Belo trabalho! (Restauração de um Le Coultre)

Se o cabra riscasse algum relógio meu, pergutar-lhe-ia se podia riscar sua cara com uma faca!

Eh... Dedeira para mim é passável, o povo "das antigas" não usava isso. Tudo bem Adriano, não é o serviço guided by the book, mas os caras nunca usaram dedeiras no passado e ninguém morreu de câncer por isso!  Aliás, duvido que o George Daniels tenha descoberto na sua vida do que se tratavam. 

Flávio

Sim, não usavam no passado, por isso hoje é raro encontrar um vintage que não tenha uma digital "impressa" numa ponte ou numa platina, lá, eternizada, pois não sai nunca mais.

E eu ficaria muito mais puto em encontrar digitais no mecanismo do meu relógio do que, por exemplo, a própria anotação feita com riscos, escondido na tampa traseira.

O cara demonstra ser profissa. A máquina de lavar dele é uma Greiner ACS 900, não é coisa de amador. Mas que poderia ter usado a dedeira, poderia. Ou ele passa o dia mergulhando os dedos no álcool ou benzina para tirar a gordura. Acho mais fácil usar a dedeira.

Comprar um relógio do Daniels com uma marcha de sua digital eternizada debaixo do mostrador é um "plus", mas olhar para a tampa de fundo transparente do seu Planet Ocean 8500 e ver a digital do "Joãozinho" no rotor, é foda, convenhamos.

Uma das coisas que mudou no âmbito da manutenção é o capricho com o mecanismo, com a apresentação do serviço no mecanismo também. Antigamente, sem fundos transparentes, ligava-se menos em marcar parafusos, riscar peças... hoje a coisa é diferente, o cuidado com isso é muito maior, as opções de ferramentas que evitam esses problemas hoje é enorme. Não batiam tanto nessa tecla antigamente como bate-se hoje na hora de treinar um relojoeiro.

Abraços!

Adriano

Eu sempre vejo umas restaurações que observo o relógio e penso, OK mas não ficou como novo. Neste caso achei melhor do 90% das demonstrações que vejo por aí em fóruns, não sei se é o normal e as que vejo são muito "meia boca" e descompromissadas, mas ficaria bastante feliz com o resultado demonstrado.

+ 1

Primeiro, agradeço ao amigo Solano pela postagem do tópico!!! Muito bom... e bom te ver por aqui novamente...
Depois, para um Fórum que se propõe a discutir relógios, tópicos como esse, onde se demonstram manutenções as mais variadas, somente nos enriquecem, pois demonstram como foi feito o restauro, formas certas e não tão certas de se fazer algo, comparações do tipo - o mostrador ficou bom? Melhor que na Sarica? - e por aí vai!!!
Creio que quantas postagens desse tipo forem feitas, melhor será!!!
Abraço
Paulo Sergio

Acho esse tipo de tópico dos mais legais que tem!

Obrigado por compartilhar!!

Olá meus caros foristas, é bem provável de que venha ser apedrejado depois do que vou dizer: O trabalho foi bom?  Para mim não, numa máquina destas, se não usar luvas (dedeiras como citou o Adriano), realmente fica um serviço meia boca.
Se um relojoeiro fizer de proposito riscos(gravações) na platina, tampa, de qualquer relógio meu, tem briga na certa; e olhe não estou nem falando de J.L., Rolex, ou outro de igual expressão, estou falando de meus Orient, Seiko, e Omegas.
Se ele quiser gravar algo, ainda permito, se for com uma caneta(aquela tipo pincel atômico) de ponta extra fina, na parte interna do fundo, que com um banho de solvente pode ser removida.
Isto parece aquelas coisas, que vemos quando vamos a algum lugar e está escrito numa arvore, porta de banheiro, parede de gruta : GUSTAVO PASSOU POR AQUI 01/01/1901.  Tem coisa mais ridícula que isto?
Em ambas situações, lugares/peça, ficam conspurcados por irresponsabilidade de alguém, e o pior, feito propositalmente.
Se tivesse de dar nota para o trabalho do relojoeiro, não seria mais de 5, numa escala de 1 à 10.
O trabalho se desenvolveu bem, e o resultado foi muito bom, mas estas duas falhas, acabaram com todo o brilho que no final a peça deveria ter. Isto é mais ou menos como colocar sua digital na lente duma máquina fotográfica, não tem mais conserto...

Um grande abraço


Flavio

Falco, a primeira vez que vi um movimento mecânico na mão fiquei babando igual um idiota, e era um simples 7750. Hoje eu vejo um treco desses e penso "grandes merdas"...
Então vejo os elogios mais ou menos por aí. Quem não está acostumado, quando vê um serviço bem feito se empolga; quem está acostumado, esse é o arroz com feijão.

entendi, valeu!   

Eu sempre vejo umas restaurações que observo o relógio e penso, OK mas não ficou como novo. Neste caso achei melhor do 90% das demonstrações que vejo por aí em fóruns, não sei se é o normal e as que vejo são muito "meia boca" e descompromissadas, mas ficaria bastante feliz com o resultado demonstrado.

Arthur, eu queria ver fotos melhores desta restauração, concordo que a maioria do que vemos, principalmente aqui no Brasil, é abaixo do aceitável, mas eu tenho minhas dúvidas do "como novo" desta aí, acho que, nas mãos, não está deste modo. Pode estar ótimo, na opinião de cada um, mas não parece novo. Veja a foto abaixo:

Pelo contrário, concordo com a opinião, tanto é que no meu primeiro post já fui sarcástico.

O que o cara fez foi uma simples revisão. Ele limpou e lubrificou tudo e mandou restaurar o mostrador. Parece muita coisa, mas não é. Vão rir da minha cara, mas o que ele fez (visualmente falando, entenda-se), até eu faria. Sim, faria mesmo, porque sem falsa modéstia, na época em que me aventurava a desmontar e remontar relógios (isso faz mais de uma década...), demonstrava até certa habilidade. 

Eu nunca soube ajustar relógios, mas dentro do que eu me propus a fazer na época - ver com meus próprios olhos o que apenas enxergava em fotos - , valeu a pena.

Mas gostaria de complementar algo sobre as dedeiras. Eu usava em alguns momentos (pegava luvas de cirurgia e cortava seus dedos, funciona que é uma beleza!), mas muito mais pela facilidade de poder tocar peças que eu não tocaria nunca "descoberto" do que pela preocupação em manchar o mecanismo, e explico. Convenhamos, o relojoeiro tem que ser MUITO ÔREIA SECA para meter o dedo no centro do movimento, mas muito! Nem eu que apenas desmontava relógios tive a capacidade de fazer isso nas minhas brincadeiras de quebra cabeça. Eu segurava o movimento pela lateral e, mesmo assim, somente no momento de colocá-lo no porta mecanismo e depois retirá-lo.

Vejam, não discordo de modo algum do Adriano. No mundo profissional, se existe a dedeira, esta deve ser usada. Toda oficina profissional deve usar. No entanto, reputo como de uma ôreiasequisse sem tamanho o relojoeiro que, mesmo sem dedeiras, mete o dedo no mecanismo.


Flávio

Sim, tem que ser muito tosco para meter o dedão em cima da máquina, mesmo com dedeira. Mas são diversas as operações nas quais precisa-se usar os dedos não somente na lateral da máquina. Inclusive para manusear o mostrador ou o mecanismo já com mostrador. Os meus dedos, pelo menos, se eu fizer isso, fica a gordura da digital na hora. É impossível você pegar do lado de uma máquina com os dedos sem encostar no mostrador junto, nem que seja bem na borda.

Vamos ilustrar:

O que acontece com um tambor manipulado assim? Você vê fácil fácil um tambor na maioria dos mecanismos. Se tiver fundo transparente, você vai ver a marca da digital lá. Pode ser que não hoje, nem daqui um mês, mas daqui uns 3 anos ela apareça, e aí, não sai nunca mais.



Estrapada? Espero que tenha um bom motivo para não ter usado estrapada. Pois ter, ele tem que ter, não é possível que uma oficina que tem uma lavadora ACS 900 não tenha um joguinho de estrapada.



E vamos indo:



Se eu fizer isso com qualquer mostrador, deixo minha digital. Se for um mostrador com acabamento brilhante, bem envernizado então...






Em tempos passados apareceria gente dizendo que o relojoeiro é humilde, que não tem condições de ter ferramentas, etc. Não é o caso. Vejam a lavadora e a politriz do cabra. E o torno. Faz um monte de procedimentos impecáveis, mas de repente não usa a dedeira. Isso é mal hábito, simplesmente. O que acho que é pior. Quando o cara faz lambança do começo ao fim, dedeiras é a última coisa que você vai esperar. Mas o cara faz tudo aparentemente legal e profissional, e derrapa nesse detalhezinho, mas que é fundamental no capricho do serviço e respeito com o objeto alheio.

E não importa se é antigo, se já está manchado, se não tem fundo transparente. O bom hábito você tem que praticar para tudo o que for fazer. Se fizer isso quando mexer com relógio de US$ 50,00, quando for mexer com alta relojoaria, está 100% habituado à essas práticas.

Abraços!

Adriano

E esse toque na lateral do mostrador, na minha humilde opinião, pode ser mais nocivo do que no centro dele. Explico.

Na parte central, o efeito será estético, vai aparecer a macha de gordura da digital, mas há relativa cobertura de tinta e verniz.

Mas na borda geralmente os mostradores têm pouca tinta, ou simplesmente não tem. De todos que já vi até hoje (tudo bem, Seikos e Orients) a borda do mostrador sempre está quase descoberta de tinta.

O toque dos dedos pode dar início a um processo de oxidação, por baixo da tinta.

Já repararam que as manchas nos mostradores vintage quase sempre se localizam nas bordas? Não é acaso.

Abraços,

Jefferson

Jefferson, isso é verdade. Aliás, meu único relógio com pequenas (tem que olhar muito!) manchas de oxidação, um Cricket fabricado em 1997, é justamente onde falou.

E tem outra. A "bordinha" do mostrador normalmente é latão "no osso", enquanto movimentos são folheados a ródio, ouro, etc, o que evita oxidação.


Flávio

Olá meus caros foristas; é isto ai Jefferson, não tendo este cuidado de não contaminar o interior do relógio, começa na verdade, neste momento a deterioração do mecanismo. O individuo pensa que restaurou o relógio, mas no fim das contas ele somente adiantou o processo do fim dele.
Não querendo comparar, mas é como fazer uma cirurgia num campo aberto, sem esterilização, sem luvas; por melhor e mais perfeita que seja, o paciente pode ter inúmeras sequelas da falta de higiene e contaminação que sofreu.
No caso especifico do mostrador, já vi inúmeros com a tal borda lascada. Inclusive deixei de comprar um Seiko Crono, por ter o mostrador com o início nas bordas do mostrador deste processo tão prejudicial; se comprar terei de mandar para a Sarica, porque começou na borda e em alguns lugares já destruiu a escala, e está alcançando os numerais.
Por isso disse que daria uma nota 5 para este 'belo trabalho'. ELE FEZ A CIRURGIA EM CAMPO ABERTO, SEM ESTERILIZAÇÃO E SEM LUVAS.
Esse problema como disse o Adriano, não aparece de imediato, mas sempre quando aparece é muito tarde para fazer qualquer coisa; o mostrador já começou a levantar a tinta, o interior começou a oxidar.
Portanto todo cuidado é bom, principalmente se quisermos fazer um trabalho perfeito, mesmo sendo o básico feijão com arroz.

Um abraço à todos

Flavio

Excelente trabalho realmente. Guardei para futura consultas.

Vejam amigos: 

http://www.youtube.com/watch?v=qtgAJBPPefM

Abraço
Paulo Sergio

Vejam amigos: 

http://www.youtube.com/watch?v=qtgAJBPPefM

Abraço
Paulo Sergio

Até onde se pode ver, esse caboclo sim foi mega-profissa. Percebo por pequenos detalhes: o cara lubrificou o clique e o keyless absurdamente "by-the-book", em pontos normalmente negligenciados por muito profissional, mesmo experientes. E vi claramente que o cara usou a graxa correta (Moebius 9504 ou Jismaa 124) para o keyless, perceptível pela cor azul.

Tem que ser não só experiente, como estudioso, pois demonstra que o cara conhece o manual técnico. E demonstrou manusear todas as peças da maneira correta.

Abraços!

Adriano

 

 

Abraço
Paulo Sergio

Bacana o canal deste relojoeiro, há vários vídeos!


Flávio

Tô vendo os vídeos deste cara direto ... gostei mesmo. Tem muita coisa boa no canal dele. Lasca é que o ouvido véio não entende bem o inglês, mas sou teimoso, kkk.