimento tivesse derretido dentro da caixa com ácido, a obrigação do cara, qualquer pessoa, seria procurar um movimento igual. A Omega não fornece? Comprasse um Valjoux 7750 de mesmo padrão. Também não é possível? É... Entre os 15 a 20 anos de idade, figurei entre os 10 melhores ciclistas de Minas Gerais (tenho 36 anos de idade hoje). Em 2006 comprei duas bikes novamente, depois de 10 anos parado, e voltei a pedalar. Mesmo treinando um ano e meio, não conseguia acompanhar o povo nas retas (nas subidas e descidas, principalmente, até que sim, porque brasiliense não sabe descer! hahahah). Treinei, treinei e percebi que não podia ser como antes. O que fiz? Viola na sacola e abandonei tudo. Flávio e suas histórias... O que isso tem a ver? Cada um vai até o limite de sua competência e deve saber qual é o limite. Neste ponto concordo com seu post. Se eu fosse o relojoeiro do caso e o relógio tivesse sido me apresentado, depois de estar há 5 anos afundado junto com o Titanic, pensaria: COMO É POSSÍVEL LEVÁ-LO AO MAIS PRÓXIMO DO ORIGINAL? Resposta. Trocando movimento. Não consigo. Passaria para o ponto seguinte. Fabricando um novo movimento. Isso vale a pena? Isso é possível? Não. Colocaria, então, minha viola na sacola, reduzir-se-ia à minha insiginificância e diria ao "cliente": não posso repará-lo. Não tenho competência para isso.
Flávio