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CORDA AUTOMÁTICA

Iniciado por jos, 18 Junho 2009 às 20:26:20

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jos

Saudações!

Inicialmente, quero parabenizar os idealizadores e moderadores do Fórum pelo excelente e instrutivo conteúdo.

Uma questão: tenho vários relógios mecânicos de corda automática. E sempre tive curiosidade em saber por que a máquina somente se põe a trabalhar após algumas sacudidelas no sentido horizontal.
Antes, eu colocava o relógio na vertical e o girava, ou executava movimentos suaves de vai-e-vem, a fim de movimentar o rotor, mas o segundeiro não "acordava". Passei, então, a sacudir suavemente uma ou duas vezes a peça, e pronto.

Vale ressaltar que a situação acima é para o caso de o relógio ficar parado por pouco tempo, não necessitando da prévia corda via coroa.

Desde já, sinceros agradecimentos pela valiosa resposta.
Jos.

igorschutz

Jos,

Muito estranho esse comportamento. É como se o escapamento não se iniciasse sozinho (uma das características fundamentais do escapamento de âncora).

Só diga uma coisa: você pode movimentar o relógio o tanto que quiser para carregar a corda pelo rotor, mas mesmo com corda cheia ele só inicia após essa sacudidela na horizontal? É isso?

Um abraço,

Igor
Opinião é como bunda: todos têm a sua. Você dá se quiser.
Opinião é como bunda: você dá a sua e eu meto o pau.

NÃO ACREDITE NO QUE 'FALAM' AQUI, ESTUDE BEM E TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES

jos

Prezado Igorschutz

Antecipo-lhe desculpas, se não entendi bem a sua pergunta. Talvez, eu não tenha formulado bem a minha questão.

Suponhamos a seguinte situação:

Hoje, retiro o relógio da gaveta; relógio que estava há alguns dias sem uso, o que requer a necessária corda pela coroa (exceção: seiko-S 7009 A; Orient e Tissot-2824-2).

Digamos que o utilize por cerca de 48 horas. Após esse período, eu o deixo sobre a escrivaninha até que a corda se esgote.

Cerca de 24 horas depois, eu o apanho, executo alguns movimentos laterais (as "sacudidelas") e o segundeiro inicia a sua marcha. Aliás, como voce bem sabe, esse é o procedimento normal nas máquinas que não aceitam corda pela coroa.

Neste caso, se eu o apanhasse e o colocasse na posição vertical, tentando "acordá-lo" da forma que mencionei no post inicial, eu não conseguiria.

Ressalto que a maioria das minhas peças são dotadas de calibres ETA. Curiosamente, o único suíço que não requer corda pela coroa, mesmo tendo ficado parado por vários dias, é um Tissot com calibre 2824-2. Funciona da mesma forma que os japoneses.

Abs, jos



Alberto Ferreira

Salve!

Jos,
Deixe que eu lhe faça uma pergunta, na tentaticva de entender melhor o que você está chamando de "posição vertical".

Nessa posição, que você chama de "vertical", como fica o mostrador em relação ao chão? Ele fica parelelo ao chão ou perpendicular ao mesmo?

Abraços,
Alberto

jos

Prezado Alberto

O mostrador fica perpendicular ao chão.

abs, jos

Alberto Ferreira

Salve!

Jos,
O meu objetivo é ajudar, ok?
Portanto, caso eu diga algo que lhe seja "óbvio" ou "comezinho" demais, por favor releve, posto que eu não sei qual seria o nível de seus conhecimentos com relação ao funcionamento básico de um relógio mecânico automático.


Alguns pontos básicos a considerar.

- O mecanismo de carregamento automático da corda, é acionado pelo chamado "rotor", a "massa oscilante".

- A depender do projeto do movimento, o carregamento pode ser feito a partir dos giros do rotor em três situações: giros no sentido horário, anti-horário ou bidirecional.

- O carregamento é feito pela inércia do rotor.
Ao movermos o braço, o rotor é acelerado (em um dos sentidos mencionados acima), fazendo com que um mecanismo específico (um conjunto de engrenagens) movimente o sistema que irá comprimir (enrolar) a corda.

- Em geral (mas isso varia de projeto para projeto), para um carregamento completo da corda são necessárias cerca de 800-1000 giros do rotor.

Por isso, quando tentamos carregar a corda de um relógio acionando-a diretamente pelo "rotor" (e não pela coroa) os movimentos (suaves, mas firmes) devem descrever arcos no sentido horizontal (mas com o mostrador voltado para cima ou para baixo), posto que de outra forma (com o sentido de movimentação transversal ao mostrador) o rotor não será movimentado (acelerado) convenientemente.

Também é necessário um número mínimo de movimentações para acumular corda suficiente para iniciar o processo.

Se eu não me fiz claro, por favor, volte a colocar a sua dúvida específica.

Um abraço!
Alberto

jos

Prezado Alberto

O seu objetivo foi satisfatoriamente alcançado.

Informo-lhe, ainda, que em uma escala de 0 a 10 o meu nível de conhecimentos é de 0, qualquer coisa. Portanto, o óbvio para voce e para os demais corresponde a um acréscimo muito bem vindo para mim.

Aproveitando a sua generosidade, esclareça-me uma coisa: voce diz que para um carregamento completo da corda são necessários de 800 a 1000 giros do rotor.

Pois bem, quando o carregamento é feito via coroa, para o caso de o relógio estar parado há um bom tempo, quantas voltas devem ser aplicadas na coroa?

Pergunto-lhe isto, pois o manual de um relógio que possuo, um Breitling, determina 40x, se bem que o segundeiro dele acorda com cerca de 20 voltas (a peça fica parada por cerca de 15 dias);

O mais interessante é que o meu predileto, um Omega seamaster, exige para aquele período (15 dias em repouso absoluto) cerca de 60 voltas (às vezes até mais) para que o segundeiro se movimente. Curiosamente, o Speed, se satisfaz com cerca de 25 voltas.

Complementando a questão acima: 1 volta na coroa corresponde a quantos giros no rotor?

abs, jos

Alberto Ferreira

Salve!

Caro jos,
Indo por partes...

Concentrando apenas em alguns aspectos fundamentais do sistema de "tração" de um relógio mecânico, naquilo que é tecnicamente chamado de seu órgão moto".
O conjunto de elementos responsáveis pelo "acionamento" do mecanismo.

Entenda o seguinte...

- A energia necessária ao funcionamento do mecanismo é acumulada (acumulada, não gerada) em um elemento chamado "tambor de corda", no interior do qual existe uma "mola" (a corda) que é enrolada (comprimida) e que irá posteriormente liberando a tal energia, gradativamente, para o acionamento do mecanismo.

- A energia que comprimiu a mola (a corda) proveio originalmente da ação dos dedos sobre a coroa (carregamento manual) ou da ação (de giro, por inércia) de um elemento mecânico (um contrapeso) chamado "rotor" ou "massa oscilante" (carregamento automático).

- Os dois métodos acima não são necessariamente excludentes. Assim, há movimentos com carregamento apenas manual, há movimentos com carregamento apenas automático (os que não "aceitam corda pela coroa" - como no exemplo de alguns movimentos japoneses) e os que o permitem ambos os métodos de carregamento, automático (pelo rotor) ou manual (pela coroa).

- Quando eu mencionei a quantidade de voltas que o rotor precisa dar para carregar completamente a corda, e quando você mencionou ter lido que um dado movimento carrega (enrola, comprime) completamente a corda após um número X de voltas da coroa, temos que ter em mente que isso seria uma característica de cada dado movimento, embora em termos médios a coisa não varie tanto, não em ordem de grandeza, ok?
Num exemplo podem ser "tantas" voltas, noutro mais e no outro menos... A rigor, depende do projeto em questão.

- O acionamento pela coroa, em termos mecânicos, é mais direto.
Em geral, há uma "desmultiplicação" menor (a transmissão do torque necessário ao enrolamento da corda é mais "fácil" - o torque aplicado preliminarmente pelos dedos).

- De maneira contrária, no sistema automático, o acionamento pelo rotor, pelo simples fato de que este dependerá dos gestos (movimentos naturais do braço do usuário do relógio - ou seja, do seu padrão de comportamento). Se ele gesticula muito, se é mais "estático", etc.
Isso acarreta em que mecanicamente o sistema possua um conjunto de engrenagens e outros elementos (cujo projeto varia...), capaz de transmitir o torque proveniente dos giros do rotor para a corda no interior do tambor.

A tabela mostrada no site aí abaixo, condensa justamente as informações relativas a este assunto nos movimentos automáticos de várias procedências.

http://www.orbita.net/pages/17101.htm

Note a quantidade de voltas "necessárias" do rotor, na última coluna à direita, e o sentido de rotação (do rotor) que permite o carregamento, ilustrado na penúltima coluna.

Bem,...
Eu diria que esses são (em parte) os fundamentos da coisa.
Com base neles, talvez lhe seja mais fácil compreender a questão.
Se quiser voltar ao assunto, fique à vontade.

Eu, ou outro colega até mais qualificado, poderei tentar contribuir.

Um abraço!
Alberto

jos

Prezado Alberto

Excelente a sua explanação! E obrigado pela tabela.

abs, jos

flávio

Um dado que vai além mas serve na discussão. Se já há corda e o relógio não começou a funcionar, fatalmente a âncora está fora do compasso (beat), entenda-se, não perfeitamente centralizada. Eu tenho um relógio que deve estar com um beat error grande, pois só começa a funcionar, mesmo com corda, depois de sacudi-lo. Problema simples, mas que algum relojoeiro do passado deixou lá...


Flávio

Bruno

Estou adorando a aula... Muito interessante mesmo!! Alberto, você conhece demais da conta hein??

Abraços!

Alberto Ferreira

Citação de: Bruno online 26 Junho 2009 às 00:42:36
Estou adorando a aula... Muito interessante mesmo!! Alberto, você conhece demais da conta hein??

Abraços!



Salve!

Nã-nã-ni-nã-nãããão!   ;)

Como todos, eu creio, eu aprendo "por demais da conta" aqui, Sô!
;)  8)

Abraços!
Alberto

Bruno

Citação de: Alberto Ferreira online 26 Junho 2009 às 07:18:40
Citação de: Bruno online 26 Junho 2009 às 00:42:36
Estou adorando a aula... Muito interessante mesmo!! Alberto, você conhece demais da conta hein??

Abraços!



Salve!

Nã-nã-ni-nã-nãããão!   ;)

Como todos, eu creio, eu aprendo "por demais da conta" aqui, Sô!
;)  8)

Abraços!
Alberto

Baum tamém!!