Relógios Mecânicos

Espaço de discussões => Fórum principal => Tópico iniciado por: flávio online 08 Novembro 2013 às 15:58:00

Título: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: flávio online 08 Novembro 2013 às 15:58:00
Desde que comecei a estudar conceitos de relojoaria, deparei-me com um sem número de reguladores, dos mais simples "registros" adiantar e avançar, até coisas estranhas, como os de cronômetro da Omega (e Zenith, muito semelhantes) dos anos 50. Visualmente falando, gosto dos "pescoço de cisne", mas o padrão atual tornou-se o ETACHRON nos relógios da marca e suas variações em outras. Mas o regulador Triovis sempre foi considerado algo "superior" na indústria, sabe-se-lá o motivo... Já discutimos aqui os sistemas antichoque KIF e Incabloc, que funcionam do mesmo modo, mas aquele também goza de um sentimento de "superioridade" na indústria, embora tenhamos chegado à conclusão, na época, que isso não tem muita razão de ser.

Lembro-me de possuir dois relógios com regulador Triovis, o Zenith Elite e o Nomos Tangente, ambos com calibres "feitos em casa".

A pergunta para os que estão na prática é: existe de fato alguma vantagem na regulagem entre o Triovis e demais, sobretudo Etachron? E vou além: que diabo é Etastable nos reguladores da ETA? Ajudariam fotos para compreesão, diga-se de passagem... ???


Flávio
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Adriano online 08 Novembro 2013 às 16:51:58
Flávio, vou ficar devendo as fotos. Mas, o que o Triovis faz e o que o Etachron faz são coisas diferentes. Até porque Etachron não é um regulador ou um tipo de regulador. São duas coisas diferentes e que servem para coisas diferentes.

Back to basics: o que é um regulador? É o elemento no relógio que permite que você ajuste a marcha do relógio, fazendo-o adiantar ou atrasar. Como? Alterando o comprimento útil da espiral ou comprimento teórico, como queira chamar, que é o ponto onde a vibração da espiral termina, e isso ocorre no ponto em que a espiral passa por dentro dos dois pinos do regulador. Se você "encurta" a espiral, a marcha acelera. Se "alonga" ela, a marcha atrasa.

Ponto. Então o que é o Triovis? Nada mais que um tipo de regulador fino, ou regulador micrométrico, como preferir. Ou seja, ele faz a mesma coisa que o pescoço de cisne e outros tipos de reguladores micrométricos: ele permite uma regulagem super fina, pois no regulador comum, você não tem muito controle do quanto mover o regulador para lá ou para cá. Especialmente pelo fato de que o regulador é montado bem firme para que não se desloque com vibrações ou impactos. Quando você manipula o regulador direto com uma pinça, acaba movendo ele demais. O regulador fino permite um ajuste bem pequeno, invisível praticamente, mas efetivo. O parafusinho do Triovis faz isso: você gira ele para lá ou para cá para mover micrometricamente o regulador.

Já o Etachron é outra coisa: ele é um sistema de ajuste da espiral. Ajuste? Sim, ajuste, que é algo totalmente diferente de regulagem, embora os termos sejam comumente confundidos. O Etachron não faz nada com a marcha: ele permite sim um ajuste prático da abertura dos pinos do regulador e da centralidade/concentricidade da espiral. Como? O regulador possui dois pinos por onde a espiral passa por dentro. Os pinos apoiam a espiral quando ela expande ou contrai, a cada ciclo do balanço. Para que o regulador funcione como um limitador preciso do comprimento útil da espiral, é importante que os pinos estejam bem alinhados e corretamente espaçados, caso contrário, o comprimento útil da espiral pode mudar dependendo da posição de trabalho do relógio. Para você ajustar isso num regulador simples, normalmente tem que desmontar a ponte, virar de cabeça para baixo e afastar ou apertar os pinos com ferramentas. Trabalho delicado. O que o Etachron faz? Permite você ajustar o espaçamento dos pinos sem desmontar nada, e com o relógio funcionando, bastando colocar a ferramentinha em cima da cabeça do dispositivo. Isso não é apenas prático na hora da manutenção mas como, PRINCIPALMENTE, permite que isso seja feito por máquinas, automaticamente. Sacou?

O que mais o Etachron faz? Ele tem uma cabecinha semelhante sobre o porta-pitão. O pitão clássico é fixo no porta-pitão com um parafuso. Se o pitão girar para lá ou para cá, você consegue trazer a espiral mais para fora ou mais para dentro de sua concentricidade. Denovo, é trabalhoso fazer isso com precisão. Há pitões que são pré-ajustados: tem a forma de um triângulo que se encaixa no porta-pitão sem permitir que se gire para lá ou para cá. O que o Etachron faz? Denovo, com a ferramentinha Etachron, coloca-se sobre a cabecinha do sistema e gira para lá ou para cá, sem desmontar nada, ajustando a concentricidade da espiral. Denovo, permite que isso seja feito automaticamente.

Logo, o Etachron não tem nada a ver com regulagem, não diretamente, mas sim com ajuste. O Etachron, portanto, pode ser usado com ou sem regulador fino. Os ETA 2824, 2892 e 7750 modernos tem Etachron e regulador fino. Os Seiko 7S26 novos tem um sistema que imita o Etachron, funciona do mesmo jeito, e não tem regulador fino.

Por fim, Etastable: é um nome bonitinho para uma técnica que a Nivarox aplica sobre as espirais, pelo menos nas espirais fornecidas para a ETA. A espiral de qualquer relógio pode acidentalmente dobrar para dentro no ponto próximo à curva terminal mediante um impacto. O Etastable é um processo que consiste em temperar o ponto da espiral próximo à curva terminal, deixando-o mais resistente à dobra e evitando esse problema. Você percebe, olhando com uma lupa, que esse ponto da espiral é marrom, aquele tom de têmpera (antes do azul).

É isso aí.

Abraços!

Adriano
Título: Re: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: flavio online 08 Novembro 2013 às 17:47:07
Cara, compreendi tudo. Aliás, sabia de tudo mas não estava correlacionado os nomes ao que é. Vou procurar fotos para os demais. Mas na prática op relojoeiro gostam mais do parafuso da eta ou n lateral triovis? E qual a origem do mito do triovis ser melhor? Flávio
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Adriano online 08 Novembro 2013 às 18:00:40
Boa!

Cara, o parafuso do tipo do ETA 2824 e 2892 é bem prático e fácil de manipular. Aqui, denovo, é mais uma questão de ser mais prático para uma máquina fazer automaticamente do que exatamente para facilitar a vida do relojoeiro.

Eu não posso te dizer com certeza a opinião dos relojoeiros; além disso, relojoeiros são muito mais pessoais do que técnicos em suas opiniões e por isso nunca há consenso sobre nada, quando o assunto é opinião pessoal. O que uns adoram, outros odeiam.

Então vou na minha opinião, que já mexi com os dois: o Triovis é "mais milimétrico" do que o parafuso dos ETA. Além disso, o parafuso dos ETA nada mais é que um excêntrico então apesar dele movimentar bem pouco o regulador, ele não é muito analógico, você não tem referência com ele, você não consegue determinar com precisão o quanto de movimento do parafuso provoca o quanto de alteração na marcha. Você tem que virar e ver no aparelho o quanto deu. Aquela escala que tem perto do parafuso é de pouca utilidade, não é do tipo "cada tracinho significa um segundo por dia". O Triovis não, você consegue saber exatamente o quando virar o parafuso para fazer uma mudança de "X" segundos por dia. É tipo como um quarto de volta no sentido horário faz ele ganhar 1s/dia. É show de bola. Por isso acho que não é mito, ele é mais bem bolado.

Abraços!

Adriano
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: igorschutz online 08 Novembro 2013 às 18:32:15
Show de postagem, Adriano! Você de fato é um ícone do FRM!
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Alberto Ferreira online 08 Novembro 2013 às 18:55:02
Beleza!

Mais uma verdadeira aula, dada por quem já tocou com as mãos e sabe.
Mesmo que nas ressalvas das devidas "opiniões pessoais", é importante que se diga.


E principalmente que sabe explicar, e ainda mais, em linguagem acessível.
Tão importante quanto saber.

Gratos por mais essa, Adriano!

Alberto
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: flávio online 08 Novembro 2013 às 20:20:06
Achei rapidamente as fotos, onde deveria ter buscado inclusive as explicações desde o início: nos artigos do Walt Odets escritos há uns 15 anos, ainda referência na rede. As fotos são dele:

Na foto 1, vemos todo o conjunto de ajuste do balanço de um ETA 7750. 1 é o index do regulador micrométrico, 2 o parafuso de ajuste excêntrico, que gira 3 e altera o comprimento útil da mola. Ao lado do 3, preso por uma "pinça", o piton que pode se movido para um lado e outro. Esse é o sistema Etachron.

(http://i125.photobucket.com/albums/p79/flaviop/etamicrometrico_zps2d40fc17.jpg) (http://s125.photobucket.com/user/flaviop/media/etamicrometrico_zps2d40fc17.jpg.html)


Numa foto em close up o sistema Etachron. O ponto 1, acredito, é onde se aplica o Etastable, a dobra da mola.

(http://i125.photobucket.com/albums/p79/flaviop/etachron_zps864575c1.jpg) (http://s125.photobucket.com/user/flaviop/media/etachron_zps864575c1.jpg.html)

Aqui um Triovis usado no JLC 882, que a IWC colocava nos seus Mark XII. O 1 é o parafuso de ajuste.

(http://i125.photobucket.com/albums/p79/flaviop/triovis_zps4faf8fec.jpg) (http://s125.photobucket.com/user/flaviop/media/triovis_zps4faf8fec.jpg.html)


Ah! Olhei agora e meu Ebel Type E também usa Triovis.


Espero que todos tenham entendido melhor agora! Meu vacilo deconceitos acabou sendo bom pela explicação da pesada do Adriano.


Flávio
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: CHICO online 08 Novembro 2013 às 23:15:23
Show de tópico!
Top!!!
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Daniel Eira online 08 Novembro 2013 às 23:51:35

Tópico sensacional! 8)
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Adriano online 09 Novembro 2013 às 13:49:06
 Imaginem, só tento "agregar valor" ao fórum! ;D

Flávio, perfeitas as imagens, é isso aí.

Abraços!

Adriano
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Bernardo online 09 Novembro 2013 às 20:38:22
E quanto ao tipo de regulador que equipava o antigo Seiko KS 5625? É um bom sistema?

(http://i847.photobucket.com/albums/ab33/nikidasi/5625/KING%20SEIKO%205625-7000%20941428/KINGSEIKO5625-7000941428_Externalfineregulationscrew_zps7438f9c4.jpg)
fonte: http://www.thewatchsite.com/21-japanese-watch-discussion-forum/38743-regulating-king-seiko.html (http://www.thewatchsite.com/21-japanese-watch-discussion-forum/38743-regulating-king-seiko.html)

Abs,
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Adriano online 09 Novembro 2013 às 21:17:44
Qualquer regulador fino é melhor que nada. Esse regulador dos KS também não oferece precisão "calculada", mas tem como proposta uma idéia muito legal: a de regular a marcha com o mecanismo montado na caixa e a caixa fechada. Isso evita que a regulagem feita seja perdida depois de se montar o mecanismo na caixa.

Agora, que fique claro: nenhum regulador é melhor do que a ausência dele, com o uso de balanço de inércia variável. É de longe a melhor solução.

Abraços!

Adriano
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: GuilhermeLago online 11 Novembro 2013 às 11:10:21
Botando mais lenha nessa fogueira, o que me dizem do EFAS (extra Fine Adjustment System) da Accutron? Com ele, não é preciso sequer abrir o relógio para fazer a regulagem.
(http://www.watches-of-switzerland.co.uk/wp/wp-content/uploads/2012/09/Bulova-Accutron-Calibrator-Copy.jpg)

Não consegui achar nehuma imagem dos "intestinos" do bicho prá saber como ele atua no regulador e também não tenho certeza de se essa "facilidade" é mesmo útili. E então, quais as opiniões a~i?

[]s!
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Adriano online 11 Novembro 2013 às 12:16:03
É a mesma coisa que o sistema do King Seiko, mas pior: é feito para o próprio usuário ajustar a marcha.

A idéia do próprio usuário ajustar a marcha do relógio é ótima, mas com o que ele vai aferir essa marcha? Daquele jeito tabajara de comparar com outro relógio? É totalmente impreciso e inútil. É a mesma coisa que você bolar um carro onde você mesmo ajusta a potência dele. Beleza. E como você averigua isso sem ter um dinamômetro em casa? Você consegue sentir se seu carro ganhou ou perdeu 10 cavalos só dando uma arrancada em primeira e segunda marcha na rua da sua casa?

Enfim, acho a mesma coisa. Uma idéia muito vendável, pouco eficiente, ou quase nada eficiente. Pois se você não medir com precisão a marcha, não medir nas condições corretas de corda, vai fazer ajustes imprecisos e piorar a marcha. Tem que ser corajoso para encarar o pós-venda disso.

Mas, claro, só minha opinião, posso estar enganado.

Abraços!

Adriano
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Dicbetts online 11 Novembro 2013 às 14:39:17
Mais conhecimento assimilado.

Excelente tópico: dúvidas pertinentes e explicações sem empolação ou professoralismo.

Fizeram o complexo parecer fácil.

Parabéns a todos.

Dic
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: FALCO online 12 Novembro 2013 às 20:23:06
Citação de: Adriano online 08 Novembro 2013 às 18:00:40Cara, o parafuso do tipo do ETA 2824 e 2892 é bem prático e fácil de manipular. Aqui, denovo, é mais uma questão de ser mais prático para uma máquina fazer automaticamente do que exatamente para facilitar a vida do relojoeiro.

Adriano, em resumo, qualquer que seja o tipo de regulador esta é uma vantagem para o relojoeiro, não para o proprietário do relógio, correto? No principio que esta peça ajuda na manutenção (serviço) e não no desempenho do relógio.
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: flávio online 12 Novembro 2013 às 21:04:36
Falco, não. O regulador é fundamental no ajuste da "precisão" do relógio. Através do regulador, você ajusta a marcha diária do relógio em cada uma das posições. O sistema não deve ficar à disposição de usuário porque "ajustar" um relógio não significa apenas saber que o relógio está atrasando e, com uma chave, girar o regulador micrométrico para o "adiantando". Se fosse assim tão simples, não existiria a função específica do relojoeiro "regulador", como mostrei em outros tópicos os caras que regulavam os relógios da Omega para competições.

E explico o motivo, de uma forma simples. O balanço é redondo e supostamente equilibrado, como uma roda de bicicleta. Ou seja, um balanço, colocado em qualquer posição (seu relógio colocado em qualquer posição, entenda-se), tende a estar em equilíbrio sempre. Uma roda de carro está sempre em equilíbrio assim, o centro de gravidade o mesmo.

Porém, o conjunto regulador não é composto apenas do balanço, mas há a espiral que faz o movimento e vai e vem dele. E a espiral, pelas próprias fotos que coloquei acima, tem um ponto de fixação ao final de sua curva. Dependendo da posição em que o relógio estiver, o "peso" das espirais irá "cair" de forma diferente e isso acarreta erros. O troço mais difícil de se conseguir num relógio é o equilíbrio no ajuste posicional. Recomendo uma releitura do tópico sobre análise de boletins de marcha. É por isso que num relógio bem ajustado, como os cronômetros, costumam até mesmo imprimir no corpo da platina inscrições como "ajustado em tantas posições".

Partindo do pressuposto que entendeu esse conceito, que está colocado de uma forma mais tosca do que é para facilitar o entendimento, parto para outro.

Imagine agora o regulador. Se entendeu como funciona, ele ALTERA o comprimento útil da mola. Em síntese, ele altera todo o "formato" da mola a cada vez que você gira o mais ou menos do registro.

Ou seja, a cada vez que você muda o regulador, você altera TODO comportamento da mola EM TODAS as posições, e de forma imprevisível! O relojoeiro tem que ajustar tudo em cada posição e conseguir um equilíbrio em todas as posições. Afinal, pode o relojoeiro conseguir um zero de erro na posição mostrador para cima e, quando colocar coroa para cima, o relógio passar a adiantar 50 segundos; para compensar isso, ele reduzirá essa posição o que poderá...Detonar o ajuste na outra! É difícil bicho! E com regulador então, que a cada mexida, muda TODO comportamento da mola, uma chatice.

Vou seguir um pouco mais. E se tirássemos o regulador e, ao invés de mudar a mola, o que acarreta esse monte de problemas aí, alterássemos o momento de inércia do balanço, mantendo-o sempre equilibrado? Como assim? Ora, se o balanço tivesse pesos nele, bastaria jogar o "centro de gravidade" para fora que ele ficaria mais lento (lembre-se de uma roda de bicicleta girando); se jogasse o "peso" do balanço para dentro, aumentaria a velocidade.

Ué Flávio, por que não fazem isso.

Aí encerro o post. Fazem. Mas só em relógios de escapamento de qualidade superior. Estes são conhecidos como "free sprung", ou seja, SEM REGULADOR! O ajuste é feito alterando pesos no próprio balanço.

Que maravilha, e é comum? Não é em marcas, mas acaba sendo em volume, porque uma marca que faz um monte de relógios por ano, com uma construção de movimento até meio tosca, MAS COM UM SUPER ESCAPAMENTO, o usa: Rolex.

Como já disse aqui, os movimentos da Rolex não são conhecidos por serem bonitinhos, mas o escapamento deles é foda demais, sem regulador e com espiral de Breguet, que torna a mola absolutamente concêntrica no seu jogo.

Mas quem começou com isso foi a Patek. Nos escapamentos da Omega coaxiais usam também. Não é de se estranhar que essas marcas ainda sejam as mais "precisas" no mercado, sem a frescura de turbilhões, etc, etc. Eles simplesmente usam um puta escapamento sem o regulador.

Uma foto do Giromax da Patek. Procure o regulador. Encontrou? Pois é... Não existe. Agora preste atenção nos pesinhos NO BALANÇO! Aí que se ajusta o relógio. Peso para dentro aumenta a velocidade do relógio; peso para fora, diminui. E você sempre faz isso dois a dois, em sentidos opostos, para manter o balanceamento do... balanço, como numa roda de bicicleta, onde sempre se ajustam os raios opostos.

Deu para entender? Ah, a foto:

http://www.users.cloud9.net/~bradmcc/240/BalanceStationaryDsc00077.jpg


Flávio
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Adriano online 12 Novembro 2013 às 21:37:00
Foi dito tudo! O balanço "free-sprung", ou "de inércia variável", em "tupi-guarani" ;D, é sem dúvida a melhor solução.

Posso resumir assim: você muda a marcha alterando um elemento super estável - o balanço, e não um elemento sensível e que necessita ajuste. Cada vez que você regula pelo regulador, você desajusta a espiral, muda seu centro de gravidade, muda seu centro geométrico...

Quando regula alterando a inércia do balanço, o ajuste é intocado. E mais: a regulagem da inércia é sempre controlada, como num regulador micrométrico: cada voltinha no parafuso Microstella do Rolex, ou no semelhante dos Omega, ou cada "x" graus de giro nos excêntricos Gyromax da Patek e AP, representa um avanço ou retardo de exatos "y" segundos por dia.

Tá adiantando 4 s/dia e quer baixar para 1 s/dia? Gira os pesinhos ou os parafusos na quantidade certa e voi lá. Agora, se não girar os pesos ou parafusos opostos exatamente na mesma quantidade, aí lasca tudo pois desbalanceia o balanço. Por isso, é perfeito DESDE QUE seja feito por que sabe o que está fazendo.

Uma história mórbida que presenciei esses dias: recebemos um AP RO dos primeiros feitos, ou seja, o verdadeiro e original Royal Oak, com calibre 2121. Mas que infelizmente deve ter passado por vários açougues... Os parafusos de ouro branco destruídos e adaptados por uns de ferro é quase praxe, mas havia algo bem pior: o balanço, com Gyromax, parecia perfeito, os pesos alinhadinhos... eis que na inspeção, descobrimos a parte de baixo do balanço toda furada com broca... alguém que não achou o regulador e não sabia o que era o Gyromax, simplesmente tirou peso do balanço, na broca, para regular a marcha. Virou lixo...

Abraços!

Adriano
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: flávio online 12 Novembro 2013 às 21:46:50
Adriano, vou fazer então uma pergunta indecente e obscena sobre preços, mas também sobre comportamentos idiotas de donos de relógios caros que, supostamente, deveriam saber que "certas coisas não se devem fazer". Se bem que... Se bem que já citei aqui um grande amigo (está entre meus cinco grandes amigos) ultra mega rico que só possui relógios de patrão e DETONA sem dó todos eles. Eu até não o questiono de detonar os relógios, afinal, para ele um Royal Oak em ouro (ele tem dois) é um G Shock. Mas ele abusa. Já pulou no mar diversas vezes com um Hublot Senna e várias vezes quebrou. Ele coloca a culpa na... Hublot!

Mas voltemos aos meus questionamentos. Partindo do pressuposto que o imbecil no seu exemplo trocou os parafusos de ajuste por outros, acredito que de quebra fodeu a rosca do balanço, certo? Só por curiosidade: o que tiveram que trocar aí e quanto ficou, se pode falar. E, claro, se a AP ainda tem as peças.

E como vocês lidam com os donos desses troços, tentando explicar a eles que isso não se deve fazer? Digo isso porque sinto-me feliz por ter lançado "luzes" ao criar esse site, mas no final das contas, somos 2000, uma parcela ínfima e, sei lá se com tanta influência assim entre os usuários, globalmente falando.

Enfim, como educam cupins que devem comparecer por ai?

Flávio
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Adriano online 12 Novembro 2013 às 22:32:28
Flávio, eu nem tenho orçamento ainda, ainda aguardo resposta da AP se vamos poder mexer nele ou se tem que ir para Le Brassus.

Agora, sobre como educar... bem... eu diria que é mais frutífero orientar e educar o cara que já cuida bem do relógio do que o que não cuida. O que não cuida, de certo modo, o orçamento fala por si e já é uma "bronca" ou susto suficiente. Pois não é por falta de instrução ou informação, mas uma distorção cultural, digamos. É raríssimo o cara que estraga o relógio numa manutenção barata, assumir que fez errado. Normalmente termina é acusando a autorizada de "assaltar" ele...

Eu realmente não vejo muito mal em usar o relógio até virar pó, seja lá quanto custou. Afinal, pelo menos o cara usou aquilo, tirou proveito. Para um colecionador, gastar digamos 2k de dilmas para revisar um Speedmaster pode ser caro, mas para o cara que só tem esse ou mais um ou dois relógio, comprou o Speedy há dez ou quinze anos, usou até virar pó, aí paga 2k e tem o relógio novo denovo como se tivesse saído da fábrica, e malhar ele por mais dez anos... Me parece ser bom negócio, visto o quanto é comum esse tipo de conserto.

Agora, o que dá dó é, tenha usado muito ou não o relógio, tentar economizar na manutenção e terminar tendo que gastar muito mais do que a média. Aí é mau negócio.

Lembro-me de um Aquaterra com calibre 2500. Bonitinho, sem amassados... tinha tudo para ser, na época, uma revisão simples de 600 reais. Mas o cara levou em alguém antes... que arregaçou com os parafusos do balanço, entortou a âncora e SUMIU com a roda de escape co-axial. Resumo da conta? 4,5k... Resultado posterior? Fez reclamação da assistência para a marca, para o representante no país e para a revista Pulso, acusando a assistência de abuso, disso e daquilo. Só resta à assistência documentar tudo e mostrar para o consumidor e para a marca que todos os procedimentos e normas, e principalmente tabelas de preços, foram seguidos rigorosamente.

E aí, bem vindo ao meu dia-a-dia.

Abraços!

Adriano
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: CHICO online 13 Novembro 2013 às 01:01:04
Citação de: Adriano online 12 Novembro 2013 às 22:32:28
(...)e SUMIU com a roda de escape co-axial(...)

Uma pergunta.
Como o cara colocou outra roda de escape (não co-coaxial), e fez o relógio funcionar?
Deve ter sido o Santos Dumont ou o Professor Pardal quem fez a revisão ;D

Abraço
Chico
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: ESTRELADEDAVI online 13 Novembro 2013 às 07:46:47
Mais pelo que eu entendi da explicação do Adriano, simplesmente o relógio não funcionou mais rsssss. Tanto que o dono resolveu mandar para quem entende de verdade deste relógio, mais já era tarde.
Num caso desse o "barato" saiu caro.

Abraços

Weber
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Adriano online 13 Novembro 2013 às 08:37:36
Sim, o relógio não funcionou mais, os ponteiros giravam "a milhão" quando se dava corda.

O cara faz isso, e quando recebe o orçamento da autorizada, diz que é todo mundo ladrão. A culpa não é dele nem do açougueiro que mexeu no relógio antes, a culpa é da autorizada que explora os pobres consumidores de relógios de luxo.

Abraços!

Adriano
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: CHICO online 13 Novembro 2013 às 08:46:00
Que loucura!
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: FALCO online 13 Novembro 2013 às 11:35:21
Citação de: flavio online 12 Novembro 2013 às 21:04:36Falco, não. O regulador é fundamental no ajuste da "precisão" do relógio. Através do regulador, você ajusta a marcha diária do relógio em cada uma das posições. O sistema não deve ficar à disposição de usuário porque "ajustar" um relógio não significa apenas saber que o relógio está atrasando e, com uma chave, girar o regulador micrométrico para o "adiantando". Se fosse assim tão simples, não existiria a função específica do relojoeiro "regulador", como mostrei em outros tópicos os caras que regulavam os relógios da Omega para competições...

Flavio, muito obrigado pela resposta, muito completa e inteligível.
Sua resposta me faz pensar mais agora. Pergunto, 2 reguladores (as peças/partes não o profissional) ótimos, mas um mais sofisticado (não sei se este termo é bem utilizado) que o outro chegarão ao mesmo desempenho de relógio, apenas 1 deles sendo mais "fácil" para o profissional que regula ou um regulador mais "sofisticado" permite melhor desempenho?
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: flávio online 13 Novembro 2013 às 12:02:03
Falco, não adianta fazer um regulador "da pesada", pescoço de cisne, bonitão, etc, se o escapamento, o relógio em si, é um porcaria. Vou mudar o parâmetro, então. Se você tem dois relógios absolutamente idênticos, iguais mesmo, mas um possui regulador, outro é free sprung, fatalmetne o segundo terá mais "potência" para ser um relógio melhor. Repito: se no exeplo fictício os relógios forem idênticos!

Como já ressaltei aqui algumas vezes, o ápice da precisão mecânica em relógios não ocorreu no século XXI, XX ou mesmo XIX, mas XVIII, com os escapamentos de cronômetros de Earnshaw e Arnold (popularizados por Josiah Emery posteriormente).

Porém, não basta dizer que um relógio tem escapamento de cronômetro para dizer que ele será preciso. Se for um escapamento de cronômetro mal feito, melhor um de cilindro que, na teoria, não tem precisão alguma, mas Breguet, por exemplo, conseguia fazer com perfeição e com precisão muito grande.

Flávio
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: flávio online 13 Novembro 2013 às 12:16:30
Aliás, complementando meu ponto de vista, divulgo novamente aqui as excelentes fotos do Steve G do seu Zenith 135. Acredito que quem acompanha a reloljoaria há algum tempo sabe muito bem o que a Zenith representa, mas os mais novos talvez não. A Zenith já esteve entre as cinco maiores empresas suíças por décadas e só perdeu penetração no mercado em virtude de disputas judiciais num passado não tão distante com a Zenith Eletrônicos, nos EUA, que depois até comprou a empresa. Eu não tenho dados aqui de memória, mas não estaria sendo leviano se afirmasse que a Zenith figurou entre os 5 primeiros lugares nas duríssimas competições de observatórios praticamente todas as vezes que disputou.

O relógio que mais usavam nas competições era o calibre 135. Não bastasse esse movimento, na minha humilde opinião, ser um dos mais bonitos que já sairam das fábricas suíças, eles ganharam muita coisa. Mas vejam: ele não é free sprung! No entanto, ele tem um regulador micrométrico muito singular, que permite ajustes extremamente sensíveis da marcha, algo que um registro comum nunca possibilitaria.

Mas é o regulador micrométrico que o caracteriza com um relógio com grande "potência" para precisão? Não, claro que não. Não bastasse a construção primorosa, há algo no seu projeto que os construtores atuais parecem ter se esquecido: maior balanço, maior momento de inércia, maior estabilidade.

Olhem atentamente o balanço deste relógio e o comparem com os atuais. Dá até dó... Nos relógios atuais, o incremento da precisão se deu basicamente com novos materiais e aumento da frequência. Esse balanço... Ele ocupa metade do movimento! Não fica melhor do que isso...


http://ninanet.net/watches/others06/Mediums/mzenith.html

Em compensação, um Longines 27.05 também mostrado pelo Steve G usa um regulador mais "simplão". Mas creia: esse movimento aí também já teve seus momentos de glória nas competições. Em comum, a construção primorosa e o balanço GIGANTE! Quando vejo essas fotos, tenho vergonha da Longines atual... Os Longines antigos eram MUITO, mas MUITO da pesada! Vejam esse acabamento! Padrão marca top no mercado, estilo Blancpain, Audemars... A diferença é que antigamente isso era normal, hoje não.

http://ninanet.net/watches/others16/Mediums/mlongines27os.html


Flávio
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: FALCO online 13 Novembro 2013 às 13:01:17
Valeu Flavio!   (http://i39.photobucket.com/albums/e184/broker1998/FRM/smiles/thumbsup.gif)
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: igorschutz online 13 Novembro 2013 às 13:08:06
Há uma teoria revisionista que prega que balanços menores são mais estáveis e, portanto, melhores para precisão do que os balanços gigantes. Se não engando, isso já foi inclusive abordado neste fórum.
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Adriano online 13 Novembro 2013 às 13:52:02
Citação de: igorschutz online 13 Novembro 2013 às 13:08:06
Há uma teoria revisionista que prega que balanços menores são mais estáveis e, portanto, melhores para precisão do que os balanços gigantes. Se não engando, isso já foi inclusive abordado neste fórum.

Sim, comentei isso nesta postagem: http://forum.relogiosmecanicos.com.br/index.php?topic=10195.msg194163#msg194163

A Rolex inclusive tem uma patente recente de amortecedores de choque, mais especificamente seus rubis e contra-pedras, que discute justamente o fato de que em determinadas configurações, o balanço menor é melhor.


Citação de: FALCO online 13 Novembro 2013 às 11:35:21
Flavio, muito obrigado pela resposta, muito completa e inteligível.
Sua resposta me faz pensar mais agora. Pergunto, 2 reguladores (as peças/partes não o profissional) ótimos, mas um mais sofisticado (não sei se este termo é bem utilizado) que o outro chegarão ao mesmo desempenho de relógio, apenas 1 deles sendo mais "fácil" para o profissional que regula ou um regulador mais "sofisticado" permite melhor desempenho?

Falco e Flávio, se me permitirem um resumo. O regulador faz uma coisa só: acelerar ou retardar a marcha, mais nada. O desempenho cronométrico do relógio depende de sua qualidade intrínseca, especialmente do escapamento, e de seu ajuste. O melhor regulador do mundo não pode fazer nada por uma 7S26: ele só permitirá que você coloque uma posição precisamente em 0 s/dia. As outras posições continuarão com vários segundos de diferença, e se você tentar trazer outra posição para o 0 s/dia, vai desregular a primeira.


Citação de: flavio online 13 Novembro 2013 às 12:16:30

...
Mas é o regulador micrométrico que o caracteriza com um relógio com grande "potência" para precisão? Não, claro que não. Não bastasse a construção primorosa, há algo no seu projeto que os construtores atuais parecem ter se esquecido: maior balanço, maior momento de inércia, maior estabilidade.
...


Flávio

Flávio, me permita uma observação de ordem técnica: um balanço maior não significa um momento de inércia maior. Ok, ok, isso é até óbvio e você sabe disso, mas o que quero dizer é que um balanço maior é uma coisa, um momento de inércia maior é outra. Do jeito que você falou, parece algo assim: "vou projetar um mecanismo, e então vou escolher o balanço com o maior diâmetro possível e com o maior momento de inércia possível". Mas não funciona assim. Você não escolhe com total liberdade qual o momento de inércia que seu balanço deve ter. Ele é resultado da frequência do escapamento E da constante elástica da espiral. O que quero dizer é que você não escolhe deliberadamente o momento de inércia do seu balanço. Você escolhe a frequência, e tem lá uma constante da espiral que não dá para mudar muito, e daí sai o momento de inércia do seu balanço. O diâmetro sim, tendo em mãos o momento de inércia, você pode fazer um balanço do tamanho que quiser, basta ter espaço para isso.

Abraços!

Adriano
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: flávio online 13 Novembro 2013 às 14:20:01
Sim, faltou o tal "relógio idêntico aí", como no exemplo dos reguladores: partindo do pressuposto que pudessemos fazer relógios idênticos, inclusive com o mesmo peso no balanço, o maior com maior massa na extremidade seria melhor do que o pequeno, SE OS RELÓGIOS FOSSEM IDÊNTICOS. Estou abstraindo-me da tal tese revisionista, até mesmo porque a prática do passado não nos mostra isso. Digo isso porque, repetindo o que eu disse e você complementou depois, não dá para dizer se um relógio é ou não melhor do que outro apenas com uma característica dele. De nada adianta um relógio com um balanção, free sprung, etc, se a mola principal dele é uma porcaria. Para comparar coisas, devemos imaginar que TUDO é igual, e única coisa que se alterou foi o parâmetro a comparar. Aí sim é válido.

Flávio
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: GuilhermeLago online 13 Novembro 2013 às 16:11:20
Ainda que a valha a tese de que quanto maior o momento de inércia do balanço, maior a estabilidade, fica o fato de podermos conseguir isso aumentando a massa do balanço, afinal J=mr2.

Mas acho que o "desafio" tecnológico mais bonito é conseguir a mesma precisão com balanços mais leves, menores e que requeiram menor manutenção. Afinal, ninguém quer andar com o Big Ben no braço, né - quer dizer, tenho visto uma galera aí com cada coisa no braço...

Acho discutível (só quero ver a bronca do Flávio... hehehe) dizer que os limites da precisão foram atingidos há 250 anos, até porque os métodos de aferição não eram comparáveis aos que temos hoje.
Por outro lado, é impossível discordar de que a precisão do relógio é função de todos os elementos de sua construção e, muitas vezes, ou talvez até na maioria das vezes, o grande limitande não é o sistema de regulação.
Coisas fantásticas vêm sendo desenvolvidas. Umas trazem mesmo melhoria no desempenho, outras nem tanto. Será que o ganho de precisão trazido pelo "turbilhão esférico", em um relógio de pulso, é comparável aos múltiplos efeitos ambientais que podem introduzir erros na marcha - tipo choques, variações atmosféricas, etc. Acho difícil. Mas isso não faz com o Sphèro-Tourbillion não seja duc@r@1ho!!
Outras novidades sobre as quais eu gostaria de ouvi-los, e me educar mais, e se realmente colaboram para o aumento da precisão:
1. Dual Barrel: uma "corda" para o movimento e outra independente para o sistema de regulação. A justificativa é de que com essa independência, o mecanismo de regulação não sofreira interferência de eventos como disparar o cronômetro, mudar a data, etc.
2. High Beats: a alta frequência ajuda na estabilidade? Teoricamente, sim, mais uma vez, como efeito isolado. Mas ela compromete outros aspectos, como por exemplo, maior fricção? Existe real benefício além da maior "acuidade"?
3. Dua Barrel 2: uma "corda" para o relógio, outra para o cronógrafo. Considerações semelhantes ao primeiro caso.
3. Pêndulo Magnético. Esse é louco! É o fim da hairspring. O pessoal da Nivarox deve ter pesadelos só de pensar nisso... Agora pensem em todas as dificuldades e problemas que esse cabelinho (literalmente um pentelho) traz. E se ele fosse substituído por um par de imãs?

Alimento para seus pensamentos...

[]s!!
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: flávio online 13 Novembro 2013 às 17:16:06
Citação de: GuilhermeLago online 13 Novembro 2013 às 16:11:20
Ainda que a valha a tese de que quanto maior o momento de inércia do balanço, maior a estabilidade, fica o fato de podermos conseguir isso aumentando a massa do balanço, afinal J=mr2.

Mas acho que o "desafio" tecnológico mais bonito é conseguir a mesma precisão com balanços mais leves, menores e que requeiram menor manutenção. Afinal, ninguém quer andar com o Big Ben no braço, né - quer dizer, tenho visto uma galera aí com cada coisa no braço...

Acho discutível (só quero ver a bronca do Flávio... hehehe) dizer que os limites da precisão foram atingidos há 250 anos, até porque os métodos de aferição não eram comparáveis aos que temos hoje.
Por outro lado, é impossível discordar de que a precisão do relógio é função de todos os elementos de sua construção e, muitas vezes, ou talvez até na maioria das vezes, o grande limitande não é o sistema de regulação.
Coisas fantásticas vêm sendo desenvolvidas. Umas trazem mesmo melhoria no desempenho, outras nem tanto. Será que o ganho de precisão trazido pelo "turbilhão esférico", em um relógio de pulso, é comparável aos múltiplos efeitos ambientais que podem introduzir erros na marcha - tipo choques, variações atmosféricas, etc. Acho difícil. Mas isso não faz com o Sphèro-Tourbillion não seja duc@r@1ho!!
Outras novidades sobre as quais eu gostaria de ouvi-los, e me educar mais, e se realmente colaboram para o aumento da precisão:
1. Dual Barrel: uma "corda" para o movimento e outra independente para o sistema de regulação. A justificativa é de que com essa independência, o mecanismo de regulação não sofreira interferência de eventos como disparar o cronômetro, mudar a data, etc.
2. High Beats: a alta frequência ajuda na estabilidade? Teoricamente, sim, mais uma vez, como efeito isolado. Mas ela compromete outros aspectos, como por exemplo, maior fricção? Existe real benefício além da maior "acuidade"?
3. Dua Barrel 2: uma "corda" para o relógio, outra para o cronógrafo. Considerações semelhantes ao primeiro caso.
3. Pêndulo Magnético. Esse é louco! É o fim da hairspring. O pessoal da Nivarox deve ter pesadelos só de pensar nisso... Agora pensem em todas as dificuldades e problemas que esse cabelinho (literalmente um pentelho) traz. E se ele fosse substituído por um par de imãs?

Alimento para seus pensamentos...

[]s!!




O problema do balanço pesadão mas pequenino é que ela joga muito mais tensão na peça mais sensível do relógio, os pivôs do balanço. A melhor solução, portanto, na minha singela opinião, continua sendo os balanções que, para ter o mesmo momento de inércia do pequenino, podem ser mais leves (repito, considrando que os relógios sejam iguais!).

Lago, já a questão da precisão mecânica em relógios ter atingido seu ápice há uns 200 anos não é ilação, mas constatação técnica e empírica. A busca por precisão em escapamentos sempre teve em mente desconectar o máximo possível o órgão regulador do escape e, ainda, conseguir impulsos tangenciais. Isso foi alcançado há duzentos anos e, depois que o sistema se estabilizou (o projeto) com cronômetros com balanços bimetálicos com compensação, escapamento de cronômetro e caracol (fusee) acoplado ao tambor, isso no início dos de 1800, nada mais foi feito "melhor". Tanto é verdade que a concepção de projeto de um cronômetro marítimo de 1850 a 1950 não mudou ABSOLUTAMENTE NADA em 100! Pior, os aparatos eram tão bons e duravam tanto que as fábricas quebraram por...Paradoxalmente, fazer algo tão bom!

Teoricamente, pois, analisando o arco complementar, atrito, etc, nada foi feito em relojoaria que superasse o escapamento de cronômetro.

Adaptá-lo aos relógios de pulso, este sim um grande problema. A todos recomendo a releitura do meu texto sobre isso no site "mãe":

http://www.relogiosmecanicos.com.br/detencao.html

A outra questão levantada, tentar separar os sistemas de corda para o movimento e regulação já foram feitos, também no passado. O remontoir nada mais é do que um sistema que, para não utilizar as flutuações causadas por uma corda grande, a usa para carregar uma diminuta, que aí sim fornece energia ao órgão regulador. O remontoir - em centenas de variações - foi muito usado em relógios de pedestal de alta precisão, mas entre nós talvez tenha se tornado algo "cult" através do John Harrison. E o legal é que o remontoir do h2 dá para observar funcionando, é bem bacana. Eu vi.

Em relógios de pulso já acho mais uma "curiosidade", eis que metalurgia evoluiu tanto com o tempo que cordas com torque constante existem, sem precisar de remontoir. Mas que eu lembre, a Lange faz relógio com o sistema, o Pour Le Merite.

Sobre aumento de frequência, remeto todos a um artigo muito, mas muito velho que escrevi há uns 15 anos e foi publicado nas primeiras pulso, também no site "mãe":

http://www.relogiosmecanicos.com.br/frequencia.html

Dual barrel para cronos.

É certo que o uso de cronos normalmente acarreta perda de amplitude no relógio, mas as evoluções em isocronismo (por conta de materiais, principalmente) foram tão grandes que, sinceramente, não sei se isso seja um problema.

Pêndulo magnético.

Podem dizer o que quiser da "nova" Heuer, mas são eles que têm sido a vitrine do LVMH para novas tecnologias em protótipos, e este conceito é um deles. Porém, não foi testado em campo. Só o tempo dirá.



Flávio
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Adriano online 13 Novembro 2013 às 18:33:58
Citação de: GuilhermeLago online 13 Novembro 2013 às 16:11:20
Ainda que a valha a tese de que quanto maior o momento de inércia do balanço, maior a estabilidade, fica o fato de podermos conseguir isso aumentando a massa do balanço, afinal J=mr2.



Mas aí é que está: novamente, você não tem essa liberdade de escolher simplesmente um balanço com a maior inércia possível. Para movimentos de 28.800 a/h você tem quase sempre balanços de algo entre 9 a 14 mg/cm² e isso é limitado basicamente pela constante elástica da espiral. Você pode colocar um balanço de maior inércia? Pode, mas precisará de uma espiral mais "dura", para manter a amplitude num patamar normal, e fatalmente precisará de mais energia para dar impulso, o que significa uma corda de maior tensão. Uma corda de maior tensão significa um tambor maior ou uma redução drástica na reserva de marcha. O resultado é que quase sempre você acaba tendo balanços de 7 a 9 milímetros de diâmetro para essa frequência.

Quer um momento de inércia bem maior? Beleza, pode chegar nos 35 mg/cm² se quiser, mas vai ter que reduzir a frequência, para poder usar menos energia e continuar tendo uma corda de tamanho decente. Ou então, quer aumentar a frequência? Beleza também, mas fatalmente terá que diminuir o balanço e ficar com um momento de inércia de na casa dos 2 a 4 mg/cm². O que é melhor? Não sabe? Nem eu...

Então o momento de inércia não é o que rege nenhum projeto. Por que mecanismos de pequeno diâmetro tem fama de serem menos precisos? Porque por falta de espaço, você é obrigado a reduzir o balanço ao ponto de reduzir o momento de inércia, se comparado à um mecanismo maior de mesma frequência. Ou seja, o momento de inércia fica para trás até para o tamanho do mecanismo. Exemplo clássico: o famigerado ETA 2000. Funciona a 28.800 mas tem um balancinho de 2,5 ou 2,7 mg/cm², ou algo assim. O ETA 2892, funcionando na mesma frequência, tem um balanço de 10 mg/cm². Precisa dizer que isso é 90% da culpa da diferença de desempenho entre os dois?

Ou seja: o impacto do momento de inércia é tão grande, e gera uma bola de neve nos parâmetros de projeto, que ele é apenas consequência de todo o resto, e não um dos parâmetros de projeto.

Abraços!

Adriano
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: Adriano online 13 Novembro 2013 às 18:46:09
Eu tive a oportunidade de conversar pessoalmente com o Guy Semon, o cérebro do R&D da TAG Heuer; é dele a idéia do "dual chain", mas isso é para aplicações onde você tem um abismo de desempenho entre o crono e as horas "normais". E veja o impacto disso: você pode ter uma mega-ultra-hiper frequência com um regulador mecânico. Mas qual o resultado? Adivinhem: balanço que nem é um balanço, mas um eixo com uma espiral ridiculamente rígida, uma amplitude ínfima e uma reserva de marcha de poucos minutos. Se partir para a frequência do Microgirder, simplesmente é impossível usar um regulador oscilante nos moldes de um balanço.

Vejam: estávamos falando até agora do que? 4Hz? Esses troços de Mikrotimer funcionam a 500Hz! Acima disso não há como: não há amplitude para nenhum oscilador como um balanço.

Abraços!

Adriano
Título: Re: Diferenças entre os atuais reguladores micrométricos. Quais são?
Enviado por: GuilhermeLago online 13 Novembro 2013 às 19:29:13
Sem dúvida, Adriano. O compromisso mecânico está sempre presente. A arte é balancear (sem trocadilho) isso tudo.
Um modelo mecânico/matemático dessa complexidade não pode ser otimizado com uma só variável - até pq a própria precisão também sofre "competição" com outros aspectos, como tamanho, peso, usabilidade, legibilidade do mostrador, beleza, etc.

Citando o caso dos cronógrafos "ultra-high frequency", isso fica claro. Como vc apontou, fica comprometida a reserva de marcha, além de ser necessária uma tecnologia totalmente diferente. A propósito, o Mikrogirder 2000 bate a 1KHz (7.200.00 bph)!!
É claro que isso não "serve" prá nada, pq é um equipamento de acionamento manual e o erro introduzido pelo operador é da ordem de 500 vezes maior do que esse meio milésimo de segundo. Ou seja, precisão e acuidade são conceito associados, mas diferentes. Bom, mas não é isso que importa. A atividade de R&D, assim como a arte, não pode ser pautada pelo pragmatismo. É graças a essas "viagens" que surgem as inovações, como reguladores sem balanço, sem mola, sem aço...

Espero não estar saindo muito do tema...

Abraços!