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Um questionamento sobre os novos materiais e técnicas usados nos relógios

Iniciado por admin, 27 Março 2014 às 22:21:18

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flávio

Comentei hoje com colegas, conversando sobre carros, uma frase que ouvira em algum lugar: "os automóveis clássicos de hoje serão os mesmos automóveis clássicos de amanhã".

E é verdade. Com a profusão da tecnologia embarcada em veículos, em pouco tempo estarão ultrapassados e, pior, ninguém conseguirá restaurá-los, eis que cheios de computadores literalmente sem possibilidade de conserto. Vivemos algo semelhante aos relógios a quartzo. Estes são microprocessadores que refletem a tecnologia eletrônica de uma época, que fica ultrapassada rapidamente. Por isso os relógios a quartzo são descartáveis: quando quebram, não há como consertar. São circuitos eletrônicos miniaturizados!

Um relógio mecânico não, e talvez por isso encontremos nos museus modelos com até 700 anos de idade, e que funcionam perfeitamente até hoje. E não estão assim porque foram mantidos num cofre durante os séculos, mas porque o restauro parte de técnicas milenares de manipulação de metais. Tendo dinheiro no bolso, qualquer coisa mecânica pode ser restaurada a sua condição original.

Talvez por isso o Roger Smith ressalte tanto que seus relógios são construídos com técnicas absolutamente tradicionais e super dimensionados. No futuro, ainda que daqui a mil anos, qualquer um poderá restaurar algo tão ingênuo - embora complexo - quanto um relógio.

Os que me acompanham sabem que acho no mínimo estranho essa profusão de materiais modernos em coisas intrinsecamente "antigas".

Tomemos como exemplo o calibre 8500 da Omega, provavelmente o movimento mais moderno produzido em massa atualmente. Espiral em silício... Quem conseguirá replicar uma espiral em silício quebrada no futuro? Talvez seja possível substituir a espiral em silício por uma metálica mas... Mancal em cerâmica? DLC no tambor? Isso é impossível de reproduzir!

É claro que nós não iremos nos deparar com essas questões, sobretudo pela grande durabilidade dos atuais relógios e, principalmente, a existência de peças de reposição por décadas a fio.

Mas acho que nossos tataranetos não verão relógios Omega funcionando em museus... Já pensaram nisso?


Flávio

Alberto Ferreira

Esta é mesmo uma questão, ou pergunta, interessante...

Sim...
E, vendo pelo outro lado, o das coisas intencionalmente "descartáveis" ou talvez na linguagem menos "nua e crua" das empresas, da chamada "obsolescência programada".

Voltemos ao exemplo dos carros...
Há carros da década de 1940/50, ou de antes, cuja lataria está aí, firme e forte, com os seus tantos e "exagerados", diga-se, milímetros de espessura.  ;)

Dos anos setenta, ou pouco antes, para a frente, a coisa mudou, e muitos, mesmo se guardados (com cuidados "normais") tendem a se "desmanchar".  ::)

Eu também acredito que os visitantes dos tais museus do futuro não os verão por lá.
Não fisicamente.

Em arquivos históricos,... Em memórias, holográficos (ou coisa que o valha),...
...talvez. :D
8)

Alberto

ogum777

pessoas usam tênis all star até hoje. quantas décadas tem o modelo?

pessoas voltaram a usar bicicleta como meio de transporte.  e então ressurgiram as bicicletas com quadro de aço e desenho mais clássico:



o fato é que é difícil abandonar oque funciona. no máximo temos novas versões do antigo. si, peças tradicionais, em metal mesmo, nada de silício, serão as que serão restauradas no futuro.

num futuro distante, talvez, por incrível que pareça, sobreviverão os movimentos como o eta - 6497/98, pelo número de partes móveis, deve sobreviver melhor que outros (à corda manual não tem um mecanismo de corda automática pra quebrar...) e por ser de peças grandes, mais fácil de reparar... e claro, a ampla disponibilidade no mercado atual, permitirá a sobrevivência de muitos no futuro.

o clássico é clássico. permanece.

mas o que eu penso o tempo todo, é por quanto tempo ainda as pessoas usarão relógios de pulso.

num futuro, delineado a partir dos google glasses, usaremos olhos eletrônicos que informarão tudo, até hora. e quem já usa o google glass não usa mais relógio.... tá na tela, na frente do olho.

[youtube=425,350]http://www.youtube.com/watch?v=4EvNxWhskf8#t=22[/youtube]

é... um futuro diferente do futuro dos jetsons nos aguarda.





lucius

Belo Post para refletir !

Eu também já me peguei pensando na certeira obsolescencia de nossos produtos "tecnológicos" de hoje em um futuro não muito distante.


Lucius
Corruptissima re publica plurimae leges

CSM

eu coloquei alguma coisa neste sentido a um tempo atras do Giulio Papi da Ap giulio Papi que fala exatamente sobre isso num determinado momento da entrevista:

http://www.hodinkee.com/blog/interview-giulio-papi-director-audemars-piguet-renaud-papi

com relacao a carros, realmente é algo a se pensar.... eu me amarro em carro antigo, inclusive ja tive dois. de um tempo para ca tinha resolvido comprar novo e esperar ficar velho....mas esta questao da tecnologia embarcada, dos materiais diferentes e, no caso dos carros pelo menos, de qualidade pior. eles mesmo que bem cuidados nao devem envelhecer tao bem quanto os realmente antigos.....

abracos
Membro do RedBarBrazil

ogum777

olha, vou trazer um pouco da minha experiência no mundo das bikes, pra gente pensar no que pode ser transferido promundo dos relógios.

no mundo das bicicletas, de  tempos em tempos há "novidades" na linha de quadros, peças e etc.

nos anos 90, pedivelas de mtb tinham 5 furos, e muitos usavam furação com diâmetro de 94mm. a shimano lançou alguns, lindos, com diâmetro de 95mm.  lindos. mas produziu sópor 2 anos.

hoje o padrão de pedivelas de mtb é de 4 furos. mas fazem coroas - que gastamos com o uso - para substituição, por outros fabricantes especializados em nichos. fabricam em 94mm? sim! fabricam em 95mm? não, pois não há demanda...

assim, que tem uma pedivela dessas hoje, tem medo de usar, pq se gastar não repõe.

o exótico, depois de anos, fica difícil de consertar, repor e etc.

como carro antigo. há falta absoluta de peças para um fusca dos anos 60? não, né? tem fábricas fábricas especializadas no mercado de reposição e customização dos carros mais antigos que eram produzidos em massa. já para os raros....

oferta e demanda regem o mercado, no presente e tb no futuro.

enquanto houver relógios de pulso sendo usados (eu acredito que em menos de 100 anos ninguém carregará relógio) haverá conserto para os mais comuns ou que usem técnicas comuns... para os raros não.

flávio

Concordo em parte. Imagine que a bike seja histórica e possua os tais 95 mm. Daqui a 50 anos alguém encontra e... Um torneiro com uma fresa faz a peça. Pode sair caro, mas faz. Digo isso porque foi o que quis ressaltar no meu post: relógios de 700 anos de idade estão no museu funcionando não porque ficaram num cofre, mas porque foram restaurados e tinha como fazer o restauro. Qualquer relojoeiro bom, sabendo a técnica, consegue restaurar um relógio. Como disse, pode custar caro, mas é possível fazer qualquer peça metálica de um relógio. Aliás, com um torno e fresa, um bom engenheiro mecânico faz qualquer peça de qualquer coisa, até nave espacial.

Mas... Platina em nano carbono de um Richard Mille. Que relojoeiro reproduz isso no mundo, até mesmo porque nem trabalho de relojoeiro é.

Concordo, pois, que o restauro de qualquer coisa mais carne de vaca tende a ser simples. Mas querer é poder! Quantos carros históricos foram encontrados somente na lataria por aí e acabamos vendo em estado de novo nos museus? As peças faltantes foram literalmente reconstruídas do zero, seguindo planos originais. Aí a diferença: trabalhar em metal é proficiência milenar, fazer molas em silício não.


Flávio

Dicbetts

Citação de: flavio online 27 Março 2014 às 22:21:18

Comentei hoje com colegas, conversando sobre carros, uma frase que ouvira em algum lugar: "os automóveis clássicos de hoje serão os mesmos automóveis clássicos de amanhã".


Concordo em gênero, número e grau.

Comentamos dias atrás, na "varanda do Estrela": ainda não inventaram parelha mais perfeita que uma Gibson (qualquer uma: Les Paul, SG, Explorer, Flying V, Firebird, 335, 345, Barney Kessel...) e um cabeçote Marshall de 200 watts.

Ou um Fender Precision montado num Ampeg.

Tem coisa melhor? Uh, se tem.

Mas não é clássico. E clássico, nêgo, é clássico. Por definição.

Dic

Dicbetts

Citação de: ogum777 online 28 Março 2014 às 01:40:28

pessoas usam tênis all star até hoje. quantas décadas tem o modelo?


Exatamente 80 anos. All Star veio depois, com o jogo das estrelas.

Antes, a Converse tinha um modelo militar (militar!), que fornecia para o treinamento da recrutada.

Foram reeditados anos atrás. Tenho um. É de um desconforto impressionante.

Dic.

Betocd

Flavio,
Só vi esse post hoje.

Uma dúvida: essas peças, feitas em materiais exóticos, raros, complicados de se trabalhar, etc..... Elas não poderiam ser substituidas no futuro por peças fabricadas em materias mais convencionais?
Como o exemplo da espiral em silicio / metalica....

Abs



flávio


Betocd

Citação de: flavio online 03 Abril 2014 às 12:20:04
Algumas peças eu acredito que sim.


Flávio

Ok, então acabaria sendo como um carro antigo, encontrado em péssimas condições e que acaba sendo todo refeito novamente....

Abs

ogum777

Citação de: Betocd online 03 Abril 2014 às 12:24:59
Citação de: flavio online 03 Abril 2014 às 12:20:04
Algumas peças eu acredito que sim.


Flávio

Ok, então acabaria sendo como um carro antigo, encontrado em péssimas condições e que acaba sendo todo refeito novamente....

Abs

mais ou menos.

pois eu me pergunto: ao mudar o material duma mola, não muda também seu comportamento? basta fazer a mola com o mesmo desenho, mas com material diferente? eu não sei, talvez o mais entendidos saibam. se sim, dá pra fazer, se não, o restauro será mais difícil...


edson rangel

   Boa noite, sou técnico em eletrônica e trabalho com câmeras de segurança, telefonia, interfonia e etc. Algum tempo atrás consertávamos as placas, tínhamos esquemas para analisarmos os circuitos, usamos componentes com diodo, resistor, capacitor, transistor e por aí vai. Hoje em dia não se repara mais nada, tudo se troca placa, brincamos que nossa profissão acabou e fomos rebaixados a trocadores de placa, não é mais necessário fazer cursos, estudar eletrônica, se aprende com muita facilidade a fazer trocas.
   Quanto as relógios devem caminhar para o mesmo caminho do assunto supra citado, vai se trocar o miolo do relógio ao lugar de reparar e aí caímos numa dúvida: trocar o miolo sai caro, pois só fica a caixa e a pulseira por exemplo ou melhor comprar um novo? falo isso porque na telefonia é assim que acontece, um telefone simples custa em torno de R$ 20,00 até R$ 40, 00 uma peça como a capsula receptora custa R$ 12,00 e mais a mão de obra, é melhor comprar outro. Tenho a impressão que os relógios caminham para isso.
FIQUEM  TODOS NA PAZ DE DEUS !!!!

CHICO

Até a Rolex, está caminhando para a espiral de silício; realmente, parece que será complicado restaurar os relógios que estão por vir brevemente. E o besel de cerâmica? Hoje como disse o Flávio, é fácil resolver, mas daqui 700 anos, impossível saber.

CSM

nao necessaciamente por causa dos materiais, mas da tecnologia como um todo... uma coisa que acho que tem a ver com o assunto sao estas malditas novas televisoes de plasma, led, lcd... hoje em dia, elas viraram praticamente descartaveis. é impressionante, eu tenho uma sony de tubo 29" que deve ter uns 12 anos deu problema até hoje uma vez gastei sei la, 200 dilmas para consertar e esta la firme e forte no quarto da minha filha... enquanto isso, ja estou na minha segunda televisao de plasma/lcd que  da problema, a primeira me cobraram 800 pratas para consertar, joguei fora, comprei uma nova a uns 3 anos atras, deu problema esta semana, o maluco foi fazer um orcamento, 780 reais..... vou pedir uma "segunda opiniao" mas a chance de ir para o lixo e eu comprar uma nova é gigante tambem.....

abraços
Membro do RedBarBrazil

dsmcastro

Daqui a 100, 200 anos todo mundo vai ter tanta impressora 3D igual temos laser e jatos-de-tinta hoje e daí vai ser só fazer o download ou o projeto da peça que quiser e a impressora constroi em qualquer material... Aliás, eu acho que o problema do futuro vai ser justamente a falta de necessidade de se guardar e preservar coisas em museus ou coleçōes... Tudo será holografia, peças descartáveis que você mesmo constroi e reconstroi... O futuro vai ser cada dia mais sintético...

Vixe... Melhor parar de viajar por aqui... hehehehehe...
www.marciomeireles.com.br
www.behance.net/marciomeireles

Alberto Ferreira

Citação de: ogum777 online 03 Abril 2014 às 12:29:36
...
... ao mudar o material duma mola, não muda também seu comportamento?
...


Sim, muda.
O "desenho" (projeto físico) e o material, combinados, conferem à mola a sua característica única.
Portanto, ao alterá-los, o resultado final, o desempenho, seria diferente.


Citar
...
...basta fazer a mola com o mesmo desenho, mas com material diferente?
...


Não.
Como dito acima, são a forma (o "desenho") e o material que, combinados, conferem à peça as características pretendidas.

Ou, em outra palavras, no caso específico das molas a coisa não é tão simples assim.
Simplesmente não dá para "replicar" desta maneira.

Alberto