Guilherme, vou tentar ser objetivo e, quiça, lançar questionamentos para outras discussões. No passado, os reis da cronometria foram os Ingleses. E o acabamento VISUAL de um relógio inglês, mesmo dos mestres como Graham, Arnold, Earnshaw e, depois, os construtores profissionais em massa de cronômetros, como Dent, era espartano se comparado aos suíços. Os suíços é que primavam por frescura visual nos relógios. Veja, não estou dizendo que os ingleses não fizessem isso, mas que a escola era outra. Inglês queria o relógio funcionando da melhor maneira possível. Entre um patinho feio fazendo uma marcha constante de um segundo ao dia e outro, cheio de firulas, fazendo 1.1, os ingleses escolheriam o primeiro.
Mas os suíços, depois que dominaram todo mercado, já nos fins do século XIX, incorporaram às suas belíssimas criações o desenvolvimento voltado à cronometria, sobretudo nas ligas, projetos, etc, usados em partes funcionais.
Se você observar as propagandas das marcas até os anos 60, a ênfase era no relógio mais preciso do mundo. Ninguém falava em acabamento, isso era um plus. O que interessava mesmo era o relógio botar para quebrar nas competições de observatório, até mesmo porque os movimentos, para o consumidor, sequer ficavam expostos com um cristal de safira atrás. Portanto, esse lance de acabamento primoroso à mostra é muito mais algo moderno do que do passado, muito embora as fábricas não buscassem se descurar disso.
O acabamento de um Rolex no movimento não é lá uma Brastemp, mas como já ressaltei aqui, eles possuem UM PUTA ESCAPAMENTO que mantém excelente precisão constante e é muito robusto. Se existe uma marca que fez toda sua história no ACABAMENTO FUNCIONAL, é a Rolex. Aliás, os rolequeiros provavelmente não gostariam de ouvir isso, mas a filosofia da Rolex até algum tempo atrás era bem parecida com a da atual Grand Seiko: olha, nós fazemos coisas clássicas, com acabamento de caixa perfeito, porque é isso que todo mundo vê, e... Fazemos os relógios mecânicos mais precisos do mundo, e foda-se o acabamento do movimento (que no caso da Seiko, só é primoroso mesmo nas partes funcionais, leia-se, escapamento).
Mas voltando ao que perguntou. Eu ouso dizer que numa produção em massa e feita por robôs, se extremamente bem feita como numa Rolex ou Omega, a tendência é o relógio ser melhor tecnicamente falando. Cara, atingimos um nível de precisão, sobretudo com técnicas de impressão de circuitos utilizadas em peças metálicas, como a roda de escape coaxial, sequer imaginado há uns 30 anos. Sequer imaginado! Estou lendo a biografia do Daniels e, acredito, apesar de ele ser o mestre do "tudo feito a mão", que ele deve ter ficado chocado até onde sua tecnologia chegou.
Os movimentos Audemars Piguet foram citados acima como exemplo de bom acabamento e de funcionalidade nem tanto. Olha, o Adriano tem mais embasamento do que eu porque está na prática, eu apenas na teoria, mas ele talvez possa confirmar: o 3120 da AP tem um histórico de defeitos de funcionamento que só posso atribuir a algum erro de projeto. De que adianta um troço bonito que não funciona? Citaram a Patek. Ora, hoje tive e mãos um Omega AT calendário anual e... Tudo se ajusta nele pela coroa, enquanto um Patek precisa de "palitinhos" de dente no seu calendário anual. De que adianta um troço ultra bem feito nada funcional?
Fabricar movimentos protótipos e vendê-los depois de fazer apenas uns 50, a centenas de milhares de dólares para uma pessoa é fácil. Difícil é fabricar um movimento trator que funcione do modo que esperamos em todo relógio, abstraindo se mecânico ou não: sem dar pau, com manutenção em prazos longos e com boa precisão. Isso é muito difícil.
Talvez por isso a Rolex vá atualizar os 3XXX até o limite, como a Porsche fez com seus obsoletos motores a ar, até não dar mais. Aí mudarão, para algo refrigerado a água, algo que a Omega já fez. Tecnicamente falando, no mercado atual os movimentos da Omega estão num patamar superior, e falo isso com tranquilidade. A única coisa que faltava à Omega era a confirmação de fiabilidade de seus novos projetos e, depois de alguns anos, parecem ter se encontrado. Mas a Rolex, já que citaram o movimento deles, certamente não irá ficar para trás e tirará, como vem tirando a conta gotas nas atualizações TÉCNICAS, não estéticas de seus movimentos, um coelho da cartola. Ninguém quer ficar para trás. Como diz um chapa meu de BH, "ninguém quer ser feio. Você quer?"
Flávio