Ajuda em identificar relógio de bolso

[GuilhermeLago]

Bom dia, amiigos.

Recebi esse pequeno (32mm) relógio de algibeira de um parente e gostaria de ajuda em identificá-lo.
Ele tem a caixa em prata com uma decoração "floral".

O mostrador não traz nenhuma inscrição, mas os ponteiros são azulados e há um guillochè no centro



Também não ji muita coisa no movimento - a ser que ele está com o balanço fora do lugar - tem uma inscrição SWISS. A platina cobre quase todo o movimento.



Agradeço a atenção de todos!
Bom feriado a todos!

Guilherme

[flávio]

Lago, como assim "balanço fora do lugar"?

Numa simples olhada, isso parece um daqueles relógios de baixo custo do fim do século 19, início do 20, com escapamento cilindro. O mostrador não é guilloche, mas provavelmente estampado.

O grande problema de relógios de baixo custo desta época, como os com escapamento por pinos (Roskopf), cilindro, etc, é que a determinação dos fabricantes dos ebauches é praticamente impossível! É que foram fabricados aos zilhões e por centenas de manufaturas.

Flávio

[GuilhermeLago]

Valeu, Flávio.
O balanço parece ter escapado, se é que não quebrou, na parte de baixo. Não está oscilando e, ao dar corda, os ponteiros giram soltos.
Bom, vai servir de laboratório, pois nunca tinha mexido em um escapamento desse tipo.

Abraço!

[flávio]

Breguet - o próprio - fez história com seus escapamentos de cilindro em rubi. Ele conseguia fazer mecanismos extremamente finos e precisos com tal escapamento. Mas sulcar o rubi (natural) não era algo tão simples e barato... Seus relógios eram bem caros. Tinham compensação por tira bimetálica, mais simples, mas eficaz. Mas o escapamento de cilindro em sua concepção metálica clássica é apenas "passável", por definição algo impossível de se alcançar precisão, porque a roda de escape está em permanente contato com o cilindro, o que gera muito atrito. Irá perceber o conceito ao desmontá-lo.


Flávio

[flávio]

Vou aproveitar esse tópico para relembrar aos novos, talvez, o conceito por trás busca por maior precisão nos escapamentos. O que se buscava (e se busca até hoje) é destacar o máximo possível o órgão regulador (o balanço), que de fato "mantém o tempo", daquilo que irá "contar" suas oscilações, o escapamento em si. Ou seja, quanto mais tempo o balanço girar livre de interferências, maior será a precisão do relógio (em teoria gente, pelo amor de minha mãe!).

O escapamento de cilindro, pois, não é lá uma "Brastemp".

Vejam nessa foto e animação como funciona. Há um entalhe num cilindro metálico que necessariamente deve estar sempre lubrificado. E a roda de escape está EM PERMANENTE CONTATO com o eixo do balanço, onde está o entalhe.

A animação é autoexplicativa:

http://www.angelfire.com/ut/horology/bcyl.html

Algo bem diferente ocorre naquele que ainda (sim, ainda, depois de 200 anos...) é por definição o modelo de escapamento mais preciso e que mantém mais tempo o balanço sem interferências do "resto" do relógio, o de cronômetro (ou detenção).

Vejam:

http://www.angelfire.com/ut/horology/bchrono.html

Não bastasse o impulso ocorrer numa fração de "segundos" (na verdade o conceito não é esse. Numa fração do "giro" do balanço), este só ocorre uma vez a cada oscilação COMPLETA do balanço, enquanto que em todos os relógios, mesmo atuais, isso ocorre há cada duas vezes.

O problema do escapamento de cronômetro é que todo o bloqueio do sistema, como devem ter percebido no desenho, é feito por uma alavanca sob tensão (ou compressão) tão fina quanto uma mola principal de relógio de pulso atual. Choques no sistema podem causar o que se chama de "tripping" (tropeçar, e essa palavra explica bem o que acontece), o avanço indesejado de mais do que um dente da roda de escape.

Portanto, o escapamento de cronômetro restou limitado aos cronômetros marítimos e deck watches (com honrosa exceção para o atual Urban Jurgensen Chronometer, que usa tal escapamento e nem sei se funciona a contento, porque nas "cabeças" da competição de observatório mais recente ele não ficou).


Flávio

[ogum777]

flavio, teria alguma animação do escamento de âncora?

eu gostei muito desse artigo, http://www.relogiosmecanicos.com.br/escapamento.html, mas uma animação ajudaria mais ainda a entender o relógio... hehehehe

[flávio]

Mesmo site, tem todos, mas mal feitos de dar dó os desenhos, conquanto tecnicamente perfeitos:

http://www.angelfire.com/ut/horology/escapement.html

Perfeitas as do Vyskocil:

http://www.clockwatch.de/index.html?html/tec/hem/a.htm

Flávio

[Carbonieri]

no post citado tem um video feito pelo Adriano que mostra bem o escape de ancora, abs
¨Pequenos vídeos do MIH - Musée International de H'Orlogerie de La Chaux-de-Fonds"

[ogum777]

Mesmo site, tem todos, mas mal feitos de dar dó os desenhos, conquanto tecnicamente perfeitos:

http://www.angelfire.com/ut/horology/escapement.html

Perfeitas as do Vyskocil:

http://www.clockwatch.de/index.html?html/tec/hem/a.htm

Flávio

obrigado, flavio!

no post citado tem um video feito pelo Adriano que mostra bem o escape de ancora, abs
¨Pequenos vídeos do MIH - Musée International de H'Orlogerie de La Chaux-de-Fonds"

carboieri, eu já tinha visto mas não tinha entendido direito.... mas obrigado, mesmo assim.

[flávio]

No site do Vyscocil, está em Theory. As animações dele são muito, mas muito top, inclusive de outros mecanismos, como anti choques.


Flávio

[ogum777]

No site do Vyscocil, está em Theory. As animações dele são muito, mas muito top, inclusive de outros mecanismos, como anti choques.


Flávio

obrigado, estou fuçando. mas agora uma pergunta: de quando é a patente do co-axial do daniels? já não teria caído em domínio público?

[flávio]

Salvo engano a patente original - não do modo que a Omega vem usando hoje - com certeza já expirou. O problema é que o escapamento Coaxial se tornou algo tão intrinsecamente vinculado à Omega que só algum fabricante sem noção tentaria fabricar sua versão e ser tachado de um usurpador copião.

Que eu saiba, somente o Roger Smith o usa em seus relógios, mesmo assim um modelo aperfeiçoado (segundo ele). A roda de escape de Roger Smith tem planos horizontais e verticais. Aqui:

http://www.rwsmithwatches.com/series/escapement/

O conceito, portanto, é conhecido e público. A Omega, em seus relógios, já usou algumas formas diferentes de rodas, até desenhos radicais, como a que equipa o 9300.

Ou seja, várias fábricas poderiam fazer sua versão, mas num mundo competitivo como o da relojoaria de luxo, as fábricas certamente não querem seu nome vinculado à concorrente que deu início a tudo. Seria dizer que seus relógios são inferiores, tanto é que acabaram copiando a Omega.


Flávio

[Alberto Ferreira]

Se eu não me engano, a patente original do Daniels é de 1980.

E por quanto tempo oficialmente, ou legalmente, persiste uma patente? No caso nós estamos falando de 34 anos...
Por outro lado, e independente deste prazo, eu acredito que se o projeto estiver em produção talvez a sua patente possa ser renovada.
Alguém sabe se é isso mesmo?

Quanto a já ser de "domínio público", e mesmo que fosse, eu penso como o Flávio.
Afinal, mesmo considerando as modificações feitas pela Omega, em tese o projeto em si é o mesmo.

Mas quem (em especial um suíço, ou "ocidental") iria bancar uma dessas?

Alberto

[ogum777]

na lei brasileira já expirou. o prazo é de 20 anos.

e já faz parte do estado da técnica. pequenas modificações não seriam patenteáveis.

do ponto de vista de marketing (não ser chamado de "copião" e etc...), acho que não interessa a uma rolex incorporar essa mudança. omega incorporou há tempos, naquele processo de reposicionamento da marca e dos produtos.

talvez seja incorporado por quem queira se afirmar no mercado por produzir algo de qualidade. não seria de se estranhar que pequenos fabricantes usem.

mas convenhamos. será que o usuário de relógio mecânico, com exceção de uns poucos, realmente pagaria a mais por esse detalhe no movimento? levando em conta que grande parte dos relógios mecânicos usam eta, miyota ou chinocas? alguém modificaria um eta 6497 para colocar esse escapamento?

não sei. talvez umpequeno fabricante o faça par apoder cobrar mais. mas quemjá tem produtos de venda consolidada (eta, miyota, e etc), pq modificaria seus workhorses baratos?

[michelim]

Se eu não me engano, a patente original do Daniels é de 1980.

E por quanto tempo oficialmente, ou legalmente, persiste uma patente? No caso nós estamos falando de 34 anos...
Por outro lado, e independente deste prazo, eu acredito que se o projeto estiver em produção talvez a sua patente possa ser renovada.
Alguém sabe se é isso mesmo?

Quanto a já ser de "domínio público", e mesmo que fosse, eu penso como o Flávio.
Afinal, mesmo considerando as modificações feitas pela Omega, em tese o projeto em si é o mesmo.

Mas quem (em especial um suíço, ou "ocidental") iria bancar uma dessas?

Alberto

Aqui a patente original, de 1980 e publicada em 84:
http://www.freepatentsonline.com/EP0018796B1.pdf

[flávio]

Essa vou imprimir para ler! 


Flávio

[igorschutz]

Você não tem o Watchmaking? Então nem precisa ler a patente. Está tudo lá.

[flavio]

Ver como ele explicou para os rôia do escritório de patentes. Flávio