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Omega Co-Axial: é mais sensível?

Iniciado por João de Deus, 24 Março 2014 às 11:19:08

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João de Deus

Pois é.
Estou com esta dúvida.
Os escapamentos co-axial utilizados pela Omega nos calibres 2500 e 8500 são mais sensíveis a pequenas batidas, vibrações e etc que os de âncora?
Obrigado.
João
João

flávio

Vou partir do pressuposto que leu e entendeu um texto que traduzi há séculos, o escapamento de âncora, no site principal. Em virtude dos ângulos aplicados nas levees do escapamento de âncora, há certa tendência de esta permanecer "travada" nos anteparos laterais até o desbloqueio do sistema. O princípio é este, eu não sei explicar além disso... Mas é tudo uma questão de ângulos no desenho aplicado no escapamento. Os primeiros escapamentos de âncora não possuíam "draw" e eram sensíveis a choques. Na época, os projetistas imaginavam que se inclinassem os planos do sistema para propiciar o "draw" faria com que ocorresse um recuo desnecessário antes do desbloqueio e que geraria atrito.

A grande vantagem do escapamento de cronômetro é o ângulo de impulso, tangencial. No entanto, para fazer com que o impulso ocorresse de forma tangencial, o bloqueio do sistema não podia ocorrer sem outro mecanismo adicional, no caso, uma frágil alavanca e mola de retenção.

O que Daniels tentou fazer então foi utilizar o excelente bloqueio do escapamento de âncora com o excelente impulso do escapamento de cronômetro. Mas aí a interação não poderia ocorrer de forma satisfatório se ele não dividisse as funções em duas rodas: você não conseguiria ter o melhor dos dois mundos com apenas uma roda, como no escapamento de âncora.

No escapamento coaxial, portanto, foi possível mudar os ângulos de encaixe das levees para cada função porque estas atuam em rodas coaxiais com função diversa.

Na teoria, portanto, o escapamento coaxial tem as vantagens do escapamento de cronômetro com impulso tangencial, mas bloqueio do sistema como no escapamento de âncora.

Pelo menos na LITERATURA não há notícia de "tripping", que é a liberação indesejada da roda de escape, que faria com que o relógio não fizesse tic, tac, mas tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiic tac, se deu para entender o que quis dizer...

Eu não sei se alguém na prática notou isso, mas acho difícil, até mesmo porque a Omega tem fabricado o sistema aos milhões e, hoje, já nem podemos dizer que se encontra em fase de testes, já é algo utilizado aos milhões no mercado.


flávio

flávio

Olha, convenhamos, essa minha explicação ficou uma merda, tem que ter muita imaginação para entender o que estou tentando falar. Quando chegar em casa publico uma foto que existe no livro do De Carle sobre o princípio, mas gostaria de pedir um favor para quem está na prática ou desmonta relógios por hobby.

Tentem filmar uma coisa para mim. Com a corda carregada, sem o balanço, tentem fazer um macro da âncora. Com um palitinho empurrem a âncora para o centro. Se ela não for empurrada até determinado ponto, ela voltará ao local de origem, porque há uma força em sentido contrário ao empurrão com o palitinho. Se empurrarem além de determinado ponto, a âncora se deslocará num supetão até o outro anteparo. O que mantém a estabilidade do sistema é essa força em sentido contrário até determinado ponto. Num choque, a alavanca não se desloca.

Isso é possível filmar, se alguém conseguir fazê-lo e postar aqui, agradeceria.

Flávio

Adriano

A explicação do Flávio está perfeita. Hoje os escapamentos são ainda mais precisos e portanto seguros. Para o bloqueio falhar, precisa ter um defeito grave. Isso é quase impossível hoje.

Hoje, o máximo que pode acontecer com o escapamento mediante uma porrada é ele dar reversão, e muito, muito raramente, quebrar o pivô do balanço. Isso é muito raro com antichoques. Porém é o próprio antichoques que faz o balanço subir tanto mediante um impacto, que faz com que o platô passe por cima dos cornos da âncora e aí pára tudo. Isso me parece um pouco mais difícil de acontecer com o co-axial. Eu pelo menos também nunca vi um co-axial com reversão. Mais frágil que o de âncora suíça não é. Tenho quase certeza.

Abraços!

Adriano

flávio

Achei a sequência de desenhos que queria publicada na net.

http://people.timezone.com/library/horologium/horologium631677355859784861

Percebam que o tal "draw" mantém a âncora junto do anteparo de um lado e de outro enquanto o balanço gira livre, sem contato com esta. O que ocasiona isso são os ângulos no sistema e, como disse, dá para ver isso ocorrendo se alguém conseguir filmar. Mas como devem ter percebido, tanto o bloqueio quanto impulso, no escapamento de âncora, acontecem nos planos da roda de escape (apenas uma) e nas levees (duas). Utilizando uma roda apenas (enfim, algo semelhante a um escapamento de âncora) e uma âncora, o projetista poderia "brincar" e conseguir um impulso quase tangencial. Mas ao alterar o ângulo de encaixe das levees para conseguir isso, você pioraria o bloqueio. Ou seja, o escapamento de âncora é um equilíbrio entre bom bloqueio e bom impulso, mas não se pode ter o melhor dos mundos, a não ser que você divida as funções entre levees e rodas diversas. Isso foi o buscado no coaxial. Como são rodas e levees diversas, dá para colocar os melhores ângulos para cada função.

Toscamente falando, isso é a síntese teórica do escapamento coaxial.

Flávio

João de Deus

Flávio,
Com as imagens deu para entender melhor.
Obrigado.
João
João

BigPaul


Neme

Abs.
Neme!

edson rangel

Citação de: flavio online 24 Março 2014 às 12:22:36
Vou partir do pressuposto que leu e entendeu um texto que traduzi há séculos, o escapamento de âncora, no site principal. Em virtude dos ângulos aplicados nas levees do escapamento de âncora, há certa tendência de esta permanecer "travada" nos anteparos laterais até o desbloqueio do sistema. O princípio é este, eu não sei explicar além disso... Mas é tudo uma questão de ângulos no desenho aplicado no escapamento. Os primeiros escapamentos de âncora não possuíam "draw" e eram sensíveis a choques. Na época, os projetistas imaginavam que se inclinassem os planos do sistema para propiciar o "draw" faria com que ocorresse um recuo desnecessário antes do desbloqueio e que geraria atrito.

A grande vantagem do escapamento de cronômetro é o ângulo de impulso, tangencial. No entanto, para fazer com que o impulso ocorresse de forma tangencial, o bloqueio do sistema não podia ocorrer sem outro mecanismo adicional, no caso, uma frágil alavanca e mola de retenção.

O que Daniels tentou fazer então foi utilizar o excelente bloqueio do escapamento de âncora com o excelente impulso do escapamento de cronômetro. Mas aí a interação não poderia ocorrer de forma satisfatório se ele não dividisse as funções em duas rodas: você não conseguiria ter o melhor dos dois mundos com apenas uma roda, como no escapamento de âncora.

No escapamento coaxial, portanto, foi possível mudar os ângulos de encaixe das levees para cada função porque estas atuam em rodas coaxiais com função diversa.

Na teoria, portanto, o escapamento coaxial tem as vantagens do escapamento de cronômetro com impulso tangencial, mas bloqueio do sistema como no escapamento de âncora.

Pelo menos na LITERATURA não há notícia de "tripping", que é a liberação indesejada da roda de escape, que faria com que o relógio não fizesse tic, tac, mas tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiic tac, se deu para entender o que quis dizer...

Eu não sei se alguém na prática notou isso, mas acho difícil, até mesmo porque a Omega tem fabricado o sistema aos milhões e, hoje, já nem podemos dizer que se encontra em fase de testes, já é algo utilizado aos milhões no mercado.


flávio


Muito bom!!!!
FIQUEM  TODOS NA PAZ DE DEUS !!!!