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Benzina na limpeza de relógios?

Iniciado por Yang Forcióri, 06 Fevereiro 2016 às 17:47:24

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Yang Forcióri

Boa tarde, pessoal.
Depois de muita pesquisa com vários relojoeiros, esse tópico "benzina" não ficou muito claro...
As opiniões são bem divergentes:

- Uns dizem ser o único produto disponível para higienização dos maquinários.
- Outros, no entanto, alegam que a benzina ataca o acabamento das peças com o tempo.

Ouvi murmúrios que tem autorizada mergulhando maquinários em benzina e lubrificando por fora.
Sem mencionar que - supostamente - também não usam os seis tipos de lubrificantes específicos (que custam 100 euros cada frasco com 10 ml) para os diversos eixos.

Então, qual é a opinião dos nobres colegas sobre esse assunto? Benzina, sim ou não?

Obrigado, meus amigos.

Adriano

Autorizada mergulhando máquina inteira na benzina e lubrificando depois? Me surpreende que o relógio funcione depois disso. Acho que mencionar a autorizada de que marca faz isso, seria um serviço de utilidade pública...


Mas bem, sim, a benzina é uma das soluções de limpeza usadas para lavar peças de mecanismos de relógio. Notem bem que me refiro a peças de mecanismos, e não relógios completos.

A benzina em questão é especificamente a benzina bi ou tri-retificada, ou também conhecida como hexano. É um destilado muito fino de petróleo e que age principalmente como solvente de óleos e gorduras.

Na relojoaria ela é apenas uma das soluções usadas para a lavagem das peças de mecanismo, justamente porque dissolve as graxas e óleos, e ainda deixa uma fina camada protetiva sobre as peças. É fina o suficiente para não ser cosiderado um resíduo, e nem é oleoso.

Mas ela é só um componente. Sozinha, sem outras soluções e sem ser usada em uma máquina de lavar, ela não cumpre seu papel, pelo menos não dentro das exigências dos fabricantes.

Uma limpeza, para atingir o mínimo exigido, tem que ser feita em pelo menos 3 etapas em uma máquina de lavar, sendo as outras etapas em solução de limpeza (de composição diversa, como detergentes, amoníaco, ácido oleico...) e em álcool isopropílico. O ideal é 4 ou 5 lavagens e ainda a limpeza ultrassônica.

Alguns procedimentos mudam um pouco de marca para marca. Algumas não recomendam o uso de amoníaco, especialmente em vintages, pois ele sim pode manchar os banhos das platinas e pontes.

Na Suíça existem soluções prontas, mas como sua importação é complicada, senão impossível, os fabricantes permitem o uso de produtos equivalentes disponíveis no mercado local, desde que o resultado seja o mesmo.

Mas um dos processos mais comuns é uma lavagem em solução de limpeza, seguido de uma lavagem com álcool isopropílico (cuja função principal é enxaguar a solução de limpeza e evaporar toda a água contida nela, para não se misturar nas lavagens seguintes), e mais duas lavagens em benzina hexano.

Se necessário, antes de irem para a máquina, as peças podem passar por uma limpeza mecânica, manual.

Nunca ouvi falar na benzina manchar peças de metal. E olha que já li e reli manuais de diversas marcas, de frente para trás e de trás para frente (até porque é justamente uma das minhas tarefas). Assim como nunca vi nada acontecer por conta da benzina.

Então como disse, os únicos cuidados são no uso do amoníaco (que nem é mais considerado eficaz para isso) e no contato de peças com goma laca (como a âncora e balanço) com o álcool isopropílico. Por essa razão, balanços (e por outras razões também) e âncoras não são lavados na máquina.

E por fim, os ciclos de uso de cada solução devem ser respeitados para que a limpeza seja perfeita.

E existem métodos especiais para se testar a qualidade da lavagem. Os fabricantea fazem auditorias com as autorizadas e um do itens checados sempre é a qualidade da lavagem, pois uma revisão de qualidade começa justamente aí.

Assim como checam o estoque de lubrificantes, suas datas de validade e as condições de armazenamento.

Sem isso você não vira autorizada de marca nenhuma.

Abraços!

Adriano


Yang Forcióri

Olá, Adriano. Puxa! Não esperava uma aula. Foi mais do que ouvi de alguns relojoeiros.
Ajudou bastante.

Gratidão.


pedrobotelho


Edgar

Amigos,

Quando era criança, isso já tem quase 50 anos, tinha muitos relojoeiros, aqui e ali. Se eram bons, nunca soube se eram ou não... Mas, era o que tínhamos. Isso no meu bairro. Ipiranga - São Paulo - SP. Tínhamos também, os alfaiates, os sapateiros, os técnicos em rádio e TV, enfim, hoje, esses profissionais quase não existem mais. No caso dos relojoeiros, sumiram de vez...A maioria que tem por aqui, é para trocar bateria a ajustar pulseira.... Mas, por que estou falando tudo isso? Como disse: Naquele tempo, eu via os relojoeiros pelo menos 3 perto de minha casa, usarem benzina para limpeza das máquinas.....e como não entendo de lubrificação, eles tinham um óleo vermelho....Gostava de vê-los trabalhando.... E, como era só relógios mecânicos, então muitos que não eram de marcas top, acabavam dando um problema aqui, outro ali. Via muito as pessoas, levarem para ajustar, na entrada do verão e depois do inverno....

Quanto a Assistência Técnica ser super rigorosa, não sei se isso é uma prática rigorosa no nosso Brasil. Mas, espero que seja. Sei de material hospitalar, não ter esse rigor todo....imagina com relógios... Mas, é questão de sorte encontrar um bom profissional que leve tudo ao pé da letra.

Abraços

Edgar
Escolha o caminho do meio!

MAGB-ILHA

Após mais uma explanação didática do nosso mestre Adriano, sinto-me a vontade para perguntar...
Bem se um relógio é resistente há pressão de 10 BAR ou 10 ATM como é que surge a sujeira dentro dele?
A sujeira não poderia entrar, ou poderia?
Fico na dúvida.
Abraço a todos.

Yang Forcióri

Edgar, meu amigo, esse é meu dilema: encontrar um bom profissional para cuidar dos meus poucos relógios.
Aqui em Brasília, encontrei um excelente: super didático, honesto e muito simpático. Vou lá duas ou três vezes por semana, só para aprender um pouco mais. No entanto, ele não concorda com manutenção de rotina. Ele julga desnecessário; tendo um bom resultado no vibrograf, ele não quer mexer. Mas quero fazer essas manutenções de rotina. O problema agora, é encontrar alguém que siga os procedimentos corretos.

Grande abraço.

pedrobotelho

A verdade é que um bom profissional, que zele pelos bons materiais usados, sempre vai embutir esse custo todo no serviço, talvez por isso os especialistas (leia-se autorizados) hoje são "caros". Do contrario, desconfie.
Em Goiania tem um especialista muito bom, autorizado de varias marcas de alto nivel, inevitavelmente uma revisão em qualquer relogio é um preço fixo, pois ele zela pelo relogio e usa os mesmos materiais para um qualquer ou para um Patek, cabe ao cliente se dispor de pagar o mesmo preço.

GuilhermeAzeredo

Magb, creio que essa sujeira, não venha do ambiente externo, não que isso n seja possível, mas sim dos desgaste natural dos lubrificantes e, talvez, parte do material que atrita entre eles, durante o funcionamento do mecanismo... Mas não tenho certeza disso...

  Quanto ao preço de uma revisão em uma autorizada... É uma discussão enorme e que inclusive já foi tratada aqui... Mas em minha opinião, nada paga a segurança que o consumidor tem em deixar sua peça com quem realmente entende o que está fazendo e segue rígidos padrões de qualidade e com garantia do serviço!

Abracos!

Alberto Ferreira

Boas noites!

Sim, como disse o Guilherme, esta "sujeira" é mesmo proveniente do desgaste das peças e dos lubrificantes.

Num relógio bem vedado é menor o risco disso ocorrer, mas passado muito tempo, e com muito uso, pode acontecer naturalmente.
Se esta "sujeira" for muita poderia até já estar causando desgastes excessivos. Daí a recomendação das revisões após algum tempo.

Sem que haja negligências sérias no uso, entrar uma sujeira "sólida" é bem mais raro. Em geral com os retentores falhos, o que penetra primeiro e com muita facilidade é a umidade.

Abraços!
Alberto



Adriano

O que foi dito está correto. A sujeira não vem de fora, mas do próprio material desgastado. E a lavagem não significa que está sujo. Mas ela precisa ser feita de todo modo para remover o óleo que está lá, antes de se colocar um novo. Simples assim.

Quanto ao preço da autorizada, é aquilo que já disse: todo mundo tem escolha. As vezes a autorizada cobra 1.500 por um serviço que tem 900,00 de peças novas e originais inclusas e dá dois anos de garantia. Outro relojoeiro cobra 1.000 pelo mesmo serviço, não troca peça nenhuma e dá um a o de garantia. E tem um outro que cobra 150,00 pelo mesmo serviço e "la garantia soy yo". Cada um é livre para decidir onde confiar seu bem.

Abraços!

Adriano

MAGB-ILHA

Agradeço aos amigos os esclarecimentos da origem da sujeira. Fico perplexo realmente com isso. Imaginava, como leigo que sou,  que os materiais pudessem ser quase indestrutíveis pelo uso, já que os movimentos são suaves e sem explosões ou materiais corrosivos, como em outras obras da engenharia humana. Entretanto o óleo quando começa a perder as suas propriedades é algo que realmente inverte toda a função a ele destinada.
Mais uma vez agradeço a todos as oportunidades de estar aqui e aprender com os "papas" do conhecimento.
Forte abraço a todos,