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Restauração de Relógios Mecânicos Antigos

Iniciado por Fmassu, 17 Julho 2015 às 11:36:59

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Fmassu

Bom dia a todos, sou um neófito nesta senda de relógios.

Gostaria de ouvir a opinião dos colegas a respeito de restauração de relógios.

Vale realmente a pena restaurar?

Não falo no sentido comercial (compro por X, restauro e vendo por Y), mas no sentido estético. Será que um relógio de 70 anos com cara de novo, representa algo a mais? Isso sem contar algumas atrocidades que acontecem com restaurações mal feitas, tenho visto pela internet alguns relógios restaurados, em que o mostrador é repintado e o relógio fica parecendo uma linda musa com uma linda roupa de festa, mas com maquiagem de palhaço.

Talvez uma caixa muito judiada, daquelas difíceis de abrir, que quando você pega na mão percebe nitidamente que alguém tentou usar inclusive as ferramentas de pedreiro para abri-lo sem sucesso, com cantos lascados, riscos e descascado. Neste contexto, creio que um bom artesão conseguiria facilmente ressuscitar tal caixa.

Peguei recentemente dois relógios com defeito, um 100% Tissot (1950/1960) e outro meio Frankestein (Caixa e Mostrador da Tissot - da primeira metade da década de 1940; e Máquina, ponteiros e tampa da Omega - máquina e tampa de 1942/1943). Tinha como objetivo quando os peguei na mão, dar um belo trato os deixando como novo. Contudo com o passar dos dias fui me apegando aos seus riscos e defeitos, e agora não me parece mais fazer tanto sentido.

Quando falamos de relógios antigos, mais de 50 anos, a questão econômica de restaurar fica em segundo plano, pois mesmo que para comprar e restaurar um determinado MODELO iremos gastar por exemplo uns R$600,00, e o mesmo completamente restaurado valha apenas R$400,00, muitas vezes não existe oferta do referido relógio no estado desejado, de forma que a única forma é gastar mais.

Gostaria de ouvir os colegas a respeito.

flávio

Se você pudesse obter um avião Spitfire, ou mesmo um carro da Bentley, "new old stock", seria muito bom, não é mesmo? Mas o mundo não é tão bom assim... Fato é que a tarefa dos restauradores é verdadeiramente hercúlea, porque buscam trazer das cinzas, muitas vezes - ou na maioria das vezes - , reproduzindo as técnicas usadas no passado, objetos únicos e insubstituíveis.

Falando especificamente da relojoaria, os maiores mestres dos últimos cem anos, George Daniels incluído, iniciaram suas carreiras como relojoeiros reparadores, obtiveram contato com RESTAURAÇÃO DE RELÓGIOS DOS GRANDES MESTRES e, só então, passaram a fabricar os seus. E creiam, restaurar relógios antigos, sobretudo CONSTRUINDO peças, segundo declarado pelo próprio Daniels, para citar um exemplo, é tarefa mais complexa do que fazer seu próprio relógio. E por quê? Porque quando você fabrica algo seu, exprime à sua obra o seu próprio caráter. Ao tentar restaurar um relógio feito por outro, você deve COPIAR exatamente o espírito do fabricante, de modo que uma peça reproduzida seja impossível de distinguir daquela feita pelo mestre.

Já imaginaram, por exemplo, o "cagaço" que um George Daniels deve ter passado na primeira vez que pegou um relógio de Breguet, o próprio, e tentou reproduzir algumas rodas corroídas pelo tempo e colocá-las no seu interior, de modo que o próprio Breguet, se levantasse do túmulo, não conseguiria distinguir se fora ele a fazê-las ou o outro? Pois é... Eu não conheço tarefa mais difícil do que a do restaurador, e por isso, na relojoaria, existem poucos que sequer tem coragem de mexer com isso.

Tudo bem, alguns podem dizer que a tarefa de restaurar um relógio de pulso produzido em série é mais simples. Será mesmo? O problema é que no Brasil faltam restauradores sérios. Aliás, eu desconheço relojoeiros aqui que sejam capazes de sequer reproduzir eixos, quando mais rodas, etc

É óbvio que na relojoaria, como em qualquer arte, se você conseguir adquirir peças antigas feitas pelo fabricante, melhor. Caso contrário, o caminho será restaurar e, na minha singela opinião, não sou contra restaurações. Aliás, tenho a seguinte teoria, que já ressaltei aqui: RELÓGIO VELHO É COISA DE MUSEU. Vejam, não estou dizendo que relógio VINTAGE sejam coisas de museu, até mesmo porque a época áurea da relojoaria, com o devido respeito, não é a atual. Falando de década e relógios de pulso, na minha opinião, a época de ouro ocorreu nos anos 50. Quem não gostaria de ter relógios NOS da década de 50? O Gravina, por exemplo, tem vários. Ou seja, eu adoro vintages, mas vintages que eu possa usar sem me passar por alguém que retirou o relógio do afundamento do Titanic, todo detonado!

Concluindo. Sou, então, absolutamente favorável a restaurações, ABSTRAINDO-ME DE QUESTÕES RELATIVAS A PREÇO porque, evidentemente, uma restauração séria custa uma fábula e, como ressaltado, às vezes não vale a pena financeiramente falando.

Mas quando a restauração é seria... Vejam esse vídeo institucional da Patek, preciso falar alguma coisa?




Flávio

Alberto Ferreira

Bom dia!

E, não custa lembrar...
Uma restauração, seja ela bem ou mal feita, é para sempre.

E sempre, de certa maneira, vai alterar a história do relógio.
Se vai contribuir ou destruir, vai depender de como a coisa é feita. Como dito, além das habilidades do restaurador, também vai certamente passar pelo "custo" que pode ou não ser "relevante" no contexto da situação e no entendimento do dono.

Ou seja, pode ser um trabalho excelente, uma arte (ressuscitando a Fênix), ou pode ficar muito pior e até sem chance de volta.

Abraços e seja bem-vindo, Fmassu, participe sempre que puder e quiser.  ;)
Alberto

Cigano

Acho que uma restauração 100% acaba com charme do relógio vintage, 100% que digo são atribuídos a mostradores e caixas com banho de cromo ou ouro. nunca ficarão como novos, sempre haverá imperfeições.

No caso do movimento acho que vale a pena garibar as peças para fazer voltar a funcionar.

No caso do mostradores e caixas só se achar em bom estado sem restauro. Dependendo deixaria com está!

Posta umas fotos das peças !
Abraços,
Cigano!

RCComes

Eu acho que essa é uma questão estritamente pessoal. Particularmente falando, um relógio vintage vale o quanto você está disposto a pagar ou gastar nele (claro, exceptuando o caso dos pateks ou as moscas brancas que valem centenas de milhares), mas de um modo geral, o valor atribuído não passa por uma questão monetária, apenas.
Membro do RedBarBrazil

Fmassu

Hum... percebo que uma divisão que parecia óbvio em minha cabeça, não é assim, e que devia ter explicitado, mesmo porque o conceito de restauração é muito mais amplo.

Separei em minha cabeça os dois conceitos: Restauração e Conserto. De forma que quando falava de Restauração me referia apenas a melhorias nas condições estéticas do relógio, e não na sua funcionalidade.

Com relação a consertar o relógio e faze-lo voltar a funcionar, ou funcionar adequadamente, com relação a isso não tenho como ser contra, tanto que na minha mente, se quer se deu conta de que existiria outra opção na hora que escrevi o texto. Da mesma forma julgo natural reproduzir peças para substituir as defeituosas que não possam ser consertadas.

Vou aproveitar o exemplo do flavio. Há duas "escolas" de restauração, a primeira busca deixar o carro com aparência de novo e outra pretende manter a aparência mais antiga, mesmo um pouco desgastada. Quando olho para um relógio na primeira vez, penso em deixa-lo novo, porém com o tempo vou me acostumando a um ou outro risco, como também a alguma mancha no mostrador.

Não creio que uma visão seja certa e outra errada, creio que com tempo terei relógios que optarei em deixa-los com aspecto de novo e outros não. Assim como cada um tem sua preferência pessoal.

Cigano, depois coloco umas fotos do Frankstein e conto um pouco do que já descobri.