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le monde est petit...

Iniciado por Bruno Recchia, 16 Abril 2012 às 05:05:17

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Bruno Recchia

Oi pessoal !

Queria contar uma pequena anedota, acontecida aqui na frança, sabado passado. é totalemente OT, ou quase, mas é edificante.

Neste sabado, era o aniversario do Alain, que "lançou" o Chronomania, ha 11 anos. Amigo ja faz uns 7 ou 8 anos.

A festa era prroxima  à região de Paris, então la fomos. O meu amigo sendo apaixonado por musica, organizou a festa mais como um concerto. Nada de "chique", cada um trazia um pouco de comida pra compartilhar, todos ajudavam, cada um trazia um vinhozinho... Algo bem simples. é até engraçado o contraste, pois o Alain gosta de coisas de alto luxo no pulso, tendo por exemplo um QP Patek Philippe e um Lange 1, mas pra essas coisas ele é completamente desencanado.

Pois bem, a uma certa altura, ele me diz, você e a tua vizinha têm algo em comum ! Olhei pra ela, mulata, ja de uma certa idade (uns 40), e disse logo : ah, também és Brasileira...

Claro que era, e ficamos conversando um pouco. Ela me explicou que vinha de Salvador, lugar onde morei por 11 anos, e que connheci bem.

Conversa vai, conversa vem, ela me fala do marido, que quando vai pra la adora cair na farra, encher a cara e voltar la pelas 2 ou 3 da matina. E ela me diz que ele é inconsciente, afinal, eles ficam na casa da familia dela, na favela, em São Cristovão...

Nessa altura, pensei ca com meus botoes... Que milagre que é uma mudança de pais... recoloca tudo a zero, e nos repõe num pé de igualdade. quando la morei, a unica possibilidade de bate-papo com uma pessoa da favela seria com uma das empregadas de casa, e olhe la... Nosso sistema Brasileiro de "castas" socio-econômicas" reduz a praticamente zero toda permeabilidade entre 2 classes tão disparates.

Aqui na frança, não tem mais favelado, não tem mais classe A+, somos todos iguais, e assim podemos descobrir que temos mais em comum do que imaginariamos...

Como eu, detestava "ai se eu te pego", faz questão de NÃO saber sambar, no carnaval, tudo que quer é ficar em casa tranquila... Não podem ter filhos, mas esperam poder adotar, e aqui vivem uma vida simples mas confortavel.

Quando eu vejo isso, penso que realmente, o nosso Brasil é na verdade pouco gangrenado pelo racismo, mas a discriminação socio-econômica é pelo menos tão perniciosa que o racismo. Vejo o lema da França, "Liberté, égalité, fraternité", e gostaria que isso se tornasse realidade, aqui como ai. Mas estamos todos tão longe desse ideal...

1 abraço,

Bruno

Alberto Ferreira

Salve!

Legal, Bruno!

Anos atrás eu tive uma experiência, na mesma linha, embora talvez ao reverso, também interessante.

Em plena estação central do metrô de Estocolmo, a T-Centralen, eu ouvi um "furioso" samba enredo, cantado em português...  :o
Era dia de festa na cidade, daqueles que tem atrações por todos os pontos públicos principais, etc...


Claro, que em parte movido pela curiosidade e em parte pela saudade (eu estava estudando por lá já havia alguns meses), eu cheguei no grupo.
Havia várias mulatas devidamente fantasiadas e sambando (sim, algumas das nossas inconfundíveis mulatas, com todo o respeito pelo termo).

Junto havia também uns "branquelos" suecos (também inconfundíveis), também devidamente fantasiados.
Eu pensei... Trouxeram um grupo (profissional) do Brasil...   Mas não era nada disso.

O nome da Escola de Samba...   Pasmem... Unidos de Upsala.

Putz, Upsala... Nada mais "sueco", com direito a Universidade (mundialmente conhecida) e coisa e tal...

Mas,... E o samba enredo em português?

Ao conversar com eles, eu soube que a escola congregava amantes do Brasil, tanto elas quanto eles.
Muitos eram casais, formados uns por aqui e outros por lá.
Unidos em torno de um amor... Ou de vários.  ;)

Ah!
O samba...
Não no caso delas, é claro... Mas na maioria deles, era pura "decoreba".

Aí eu pensei, cantar samba enredo em português, com suas quilométricas letras, já não é para qualquer um... Imagine decorado.  ::)

Eu confesso que saí de lá meio que cantarolando por dentro... "Foi um rio que passou em minha vida..." (ou pelo menos lá na deles)  ;)


Agora,
Amigo Bruno, eu sei que faz tempo que o amigo não vem por aqui, embora mantenha os seus laços e parte da família aqui...

Mas,...
De certa forma, as coisas estão mudando, e será rápido.

A chamada "nova classe média", a tal "emergente" está mesmo emergindo...
Maior poder de compra e, a meu ver, principalmente maior "auto-estima", maior "visibilidade"...

A prova são algumas novelas, sempre de temas e situações totalmente "distorcidos", isto é bem verdade, mas sempre de certa maneira mostrando o que o "povo" quer ver.


Agora,...
Tem uma coisa...
O preconceito social, embora negado por alguns, sempre existiu por aqui.
Principalmente com os ricos "ignorando" ("esnobando") os pobres.

Mas, por algum tempo, que eu espero seja o mais curto possível, talvez nós ainda vejamos manifestações de preconceito social, e talvez nos dois sentidos.
Antes que, certamente, as coisas se acomodem e sigam como aí na França ou na Suécia.

Estas são meras visões minhas, é claro!  8)

Abraços!
Alberto

lucius

O Oceano, aquele físico de agua salgada, que separa o Brasil da França tem a mesma dimensão do abismo cultural que não une os dois paises.

A emergência da classe "C" tão falada é ainda uma emergência de consumo, afinal há uma demanda reprimida de séculos quanto a isto.

Mas sinto que com o que se tem agora em capital humano o país não conseguirá a médio prazo sair do buraco que se encontra do ponto de vista da educação, cultura e senso de cidadania.

Lucius
Corruptissima re publica plurimae leges

Alberto Ferreira

Citação de: lucius online 16 Abril 2012 às 11:01:46
... do ponto de vista da educação, cultura e senso de cidadania.

Lucius


Salve!

Sim, Lucius.
Esta é a chave.

Mas a fechadura, que esteve sempre em outras "portas" por aqui, para nossa decepção, nunca realmente (efetivamente) foi aberta por aquela chave de três faces.

Eu também vejo o futuro com certo "desânimo".
Talvez (ainda) não com total ceticismo, mas algo tem que ser feito, e já, pois já passou da hora.

Sob pena de, sem aqueles valores, voltarmos (ou continuarmos voltando, inexoravelmente) para as árvores.

E o consumo pode ser o "canto de uma sereia", mavioso para aqueles, mas apenas fugaz e "imediatista".
E logo a novela termina...

Sem que livros sejam lidos.

Abraços,
Alberto