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Dra. Rebecca Struthers e sua contribuição a relojoaria e as mulheres

Iniciado por Jefferson, 11 Março 2021 às 20:41:03

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Jefferson

Prezados,

Dra. Rebecca Struthers é doutora de verdade, e diferentemente de muitos que vemos por aí... fez doutorado, e em relojoaria, uma área que tanto predomina a presença masculina. E mesmo entre os homens, ela é peça rara, uma exceção. Nada mais justo, divulgar um pouco do seu trabalho, neste mês das mulheres.

Desde cedo se interessou por joalheria e relojoaria, estudou relojoaria, fez mestrados em História da Arte e em Design aplicados à relojoaria antiga, doutorado, montou um atelier tradicional com o marido e muito mais... E se não bastasse, ainda é linda e muito simpática.

Um breve perfil seu, publicado na Espiral do Tempo:

https://espiraldotempo.com/perfil-rebecca-struthers-pioneirismo-no-feminino/

Palestra "Fakes, Forgeries and the Birth of Mass Production in the Watch Industry" falando um pouco sobre seu campo de estudo e descobertas:

https://www.youtube.com/watch?v=k2kPZ3MTmUY

O site do seu atelier:

https://www.strutherswatchmakers.co.uk/about

Saudações,

Jefferson.

flávio

Essa palestra acima indicada, da Horological Society, está no meu radar há algum tempo. Assisti várias do canal deles.

flávio

Acabei de assistir. Sei lá, esperava mais... O fato histórico "impressionante" levantado na palestra não é tão novo assim, os suíços implementaram sim sua indústria para criar modelos que se pareciam com os ingleses e tinham denominação inglesa falsa. O interessante é colocar tais relógios em um contexto de modo a serem enaltecidos, pois permitiram o acesso da emergente classe média britânica a produtos que só eram acessíveis aos ricos.

Flávio

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Jefferson

Citação de: flávio online 12 Março 2021 às 17:58:20
Acabei de assistir. Sei lá, esperava mais... O fato histórico "impressionante" levantado na palestra não é tão novo assim, os suíços implementaram sim sua indústria para criar modelos que se pareciam com os ingleses e tinham denominação inglesa falsa. O interessante é colocar tais relógios em um contexto de modo a serem enaltecidos, pois permitiram o acesso da emergente classe média britânica a produtos que só eram acessíveis aos ricos.

Flávio

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Flávio, algo que tem sido comentado dos achados da Dra. Rebecca e que na palestra acho que não ficou claro, nem destacado, foi a linha do tempo de quando ela identificou o inicio da organização do trabalho em escala industrial na relojoaria, que segundo suas pesquisas foi bem anterior ao que se pensava até então.

Saudações,

Flávio.

flávio

Pois é... A impressão que me deu é que faltou muita coisa da pesquisa. Mas... Para dizer a verdade, eu sequer sabia da tal conexão Holanda/falsificações, muito embora parecesse óbvio para ela. Eu tenho um livro em casa sobre a coleção do British Museum, vou até dar uma pesquisada.

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flávio

Dei uma consultada nos alfarrábios agora pela manhã e, inclusive, encontrei a tese dela de Phd, que já baixei e vou imprimir e encadernar para ler com calma no futuro. Ao ler o resumo do que consiste a tese, só então percebi a inovação: o inusitado da tese dela é colocar toda a indústria de "falsificação" de relógios pelos Suíços como a efetiva mola impulsionadora da própria indústria de produção em massa de relógios. Isso não tinha ficado claro para mim durante a palestra, mesmo após a pergunta final de um tiozinho, no seguinte sentido: " e os suíços, o que acharam de tudo isso".

Pois bem, um contexto histórico para aqueles que passaram a acompanhar essa discussão e estão a ver navios, porque não compreendem o inglês (e o FRM é um canal para difundir conhecimentos de relojoaria àqueles que não os possuem ou mesmo não tem acesso a textos em nossa língua).

A relojoaria britânica, sobretudo pela busca pela precisão impulsionada pela necessidade da "descoberta" da Longitude, era a mais aprimorada do planeta, até início do século 19. Há algumas considerações sobre isso num texto meu, aqui:

http://relogiosmecanicos.com.br/curiosidades/the-worshipful-company-of-clockmakers/

E como eram os mais aprimorados e referência, evidentemente copiados, como acontece até hoje com marcas famosas. E quando digo copiados, não estou falando que eram "falsificados", a ponto de você encontrar centenas de milhares de relógios com o nome "Graham" impresso, mas sim no estilo e denominação de origem: o simples fato de um relógio ser (ou parecer ser...) produzido em Londres já era motivo suficiente de prestígio.

Na era de ouro da relojoaria britânica, começaram a surgir relógios mais simples do que aqueles fabricados pelos grandes mestres britânicos e só acessíveis aos ricos. Em regra, tais relógios eram considerados "falsificações Holandesas", não porque fossem holandeses na sua origem, mas porque tinham características de relógios feitos originalmente na Holanda e, para dizer a verdade, em todo continente europeu (o que caracterizavam tais relógios, vide foto ao final, eram as "arcadas" nos numerais e ponte do balanço apoiada por dois parafusos, aliás, como a Rolex, Omega, etc, usam atualmente).

Não é novidade, por isso meu questionamento acima inicial sobre a tese da Rebecca, que tais relógios eram feitos na Suíça... Mas como e por que eram feitos na Suíça?

E aí está a novidade na tese dela. Ela acredita e defende na tese que ocorreu a exportação de maquinário e tecnologia inglesas para o continente, por mercadores holandeses. E estes financiaram a mão de obra barata existente na Suíça e desenvolveram uma nascente indústria no local, que posteriormente "engoliu" o criador. Ou seja, a indústria começou impulsionada por um mercado ávido por produtos "cópia", mais baratos, que seriam acessíveis a todos, para depois passar a caminhar com as próprias pernas, apresentando produtos de design próprio e para todas as camadas sociais. Confesso que pensei na China atual quando li isso...

Mas ela vai além, ao ponto de tentar encontrar o "algo bom" em tudo isso, porque não fossem as "falsificações", a classe média britânica e de outros países não teria acesso a produtos tão caros.

Em resumo, seria isso.

As fotos abaixo são de um relógio da coleção do British Museum, assinado "John Wilter", certamente um nome fictício usado pelo produtor para não chamar atenção das autoridades e ter vida própria (como os atuais relógios "inspirados" naquele ou neste modelo, mas que possuem nome próprio, sem necessariamente ser considerado uma "falsificação").

A decoração - e a Rebecca analisa isso na sua tese - é feita para lembrar muito bem aquelas originais feitas pelos ingleses, mas produzida de uma forma mais barata. O alto relevo, nos relógios originais britânicos, era feito através de puncionamento pela parte de trás do desenho, num processo caro e tedioso chamado "Repousse". Sobre a técnica, aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=1YAIwQzmn7E

Acreditava-se que nos relógios "falsificados" os desenhos eram feitos através de metal fundido mas, ao que parece, não era o caso (foi autorizado à Rebecca desmontar alguns relógios do British Museum e submetê-los a radiografia): na verdade, estampava-se a figura com uma folha finíssima de metal e, depois, preenchia-se o baixo relevo resultante na parte de trás com chumbo, o que não só escondia o fato com dava mais peso ao relógio.

Deixo ao final, também, um excerto da obra A revolução no Tempo, de Landes, no qual ele aborda rapidamente o tema. Ressalte-se, porém, que o livro contém alguns capítulos exclusivamente sobre a questão da ascensão e declínio da indústria britânica e os relógios "falsificados".

Flávio

Jefferson

Flávio, muito bom... É isso mesmo, e de fato acho que a palestra, talvez por conta da limitação de tempo ou por ser formatada para um público já familiarizado com o assunto, não deixou certos detalhes do trabalho da Dra. Rebecca esclarecidos.

Mas você resumiu muito bem, e eu só acrescentaria um ponto de destaque, que foi a descoberta nesta pesquisa, que este movimento de industrialização já acontecia a muito tempo e bem antes de quando se imaginava.

E você observou muito bem a ironia que a Suiça vive atualmente com os países asiáticos, porque o que os Suíços "fizeram" com os ingleses, estão "sofrendo" agora com os asiáticos. Mas fiz questão de colocar entre aspas as duas palavras anteriores, porque também como destacou a Dra. Rebecca, todo este processo de falsificação dos Suiços trouxe benefícios para o comercio e também para os consumidores. Então, talvez fique a pergunta, quando olhamos para o passado... Até que ponto os asiáticos representam uma ameaça? Para os bolsos das marcas suiças é certo, mas para o comercio e para os consumidores, talvez nem tanto...

Um outro ponto que também me fez refletir de forma mais ampla sobre a politica de "cópias" dos asiáticos foi um documentário que assisti sobre falsificações de obras de artes, em que é explicado que na cultura oriental antiga, as cópias de obras de artes, manuscritos, etc... era uma pratica muito respeitada e valorizada na sua cultura e vista como uma forma de homenagem a obra original e eles tinham grandes mestres nos mosteiros dedicados a este trabalho como uma forma de divulgar e preservar obras antigas.

Claro que não quero romantizar os esquema de falsificações e cópias dos chineses, nem defender esta pratica que tem um cunho fortemente voltado para o lucro fácil, num mercado crescente, mas apenas mencionar que esta prática já está na cultura dos asiáticos a muito tempo.

Saudações,

Jefferson.

AlexandreMed

Pra quem, assim como o Flávio, se interessou em ler a tese de pós-doutorado da sujeita, segue o link:
http://www.open-access.bcu.ac.uk/9554/
são 60mb de download e pdf de 459 páginas
de Birmingham, eu só quero saber dos Peaky fucking blinders...

flávio

Cotei a impressão totalmente colorida agora e cai para trás, cada folha colorida custa 1.50 reais (a tese tem 170 folhas coloridas). Vou acabar imprimindo tudo no preto e branco mesmo, 35 reais, mais o valor da capa dura e encadernação.

AlexandreMed

Legal eh que o relógio q ela colocou na capa eh do Harry Potter
Sera q a JK Rowling manjava dos relógios e quis homenagear o sujeito,rsrs ??


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flávio

Feito. Ficou em preto e branco mas paciência...



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igorschutz

Opinião é como bunda: todos têm a sua. Você dá se quiser.
Opinião é como bunda: você dá a sua e eu meto o pau.

NÃO ACREDITE NO QUE 'FALAM' AQUI, ESTUDE BEM E TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES

fbmj

As "falsificações holandesas", que usavam assinaturas inglesas, me fizeram lembrar as atuais chinesas que usam nomes "ocidentais".