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Sobre o texto do Igor, George Daniels e um outro cara aí...

Iniciado por admin, 07 Fevereiro 2009 às 11:34:26

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flávio

Bem, acabei de reler o texto do Igor, muito bom, como já havia ressaltado. Gosto de textos escritos para leigos, mas com grande conteúdo, é o que tenho procurado fazer nos meus últimos, que, sinceramente, são muito melhores do que os antigos (apesar de muito mais longos kkkk).

Daniels me lembrou muito Harrison, um autodidata persistente e, às vezes, muito irritante. Eu ainda considero Harrison o maior relojoeiro que já existiu porque ele efetivamente aprendeu tudo sozinho, e sem ter acesso a um modelo padrão para "copiar", como até mesmo Daniels teve. Afinal, ao restaurar um monte de relógio de gênios, Daniels teve acesso às técnicas dos caras. Talvez por isso os relógios de Harrison se parecessem com tudo, menos relógios.

Mas aqui cabe uma comparação: ambos foram "rasteirados" por diversas pessoas, mas vou dizer algo que nunca disse nos meus textos e que a autora do mais famoso livro sobre a vida do cara, Dava Sobel, é culpada.

Na verdade, Maskelyne agia sim, buscando seus interesses. Mas não do modo que Dava conta em seu livro, como se ele fosse o demônio, querendo de qualquer maneira passar Harrison para trás. A Comissão de Longitude, não preciso ir muito adiante, era composta por pessoas sérias, e a imagem plantada por Dava em sua obra Longitude é uma meia verdade.

Na verdade, grande parte do descontentamento da Comissão para com Harrison se devia a ele próprio, que não tinha educação formal, era mal educado, grosseiro, enfim, bronco, sem "polimento". No filme Longitude, aliás, isso é até explorado: as negociações e conversas com a Comissão eram feitas entre o filho de Harrison e esta. Harrison não tinha paciência, relutava em mudar seus métodos, era cabeça dura e, até hoje, não sei como se convenceu a mudar todo seu projeto e chegar ao H4 como chegou.

Fiz essa divagação toda para lançar uma pergunta ao Igor, que já leu a biografia de Daniels e outros que conhecem melhor sua vida. Não teria também o gênio de Daniels contribuído para que as fábricas o olhassem com tanto ceticismo a ponto de quererem deixá-lo "à margem", como outrora ocorrera com Harrison?

Coisa a pensar...


Flávio

Wadley

Wadley

igorschutz

Flávio,

Suas colocações fazem todo o sentido e sua pergunta é totalmente pertinente.
Não só li a biografia do Daniels (duas vezes!) como, recentemente, li a biografia do John Harrison escrita por Humphrey Quill, que é reputada como a melhor biografia sobre ele (além, claro, de diversos outros livros e textos sobre Harrison).

Acredite: fiz este mesmo paralelo entre ambos!
Aliás, uma das coisas que me motivaram a escrever sobre a vida do Daniels foi justamente esta coincidência. A história da tentativa de Daniels em vender o co-axial é como a relação de Harrison com a Comissão para Longitude dos tempos modernos.

Concordo quando você diz que muito da "briga" entre Harrison e a Comissão se deveu à personalidade daquele, e vou além: pra mim, a incredulidade da Comissão ante os relógios do Harrison era plenamente justificada e lógica; e digo que, se eu vivesse naquela época, provavelmente estaria do lado da Comissão, isto é, dando razão a ela.

Falo isto por diversos motivos: primeiro, o que Harrison fez, i.e., criar um relógio robusto que se mantinha preciso mesmo num navio em movimento, era uma coisa considerada uma impossibilidade científica na época, algo como, nos dias de hoje, um pedreiro dizer que criou um motor barato movido a antimatéria (todos nós daríamos risada!); segundo, Harrison demorou 25 anos (!) desde que se apresentou pela primeira vez perante a Comissão, para criar, ajustar e demonstrar pela primeira vez o H4, tudo com dinheiro do governo (qualquer um poderia supor que se tratava de um enrolador mamando nas testas da Coroa); terceiro, com exceção de Harrison, TODA a comunidade científica da época acreditava que a solução para a longitude estava no método lunar, e não foi Maskelyne que os convenceu disso (Maskelyne era um produto do método lunar, e não sua origem).

Não acho que Nevil Maskelyne agia em interesse próprio, até mesmo porque ele JAMAIS ganhou ou tentou ganhar qualquer coisa em cima da Comissão. Maskelyne fez diversos experimentos e publicou livros e tabelas que efetivamente ajudaram a facilitar os cálculos necessários para a determinação da longitude pelo método lunar, e com um detalhe: ao contrário de Harrison, ele nunca pediu à Comissão adiantamentos e/ou ajuda financeira. Então, imagino que, aos olhos da época, Maskelyne deveria ser uma pessoa muito mais confiável do que John Harrison.

Realmente, acho que a Dava Sobel foi muito tendenciosa em seu livro (a palavra certa seria "maniqueísta"), a ponto de eu achar atualmente que o livro "Longitude" tem pouca valia (seriedade) do ponto de vista histórico.

Bom... enrolei bastante, mas vamos à resposta:

NA MINHA OPINIÃO, o gênio forte de Daniels contribuiu totalmente para dificultar a adoção do escapamento co-axial pela indústria suíça (nem a mulher dele agüentou ficar casada com o homem, então você já imagina...), porém, do ponto de vista histórico, é dificil de se comprovar esta afirmação e determinar até que ponto a personalidade dele afetou sua relação com os suíços, pois a versão oficial deste episódio foi escrita pelo próprio Daniels, e obviamente ele não se reconhece como "carne de pescoço" (nos termos do Jean).
Ao contrário de Harrison, que até escreveu sua versão da sua relação com a Comissão para a Longitude, porém teve sua vida totalmente dissecada por historiadores, que "ouviram" os dois lados), que souberam "distribuir" a culpa aonde devido.

Bom, é isso... Desculpe não ser objetivo, mas tudo que posso fazer são conjecturas.

Um grande abraço, e parabéns pelo interessantíssimo tópico!

Igor
Opinião é como bunda: todos têm a sua. Você dá se quiser.
Opinião é como bunda: você dá a sua e eu meto o pau.

NÃO ACREDITE NO QUE 'FALAM' AQUI, ESTUDE BEM E TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES

Alberto Ferreira

Salve, amigos!

Muito interessante mesmo.
Tudo absolutamente pertinente.
Dos pontos levantados pelo Flávio às conjecturas do Igor.

Parabéns a ambos pelas excelentes postagens!


Realmente, se refletirmos bem, uma definição (julgamento?) plenamente equilibrada dessas duas geniais personalidades é muito difícil, ou melhor, praticamente impossível. E talvez jamais se chegue a um "consenso".

Ao tentarmos "analisar" as motivações da época de Harrisson, dado o tempo, perdemos muito na avaliação daquilo que era realmente a sensibilidade das pessoas da época, com relação a ele, a sua personalidade, os seus atos e posturas.
Mas uma coisa é mesmo certa, como bem disse o Igor, é compreensível (plausível) que ele fosse avaliado, por muitos, com imensas reservas.
Ou seja, seria ele um "charlatão"? Um "enrolão"? Um "poeta"?

Já o caso do Daniels, a meu ver, tem um outro enfoque.

A sua "turrice", falta de paciência, etc,...
Pode ser explicada em parte pela sua própria genialidade (Ninguém está vendo o que eu vejo?), mas também pela sua própria (complicada) criação e formação de personalidade (Ah, é? Vocês querem verificar? Então que se danem! Eu já lhes disse como é, não?).

Em ambos os casos, mas talvez até mais no caso de Daniels, vem aquela velha história da "ação e reação",...

..."Meu caro, você não tem paciência para explicar melhor, ou não quer ser submetido às (nossas) "avaliações"? Então,... Espere aí. Ou,... Adeus!"

De qualquer forma, e qualquer que seja a "teoria" que "abracemos"  ;), o assunto é mesmo muito interessante!

Abraços a todos!

Malima

Prezados ... parabéns pelo tópico e pelas considerações !! ;)

Altíssimo nível !! :D

Abraços !!


Marcos Lima

Wadley

Será que todo gênio é meio chato, sem paciência e antipático ?

Wadley
Wadley

flávio

Resolvi desenterrar esse antigo tópico porque lembrei-me de uma indagação a respeito de a obra da Dava Sobel ter transformado a Comissão da Longitude em vilã da história, quando isso não seria bem verdade.

Eh... Estou lendo agora a fonte compilada de toda história, o The Marine Chronometer, e devo confessar que em algumas passagens o Gould implicitamente coloca a Comissão como vilã.

Mas a questão toda surgiu através de diversos panfletos e acusações que foram lançadas entre Comissão e Harrison já na época. Aliás, há passagem no livro, escrita pelo próprio Harrison, dizendo que por ele "reverendos" (claramente se referindo a Maskelyne), poderiam ir para o Inferno.

Portanto, não estou aqui para decidir se a Comissão foi justa ou injusta. É claro que nenhuma Comissão do mundo, mesmo hoje, daria uma bolada equivalente a uns 10 milhões de dólares, sem encrencar com o provável recebedor. Eu tendo, por isso, a achar que Harrison foi injustiçado (e não estou sozinho: o Rei George III achou a mesma coisa na época).

No entanto, vejo que a Dava Sobel, apesar de uma certa "romanceada" para tornar seu livro mais "palatável" (o que ela conseguiu, já que se tornou um Best Seller), foi até imparcial: ela apenas reproduziu as opiniões da época e a reconstrução história feita por Gould.


Flávio

igorschutz

Gould é um fã confesso do Harrison, então é óbvio que ele dá uma puxada na sardinha.
Opinião é como bunda: todos têm a sua. Você dá se quiser.
Opinião é como bunda: você dá a sua e eu meto o pau.

NÃO ACREDITE NO QUE 'FALAM' AQUI, ESTUDE BEM E TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES

Wadley

Apesar das dúvidas, questionamentos, parcialidades ou não, esse assunto é fascinante......
Wadley

flávio

Ah, e quem pegou esse tópico pela metade e não compreendeu a qual texto do Igor me referi, é este aqui:

http://igorschutz.blogspot.com.br/2009/01/george-daniels-mbe.html

Flávio

ogum777

Citação de: flavio online 17 Abril 2014 às 00:13:08
Ah, e quem pegou esse tópico pela metade e não compreendeu a qual texto do Igor me referi, é este aqui:

http://igorschutz.blogspot.com.br/2009/01/george-daniels-mbe.html

Flávio

heheheeh, eu já tinha achado sozinho, tão curioso que fiquei.

impressionante a história do daniels.

dá vontade de ter um omega, só de ler...


Adriano

#11
Vocês viram o filme/minissérie "Longitude" também? O que o filme sugere fortemente é um simples preconceito pelo fato de Harrison não ser um acadêmico formal. Não era cientísta, astrônomo, eclesiástico nem membro da nobreza, e as impressões sobre ele se dividiam entre descrédito e inveja.

E naturalmente faz a caveira do Maskelyne, um verdadeiro "mala" no filme, parte realmente considerada injusta por muitos.

Abraços!

Adriano

edson rangel

vou ter que pesquisar a respeito para responder. Parabéns pelo tópico.
FIQUEM  TODOS NA PAZ DE DEUS !!!!