Exato Flávio! Essa foto do Odets mostra a marca feita na fábrica para acerta o balanceamento desse aro. Desde a adoção dos balanços monometálicos, é raríssimo precisar balancear um balanço, pois eles vêm de fábrica já praticamente perfeitos, especialmente os de boa qualidade. Ou seja, se num movimento moderno você tem um problema de variação grande entre posições verticais, tudo indica que a última hipótese seja um balanço desbalanceado.
Mas se for o caso, a única solução é retirar material do lado pesado, usando uma broquinha bem fina, fazendo uma pequena marquinha, que mal chega a ser um furo, apenas um arranhãozinho, na lateral do aro ou embaixo dele (por motivos estéticos). Isso mal chega a alterar a massa do balanço e por isso você não tem alteração da frequência. Nos balanços mais antigos, parafusados ou rebitados, você tem a opção de adicionar peso colocando uma arruela entre o parafuso e o aro, ou fazendo um furinho no rebite.
Uma tragédia que costuma-se ver é: o cara tenta fazer o balanceamento e tira material demais, aí desbalanceia mais ainda e tenta corrigir tirando mais material do outro lado, aí denovo vai demais e vai tirando, tirando... resultado? O balanço fica mais leve, a frequência cai e para compensar o cara mete o regulador na posição máxima ou, se o piton permitir, o cara encurta a espiral... e aí já viu. Outra aberração que já vi em balanços parafusados é o cara arrancar parafusos ou colocar um pingo de solda no balanço. A idéia do cara é que, provavelmente o balanço não dá regulagem, pois o regulador passa da escala do regulador (obviamente por outro motivo, pois balanços não mudar de frequência sozinhos, ou não perdem ou ganham massa sozinho) e ao invés de ir buscar a fonte do problema, simplesmente mete ou retira peso do balanço. Aí imagina, além de causar um dano irreversível, ainda desbalanceia mais ainda o aro.
Voltando ao procedimento que seria correto: se você de fato está certo de que todos os parâmetro estão corretos, e que a grande diferença de marcha e amplitude entre posições verticais é por conta de um desbalanceamento, você tem que primeiro se certificar de que o balanço está perfeitamente redondo e plano. Isso você consegue observar com ele funcionando. Estando ok, você desmonta ele todo, retira espiral, mas mantém o eixo, e coloca nesta ferramenta:
http://www.tp178.com/jd/watch-school/5/poising-tool-013.jpgCom os eixos apoiados naquelas lâminas de rubis, o lado mais pesado do balanço vai pender para baixo. Pronto. Você descobriu o desbalanceamento e basta retirar material naquele ponto. Está feito o balanceamento estático. Isso garante pelo menos que o erro não provém do aro do balanço. Mas uma vez montada a espiral, mesmo ela também estando perfeitamente concêntrica e plana, e os pinos do regulador estando bem ajustados, a centralidade correta entre eles, você ainda vai ter um pequeno desbalanceamento. Não fosse assim, as marchas verticais seriam idênticas em todas as posições e em qualquer regime de amplitudes. Sabemos que não é. Mas um desvio é aceitável, tem que ser aceitável. Agora, se você mesmo sabendo que tudo está correto com tudo montado, e ainda assim você tem um isocronismo ruim, notando que as marchas verticais são instáveis ou que até sejam semelhantes num instante, mas que mudam completamente num outro regime de amplitude, você pode ter que partir para um balanceamento dinâmico.
Isso se faz com tudo montado e o relógio funcionando, com o auxílio de um cronocomparador (Witshci, Vibrograf). Você pega o mecanismo sem corda, observa bem a posição de repouso do balanço e começa a dar corda nele até ele funcionar, na vertical com uma amplitude de 180º, ou seja, uma volta completa (pois ele gira 180º para cada lado). Você vai mudando as posições em 90º, ou seja, começa por exemplo com coroa para cima, muda para coroa para a direita, depois para baixo, depois para a esquerda e vê em qual posição a marcha é mais rápida. Essa posição pode inclusive não ser perfeitamente com a coroa, digamos, para cima, mas sim com ela apontando para as 4 horas. Que seja, você tem que identificar qual a posição mais rápida com amplitude de 180º. Quando isso acontecer, saberá que nessa posição o lado mais pesado do balanço completo está para baixo. Você pode conferir isso dando mais corda e fazendo ele ir para uma volta e meia de giro, ou seja, 270º de amplitude. Nessa condição de amplitude o efeito é o oposto, ou seja, na marcha mais rápida, o ponto mais pesado está em cima.
Identificado o ponto pesado com tudo montado, você vai lá e retira material daquele ponto. Com relógios mais antigos, com frequência mais baixa e balanços mais pesados, você consegue conferir isso a 180º e a 270º, mas parece que com relógios de frequência mais alta ou balanços mais leves, isso fica bem mais pronunciado aos 180º por isso é preferível se basear na conferência a 180º.
Feito isso e, sendo isso mesmo a fonte da falta de isocronismo, voilà! Você terá um ajuste bacaninha, mantendo marchas próximas em diferentes condições de amplitude, um relógio redondinho.
Mas isso é coisa para relojoeiro top, top mesmo.
Abraços!
Adriano