Outra visão sobre a crise do quartzo

[Adriano]

O site da HH trouxe na última edição de sua revista on-line (publicada hoje) três ótimos artigos sobre a relojoaria japonesa. Um deles fala sobre a reabertura do museu da Seiko em Tóquio (um sonho que espero um dia realizar, o de visitar esse museu) e outro bem interessante sobre a crise do quartzo, com uma visão um pouco diferente da que estamos acostumados. Gostei.

http://journal.hautehorlogerie.org/en/focus/Japan/japanese-quartz-didnt-kill-the-swiss-watch-industry-3845/


Abraços!

Adriano

[igorschutz]

Há um tempo comprei o livro do Donzé (History of the Swiss Watch Industry from Jacques David to Nicolas Hayek), quando ele foi recém traduzido para o inglês. Inclusive cheguei a recomendá-lo aqui.

Esse livro disseca bem essa teoria de que os suíços quase quebraram por causa da sua estrutura manufatureira dispersa, enquanto os japoneses eram concentrados e, consequentemente, produziam com mais lucro.

O que Hayek fez foi verticalizar a produção, se igualando aos japas, e aproveitando o prestígio do selo Swiss Made pra vender relógio com um premium, auferindo ainda mais lucro que os asiáticos.

[flávio]

Não há ramo da indústria que tenha quebrado tantas vezes e com as mesmas "soluções para seus problemas" como a indústria suíça.
Podemos citar alguns momentos:

1) Excesso de estoque pós primeira guerra e empréstimos não honrados, contraídos justamente porque em tempos de guerra tudo estava muito bom. Solução? Cartel.

2) Crise de 1929, quando tudo voltou a ser o que era, os mesmos empréstimos foram tomados e não honrados e...Cartel.

3) Criação de um novo produto e novos pólos de produção em uma indústria que, pasme, pressupõe-se ser grande, mas na verdade é pequena, compromissos não horados e...Cartel.

Eu tenho minhas dúvidas se em acontecimentos econômicos é possível separar apenas uma causa para um efeito e, pior, uma solução para os problemas. O sistema de fragmentação, etablissage, da indústria suíça, foi motivo de sua quebra em todas as oportunidades, já que a solução foi justamente a concentração? Não sei...Não acredito muito nisso, porque a mesma fragmentariedade também é a tônica de inovação e desenvolvimento da indústria suíça, mesmo após a Longines copiar os americanos e..."mais ou menos" colocar tudo sob o mesmo teto, já que até hoje a produção deles é bem fragmentada.

Também já li vários livros sobre o assunto e não o acho tão simples. Se a fragmentariedade da indústria suíça pode ter sido sua sina, também é verdade que sem ela, a indústria não teria existido.


Flaviio

[igorschutz]

Acho que sua visão está um pouco distorcida, Flávio.

Agora é hora do almoço e logo a patroa chega aí, então não posso me alongar (depois, talvez), mas o cartel só foi utilizado uma vez pela indústria suíça, lá na crise de 29. Nas outras crises, a solução não foi o cartel.

Adotar o esquema de manufatura dos americanos é bem diferente de cartel.
Verticalizar a produção, diminuindo o número de modelos oferecidos e cortando custos não é cartel.

Cartel com controle de produção e preços só foi adotado pela FH na crise de 29, e perdurou até os anos 60. Vê direito isso aí que você está falando.

[flávio]

Igor, estou sem meus livros aqui, mas procurando na net, achei um texto que parece interessante:

http://users.tpg.com.au/mondodec//Swiss_Watch_Meltdown.pdf


Veja. Já em 1924 foi criada a FH que, conquanto não fosse um truste ou cartel no sentido estrito, era uma união dos fabricantes com intuito de pressionar o governo para adoção de medidas protecionistas. No entanto, já em 1924 a Ebauches SA estava criada e, em 1926, a UBAH, na minha definição um tanto quanto singela, verdadeiros trustes/cartéis com o intuito de amalgamar várias companhias e "bater de frente" na concorrência.


Flávio

[igorschutz]

Flávio, a cartelização só ocorreu a partir de 1930, com a criação da ASUAG. Antes disso foi só uma tentativa mal sucedida.

[flávio]

Pô Igora, assim você enfraquece a amizade! 

Ora, o fato de as fusões, medidas protecionistas, etc do pós I guerra não terem dado certo não quer dizer que não foram feitas. A solução buscada sempre foi a mesma, com as peculiaridades da época. As fusões levadas a cabo pelo Hayek nos anos 80 não foram iguais às do passado, mas no fundo, a solução que buscaram foi a mesma. Disse no fundo, na essência, porque o próprio texto que achei (bom esse texto, embora só tenha passado o olho) aborda que Hayek fez mudanças mais profundas na indústria como um todo, de marketing a design de produtos.


Flávio