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Um documentário amador sobre a Waltham

Iniciado por admin, 12 Julho 2016 às 15:21:36

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flávio

Numa sucessão de longos textos que escrevi ao visitar "in loco" o que narrava, abordei as estruturas da indústria inglesa, alemã e suíça. O tempo passou e, talvez pela falta de "empolgação" de estar lá, não fechei o ciclo, com a indústria americana e japonesa. Algum dia escrevo algo... Mas é importante ressaltar que as bases da indústria dominante a partir do século XIX, a suíça, foram fundadas na divisão do trabalho entre oficinais independentes, cujo produto final era encomendado por mercadores (o sistema de etablissage). Essa divisão do trabalho persiste até hoje, em maior ou menor grau, mas até o século XIX somente existia esse sistema, as fábricas, tal qual conhecemos hoje, não existiam. Mas o principal é que, em virtude de os componentes de relógios serem produzidos por pessoas e em oficinais diferentes, não eram intercambiáveis entre si e precisavam de ajuste. Uma engrenagem, pois, conquanto parecida com outra e projetada para um calibre feito em massa em máquinas operadas manualmente como as de Ingold (usadas pela primeira vez pela Audemars, em meados de 1850), não servia em outro.

Aaron Denisson, após vislumbrar como fabricavam mosquetes em Springfield, de forma intercambiável, criou a Waltham que, no começo, passou por dificuldades, mas em pouco tempo produzia pelo menos 10 vezes mais do que qualquer "comptoir" suíço.

É conhecida a história da delegação suíça que visitou a exposição em 1876 e analisou os métodos americanos, eis que perdiam mercado para eles na época.

Favre Perret, foi à Waltham e, após ver tudo, pediu um relógio ao chefe de operações da marca para analisar. Sem problemas, disse ele, e pegou de uma caixa cheia, aleatoriamente, um relógio de 5 grau (o mais simples) da Waltham. O cara da Waltham disse: pode usá-lo por um dia para ver como de fato é bom. Perret pediu para ficar com ele, e assim viajou para Paris...

Uma semana depois, o relógio apresentava apenas 30 segundos de variação e, após proferir uma palestra importante em La Chaux de Fonds e redigir um documento famoso na história da relojoaria, deu o relógio a um "master watchmaker" suíço para analisar.

E aí, perguntou ele, depois que o relojoeiro desmontou o troço de cabo a rabo...

Olha senhor Perret, é verdade que esse relógio foi pego aleatoriamente na fábrica deles? Sim... E é da pior qualidade! Estamos perdidos então... Nem se procurássemos em 50 mil relógios suíços encontraríamos um igual...

A partir daí, começando com a Longines e Zentih, os suíços começaram a alterar suas produções para modelos efetivamente intercambiáveis e produzidos em massa.

Isso é outra história...


É uma pena que esse documentário amador razoavelmente bem feito esteja apenas em inglês, mas aborda alguns fatos interessantes sobre os primórdios da Waltham.


https://www.youtube.com/watch?v=AD3PR3kFrJY


Flávio

Koopa

"No Walthams for civilians. Production for victory only!"

Excelente post Flávio. Não conhecia essa história, muito menos imaginava tamanha qualidade desses "métodos americanos" de produção na época.