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A lagosta do Marimbás

Iniciado por solano, 27 Dezembro 2010 às 23:01:37

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solano

A lagosta do Marimbás


Na década de 60 meu Pai se associou a este clube que á época era o "must" da nata social de Copacabana. Clube pequeno, no posto 6, abaixo do forte de Copacabana, desfruta de vista previlegiada e guarda barcos que dali saem para a pesca submarina, motivo de sua criação. Até hoje lá existe, recomendo uma visita!
O velho era um homem de vanguarda, teve o primeiro Karmann Guia na cidade! Ficava orgulhoso quando as pessoas estavam rodeando o carro, com olhar curioso. Esses fatos me marcaram, mas pelo peito inflado do contador do que pelo ato em si. Tinha que ser sócio de um clube privado e que oferecia o baile do Popeye, famoso por mulheres extravagantes, bebidas e lança perfume.
Copacabana era o bairro da moda, eu menino passeava de carro com meus irmãos aos domingos, via o povo na av. Atlântica, arrumados, sapatos novos, vestidos coloridos. Ganhava um Algodão doce e voltava para a rotina: Meu Pai não gostava de crianças, fazia a sua parte dominical e pronto, basta.
Já maior, vim a conhecer o Marimbás aonde ele ia tomar seus Whisques com amigos na varanda, eu ficava na praia em frente e via os barcos chegando com peixes para a venda na calçada, minha mãe comprava. Um pouco mais velho comecei a desfrutar da lagosta: Os mergulhadores traziam lagostas frescas para a cozinha prepará-las, delícia dos deuses meus caros! Antes de ir nós ligávamos para o clube, confirmando a presença do nobre crustáceo, marcando mesa na varanda. Lembro-me de chegar com meu pai ao volante e um negão (da maior qualidade!) nos receber vestido de comandante de navio! Roupa impecável, luvas e a cordialidade que só o povo rico conhece, abria a porta e estacionava, era assim, muito "Chic". Tinha uma rampa de cimentado vermelho que chegava à varanda, a vista já começava a incomodar; a praia, as redes de vôlei em frente, barcos e banhistas margeando a princesinha do mar, Copacabana dos bons tempos me encantava. Sentávamos em mesa redonda de frente para uma janela vendo as delícias praianas e pedíamos a lagosta na manteiga. Ela chegava linda, dourada, branca e macia. As batatas nadavam ao redor, faziam um balé lindo de se ver e comer. Quentes! Eu sempre me queimava, era a gula e o desejo de comer o impossível, a lagosta fresca do Marimbás. Meu Pai fazia desse evento uma comemoração rara! Poucos tinham esse direito de desfrutar da melhor comida, melhor vista do Rio de Janeiro e da melhor companhia: ELE. Sim, meu Pai sabia do riscado, era bom de marketing, um Deus que elegeu seu Olimpo na orla de Copacabana, eu me sentia um príncipe, com aquele sabor indecifrável do prato único, manjar dos deuses, a lagosta do Marimbás.

Roberto Solano


" Otempo é a insônia da eternidade "  Poeta Mário Quintana

HumbertoReis

Cara, lagosta é maravilhoso! Melhor ainda é desfrutar, como você desfrutou, das preliminares. Tudo o que envolve um bom prato é motivo de fascínio: a escolha do produto, a definição do prato e de seu cozimento, os momentos na cozinha... Meu pai trabalhava com frutos do mar, minha mãe sempre gostou - e segue gostando - de prepará-los. Eu, de minha parte, sempre goste de comê-los!

Te parabenizo pela doce lembrança.

Bruno Recchia

Oi Solano !

Mais que a lagosta o que impoortava mesmo, era o momento, o cerimonial...

Quando eu era moleque, o que o meu pai sempre fazia, era nos levar pra jantar, em Salvador, numa franquia do Rubayat que tinha por la, Baby Beef se chamava, tinha uma Picanha de primeirissima... Nos anos 80, esse restaurante era "o fino" pra comer carne em SSA, e invariavelmente, pediamos em acompanhamento a famosa salada de palmito, na verdade 2 palmitos, enormes e macios...

Nesse momento exato, nos sentiamos especiais, privilegiados, nao so pelo lugar, mas também pela companhia dos nossos pais, num lugar "de gente grande"... Um desses rituais de passagem à vida adulta...

Eu, por casua da minha vida movimentada, nao guardo nada do meu passado. Nada de fotos, objetos ou o que quer que seja da minha infância ou adolescência. Mas ficam as lembranças, muito mais importantes que tudo mais. Cada momento vivido intensamente, plenamente. Acho que o resto, é conversa fiada...

1 abraço !

Bruno

solano

Bruno

Verdade. O importante é o programa, a sensação de importância, reconhecimento. Me lembro do Baby Beef, inaugurado no Rio de Janeiro pelo seu " Mamede " , o dono do Paes Mendeonça, estive lá ! A carne era ótima e o local com um " charme " diferente ! :D
Vejo que teu Pai tinha o mesmo " savoir faire " do meu ! ;)

2 abraços !

Solano
" Otempo é a insônia da eternidade "  Poeta Mário Quintana

Bruno Recchia

Oi Solano,

Era esse mesmo, o do "seu" Mamede !! Nada de rodizio, você pedia 1 picanha ,vinha 1 picanha, com batatas "soufflées". Cada um de nos (eu, meus 2 irmaos e meu pai) encomendava uma. Bem mal passada, como mandava o figurino...

Meu pai era daqueles muito atarefados, saia cedo pro trabalho, voltava tarde... Nao tinha muito tempo pra familia, mas adorava curtir os filhos de vez em quando. Como podia, como sabia, mas sempre extremamente sincero. Um paizao sim. E como você disse, com muito "savoir-vivre" !!

Engraçado, eu me perguntei ha pouco se eu saberia criar esse tipo de lembrança pros meus filhos... Espero sinceramente que sim. Mas so saberei daqui a uns 10 anos...

1 grande abraço !

Bruno

Mario_Fpolis

Não sou psicólogo, mas namorei com três psicólogas até descobrir que as loucas eram elas ;D :o ::) ??? ??? ??? ??? ???

Dito isso, Ah, a importância da figura paterna!!!!!

Solano, dlieto amigo, deverias um dia levar esse assunto ainda mais afundo em um texto teu.

Outra coisa, estarei no Rio entre os dias 12 a 15 de janeiro agora, vamos tomar um chopp no Bracarense ou Jobi???? Adoraria conhecer-te pessoalmente, caro amigo!
Amplexos do Mário

Clélio


Solano,

Como sempre, muito boa a história, cheia de referencias, pessoas e lugares, faz a gente reviver sem ter estado lá...
  O assunto claro, não são as lagostas mas a deliciosa convencia com seu pai... mas este caso trouxe a tona a historia da melhor lagosta que já comi, não pelo sabor, mas pela ocasião.
A 18 anos atrás fui de lua de mel para Fernando de Noronha, coisa que na época era uma aventura, lá conheci um guia que nos convidou para comer em sua casa.
Fomos lá, e a noite, sob um céu estrelado e ao lado de uma fogueira, pudemos comer lagosta acompanhado de milho assado... tudo muito simples e harmonioso,  Foi algo marcante, toda vez que tenho oportunidade de saborear o prato lembro deste momento .

Abs.     

solano

 Clélio

Que legal ! Isso marca mesmo, e cá prá nós, a melhor lagosta é a pescada na hora, sem temperos... delícia ! :D

Estive em Noronha e dei sorte : Faltou luz ! ;) Vi o céu mais lindo de minha vida...

Abs,
" Otempo é a insônia da eternidade "  Poeta Mário Quintana